5 - Homem de Papel

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É um dia eterno. Um sol vermelho preenche metade do horizonte.

Grande Rao.

A noite acabou para sempre.

Ao seu redor, robôs servidores flutuam, cuidando de você, medindo sua pulsação, injetando fluidos vitais em seu sangue, servindo alimentos e bebidas. Você reconhece Kelex e Kelor, seus servidores particulares desde que você atingiu a maioridade (ainda na infância, como todos os habitantes de Krypton) e pôde morar completamente isolado de seus pais e de todas as pessoas (como é o costume no mundo do sol vermelho).

Você perde a noção do tempo mais uma vez. Passa a maior parte do tempo dormindo. Ocasionalmente, ouve pessoas ao seu redor conversarem a seu respeito. Mas pode ser que você esteja sonhando.

Você aprende a medir o tempo pelo deslocamento da gigante vermelha no céu ligeiramente esverdeado. Horas parecem se passar, mas o implacável Rao não se põe. Permanece no firmamento, visível o tempo todo através da janela panorâmica que parece percorrer toda a extensão do aposento onde você se encontra. Um aposento grande, porém quase despido de mobiliário: não há nada ali a não ser almofadões sobre os quais você se reclina (de onde está, você não consegue ver, mas desconfia de que na verdade eles se apoiem sobre alguma espécie de campo antigravitacional).

Quando o sono mais uma vez começa a chamá-lo para suas profundezas, — para as quais você não quer ir, por medo de que também esta realidade não seja a definitiva — uma forma se aproxima à sua direita. Você vira o pescoço bruscamente e sente dor. A forma se abaixa e o encara.

Não é Kelex. Nem Kelor. É uma kryptoniana. Ela não é um dos três que você viu de relance antes de desmaiar novamente, mas você a reconheceria em qualquer lugar, mesmo sem o traje de contenção e a tiara cerimonial dourada.

É Lara.

— Mãe? — você pergunta, hesitante. Seus olhos se enchem de lágrimas sem que você queira. Você não se lembra de ter visto sua mãe pessoalmente nunca em sua vida. A voz dela é doce, ainda que com uma tonalidade ligeiramente metálica (será a pressão barométrica?, seu raciocínio científico o leva a perguntar. A sensação é de que o ar de Krypton é um pouco mais rarefeito que o da Terra. Porcentagem menor de oxigênio, outros elementos residuais, talvez nitrogênio, em maior escala que na Terra... mas de que adianta? Você não sabe a resposta):

— Repouse, filho de Jor-El. Você precisa, depois de tanto tempo imerso na câmara de simulação.

— Câmara de simulação? — sua voz sai fraca, meio esganiçada, como se você não a usasse há um bom tempo.

Antes que Lara possa responder, subitamente um homem se materializa ao lado dela. Em pé, rígido. Você o reconhece como um dos três que apareceram antes.

— Você não deveria estar nesse aposento, filha de Lor-Van. — diz o homem de feições duras.

O homem é Jor-El.

— Estou aqui para verificar se Kal-El está bem. — ela diz.

— Os servidores podem fazer melhor que nós. — retruca o holograma.

— Você se faz necessária em seu próprio módulo habitacional. — diz o homem rígido (você sente vontade de chamá-lo, mas ele o ignora solenemente) — Todas as mentes de Krypton são necessárias neste momento de impasse. Se cada mente colaborar com um fragmento de cálculo, as possibilidades de uma vitória a curto prazo sobre Rann e Thanagar são de...

— Rann? Thanagar? — você pergunta. O que os planetas de Adam Strange e Katar Hol têm a ver com isso?

Só então o homem rígido volta seu olhar holográfico para você. Um olhar de quem não gostou nem um pouco de ser interrompido.

— Descanse, Kal-El. — ele diz. Não é um pedido.

— Você ainda está cansado e confuso por tudo o que passou. — Lara tenta amenizar a situação.

— Os servidores já estão consertando o defeito na câmara de simulação. — diz Jor-El — Em breve você voltará à câmara e continuará a nos fornecer os dados de que precisamos para combater o inimigo. Mas, por ora, sua mãe tem razão. Repouse.

Você sente uma necessidade incontrolável de fechar os olhos. Não há mesmo outra coisa a fazer.

Superman/Matrix: As Idades do HomemOnde histórias criam vida. Descubra agora