É um dia negro em 2199.
Na linha do horizonte sempre crepuscular, diversas formas bizarras cruzam o céu nublado sobre os campos repletos de cápsulas transparentes com humanos dentro. Você se lembra de sua câmara matricial.
Você não consegue ver as formas bizarras voadoras em detalhes. Não a uma distância tão grande.
Você agora é apenas uma pessoa comum.
Assim como o homem ao seu lado na superfície da terra devastada. Que se aproxima devagar e lhe estende a mão em cumprimento.
— Meu nome é Bruce. — ele diz.
Você não estende a mão.
— Me diga o que estou pensando. — você diz.
— Não posso. — o outro responde, olhando fixo para as formas bizarras ao longe — Você está fora da Matrix.
— O que é a Matrix?— A Matrix — Bruce finalmente responde, dentro da Oneiros, na segurança dos subterrâneos — é uma realidade consensual na qual a maior parte da humanidade vive hoje.
— Ou seja, o mundo. — você diz.
— Não. — retruca Bruce, fazendo um gesto que abrange o espaço ao seu redor — O mundo é isto. O mundo é o que eu mostrei a você lá fora. A Matrix é uma simulação de como o mundo era há muito tempo.
— Quanto tempo?
— Tempo demais.
É o que parece, embora você não queira admitir. Toda a sua musculatura dói. Parece que você ficou de cama num hospital por anos.
— Você pode estar se perguntando como o seu corpo todo dói tanto. — Bruce comenta.
— Pensei que não podia mais ler meus pensamentos. — você diz, com ironia.
— E não posso. Estou supondo que você esteja pensando nisso porque passei pela mesma coisa que você. Eu e todos aqui.
Então você se lembra.
— Você é Bruce Wayne, o milionário de Gotham City. Dado como desaparecido há anos.
Bruce confirma com um aceno de cabeça.
— Eu vi a luz. — diz, sem esconder a ironia.
Antes que você possa responder, as luzes da Oneiros se apagam. Você ouve um grito de alerta vindo da proa da nave.
Batedores se aproximando.
— Depressa! — você sente a mão de Bruce no seu ombro — Vamos para o bunker. Você vai ficar em segurança lá.
— Não. — é tudo o que você diz. E se esquiva da mão do outro com um safanão.
Você acha o caminho para a proa da nave com relativa facilidade. Seus olhos não conseguem mais enxergar no escuro como antes, mas seu senso de orientação e sua memória fotográfica continuam funcionando. Bem como a velocidade de seu raciocínio.
Em apenas uma saída, você já decorou a posição da escotilha externa da nave. Antes que Bruce consiga fazer alguma coisa, você já chegou à parte mais recuada da proa e sobe a escada metálica que leva ao andar de cima.
E abre a escotilha.
O impacto de metal sobre a sua carne é rápido e devastador. Só não é pior porque, no exato instante em que os tentáculos do batedor atingem seu braço direito, um tênue brilho azulado preenche a nave de cabo a rabo, junto com um zumbido quase subliminar. E a coisa metálica cai inerte ao seu lado. Junto com você. Há cheiro de sangue no ar.
— Idiota! — você ouve a voz de Bruce dizer com amargura. E apaga.Passam-se horas ou dias? Você não sabe. Sente um sono terrível, maior do que a sua capacidade de se manter acordado. Que aparentemente desceu pelo ralo, bem como todos os seus superpoderes.
Você passa o pouco tempo acordado tecendo suposições.
Bizarro? Não, ele não teria competência para isso.
Mxyzptlk? Talvez... mas, apesar de ter poder suficiente para criar uma ilusão desse calibre, a vaidade não permitiria que ele permanecesse oculto por baixo dos panos por tanto tempo. Ele já teria aparecido para rir de você e se vangloriar.
Você continua sentindo muito sono. Acorda todas as vezes achando que isso não passou de um sonho. Mas não é sonho.Em algum momento no meio do estupor, você sente um solavanco. Tudo ao seu redor sacoleja. E então você vê um rosto pairando incorpóreo sobre sua cama.
— Chegamos. — a voz é de Bruce, mas você não consegue ver direito o rosto. Tudo ao seu redor tremeluz, como se visto por entre ondas de calor, como se fosse uma miragem. Será que drogaram você?
O Brincalhão? Não, não seria do feitio dele.
O Mestre dos Brinquedos? Você pensa que é uma possibilidade a ser considerada.
Mas não há tempo, nem você está com disposição para pensar. Quando a escotilha principal da Oneiros se abre e você é levado para fora, deitado no que parece uma maca, diversas pessoas vêem você passar. Os poucos rostos que você consegue vislumbrar olham para você com um ar de pena. Você não entende por quê.
Até o momento em que a dor no braço se torna ainda mais difícil de suportar por causa de uma coceira súbita. E você tenta coçar o braço direito.
Só que ele não está mais lá.
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Superman/Matrix: As Idades do Homem
FanfictionEste fanfic foi publicado originalmente entre maio de 2005 e março de 2006 no extinto site Hyperfan. É um mashup que mergulha fundo na mitologia do Homem de Aço e o joga de cabeça no universo de Matrix.