Não revisado, mas feito com carinho. Boa leitura.
Carta 3, Dia 05 de Abril, Crisália
Lara,
Se lembra da primeira vez que fomos na praia?
Você correu até o mar, afundou suas pequenas mãos na água e puxou-as para cima, esperando que seus dedos pudessem conter toda aquela imensidão. Mas não puderam e você chorou por isso; foi preciso que seu pai fosse até uma loja comprar um balde de construir castelo de areia. Quando colocou a água salgada dentro do balde, você sorriu, dizendo que agora era dona do mar.
A liberdade é como o mar, filha.
Misteriosa, bonita, desejável. Ela é tudo aquilo que sonhamos desde crianças, que almejamos quando jovens e que nem sempre é tão encantadora quando adultos.E o maior problema em querer conter a liberdade quando não temos um balde – estabilidade – é que nem sempre sabemos nadar nela quando a obtemos. E dói enfrentar o mar sem saber nadar.
Quando saí da casa dos meus pais, eu só consegui pensar que estava segurando minha liberdade nas mãos e que não queria perdê-la. Mesmo assim, uma dúvida ainda martelava na minha cabeça: como não temer o mar quando se sabe quais criaturas habitam o fundo dele?
No meu mar de liberdade, havia insegurança, medo e estabilidade emocional e financeira para conquistar. E por tudo isso, eu temia.
Por mais feliz e radiante que estivesse, eu ainda tinha receio. Temia que o mundo fora das quatro paredes do meu quarto fosse duro demais, como eu sabia que era. Temia que a saudade me fizesse desistir em algum ponto, porém, principalmente, temia não pode sorver mais da liberdade que meus lábios estavam provando.
Me doeu ver sua avó chorando, pedindo que eu não demorasse a visitá-los, só que apesar da vontade de dizer a ela que iria no outro dia e ficaria até tarde conversando amenidades, não há vontade de voltar para o ninho quando se bate as asas, ao menos não antes de experimentar o vento no rosto e sentir que pode alcançar altitudes inalcançáveis.
E eu sei que me entende, Lara, você também alçou voou, e embora a saudade me acompanhe, não tenho o direito de pedir que volte. Seu futuro e sua vida agora estão aí, em Paris, da mesma forma que o meu estava naquele edifício.
Quando parei em frente ao meu novo lar, a sensação que me invadiu foi de carinho. Não havia sido eu a fechar o negócio, mas meu irmão e meu pai tinham me falado bastante sobre o local, sempre afirmando que eu iria amar, e eles estavam certo. Eu mal havia entrado e já me sentia parte dele. Era meu novo lar, afinal.
Foi também com carinho que fitei a pulseira fina com um pingente de J presa ao meu pulso, me lembrando do dia em que a ganhei.
Mamãe e papai haviam feito um café da manhã maravilhoso como despedida e presente de aniversário de 19 anos; e foi nesse encontro familiar que me entregaram essa joia e uma cópia da chave do apartamento.
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Escreva Em Mim (RESCREVENDO)
RomanceLara, todos temos medos. Tenho medo de que você não seja feliz, de não pegar meus netos no colo, de deixar o seu pai sozinho. Porém, o que seríamos se deixássemos o medo nos guiar? E, principalmente, o que sobraria de nós se ele fosse o nosso únic...