♦ Carta 4 ♦ De Lara para Júlia ♦

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Não revisado, mas feito com carinho e espero que vocês gostem.

Carta 4, dia 08 de Abril de 2046, Paris

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Carta 4, dia 08 de Abril de 2046, Paris

Mãe,

Sei que você é a melhor mãe do mundo, e é exatamente por isso que precisava sair, encarar meus medos sozinha, ver como o mundo é de verdade, sem a sua proteção me alcançando. Eu estou bem aqui, mesmo.

E sim, mãe, eu me apaixonei por uma moça francesa de cabelos escuros e olhos castanho tão lindos chamada Elisa, isso em menos de um mês. Logo eu que dizia que nunca me apaixonaria por ninguém que morasse longe... Eu deveria saber que algo assim iria acontecer. Talvez, eu desejasse isso. Nunca me senti ligada a ninguém daí, nem mulher ou homem. Com Isa as coisas são diferentes, mais humanas, menos pop stars, máquinas, hologramas. Ela me encanta por tudo isso, mas me assusta também. Ambas sabemos que terá uma partida logo.

Agora sabe o meu medo, mamãe. Eu não quero amá-la e depois ter que a deixar ou, pior, ter que fazê-la ou me fazer escolher entre um amor e o nosso lar.

Você sabe que não pretendo ficar aqui, mãe. Por mais que esteja aprendendo a amar esse lugar, esse bairro boêmio onde habito agora, sinto falta daí; da minha vida com vocês; sinto falta de dar risada junto do papai quando ele conta uma piada sem graça; de abraçar todos vocês; de contar meu dia para a Isabella sem ter que medir as palavras para não ficar cansativo.

E, sobre o afastamento do mundo virtual... Sabe que eu sempre gostei mais do contato humano, do calor de gente real ou, nesse caso, do contato pele com papel, e já estava bem cansada de todo o assédio, de tanta gente querendo saber onde fui, para onde vou, quando volto.

Quando, aos quinze anos, eu postei um vídeo cantando, e você me disse que eu faria sucesso, eu nunca imaginaria que isso me perseguiria de uma forma tão negativa, mãe. E foi por isso que eu vi para longe e sumi da Internet, e sei que você já sabe disso, mas precisava dizer para ter certeza que não estou sendo injustiça e egoísta, afinal, por mais que existam as críticas, ainda há pessoas que me apoiam de verdade; só que, em meio a tanta preconceito e ignorância, fica difícil não se sentir mal, mãe. O pior é que mesmo assim, sinto que estou sendo cruel com aqueles que me apoiaram, que estão preocupados comigo. Eles são meus fãs, droga!

Eu deveria ficar contente com tanta procura e não dar atenção as pessoas ruins, não é, mamãe? Então porque eu quero chorar sempre que vejo tanta gente me procurando como se eu fosse a solução para os seus problemas e outras tantas me xingando por ser quem sou? Eu não sei lidar com tudo isso mais, mamãe.

Era assim na sua geração, mãe? Porque eu não consigo olhar para tudo isso hoje e pensar que antes poderia ser pior. Deveria ser insuportável viver cercado de tanto ódio. Hoje, ao menos, essas pessoas respondem pelo que falam; ao menos, elas falam sabendo que serão punidas. E antes, mãe? Era normal alguém xingar outra pessoa por ser gorda? Era normal menosprezar outra pessoa por ser negra? Por ser mulher? Por ter uma orientação diferente? Eu não consigo me imaginar vivendo nessa geração. Eu preferia morrer a respirar no meio de tanta injustiça, mãe. Como a sua geração sobreviveu a tudo isso?

Eu sei que já falamos sobre o passado várias e várias vezes, sei que você me ensinou que eu não sou menos que ninguém por ser uma mulher negra, sei de tudo isso, mas me dói tanto saber que outras mulheres negras, gordas, trans sofreram e ainda sofrem. Quantos milênios mais a sociedade vai precisar para entender que somos iguais?

Antes que eu comece a chorar...

Voltando para a sua segunda carta, mãe.

Eu ainda não a li toda. Estava ocupada com um trabalho da faculdade. Pretendo ler na madrugada. Mas eu lembro sim daquele dia na praia. Eu deveria ter uns seis anos, não é? Como era birrenta, Deus!

E obrigada, mãe, por me contar sua história com o papai. Eu sei que mexer no passado traz dores mesmo, por isso, e por amor a você, caso não queira lembrar, tudo bem. Eu vim para cá foi justamente para aprender a lidar sozinha comigo mesmo, não é?

De qualquer forma, eu te amo, mãe.

De sua filha,

Lara.

Nota da autora:

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Nota da autora:

E aí, gente, o que andam sentido com as cartinhas da Lara e da Júlia? Gostando?

Não esqueçam do votinho e de deixar um comentário se achar que a história merece. <3


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