1 - Homem de Aço

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"Tenha pena, Montag, tenha pena. Não as espicace; há tão pouco tempo você pertencia ao mesmo grupo. Elas têm tanta certeza de que viverão para sempre. Mas não viverão. Elas não sabem que isto tudo é um imenso meteoro incandescente que deixa um belo rastro de fogo no espaço, mas que um dia terá de cair. Elas só conseguem ver o rastro, o fogo bonito, assim como você antes via."

— Ray Bradbury, "Fahrenheit 451"


É um dia de sol em 1999. Uma única forma cruza veloz o céu sem nuvens da cidade.

É um pássaro? Um avião?

Não. É você.

Alguém que vela pelas pessoas comuns. Que faz o que as pessoas comuns não podem fazer. Que veio de um planeta distante e descobriu que tinha poderes superiores aos dos habitantes do mundo azul que se tornou seu lar adotivo. E que resolveu usar esses poderes para ajudar os humanos.

Você não é humano. Mas as veias que saltam das costas de suas mãos — e as próprias mãos, de cinco dedos com unhas aparadas rente e pontas calosas, as únicas partes de seu corpo que você vê enquanto voa — parecem dizer o contrário. Você se parece fisicamente com os humanos. Você sente as emoções que os humanos sentem. Logo, você é humano. E nada do que é humano lhe é indiferente.

Por isso você voa tão rápido agora. Porque se preocupa com os donos do mundo que o acolheu com tanto carinho. Você não pode decepcionar esses donos.

O alarme especial da UCE disparou há dois minutos. Isso significa uma ameaça terrorista nível três em curso — uma ameaça do tipo que Maggie Sawyer e sua equipe não podem resolver sozinhos. Sua ajuda é solicitada no local.

Alarmes. Você sente falta do relógio sinalizador de Jimmy. Não que aquele dispositivo fizesse muita diferença para seus sentidos tão superiores. É do seu amigo que você sente falta.

E aí qualquer pena que você pudesse sentir pelos terroristas acaba.

Justiça infinita, choque e pavor, não interessa a tática nem o recurso: esses bandidos sanguinários merecem cada castigo que a sua imaginação puder inventar. E você tem muita imaginação. Houve uma época, em Qurac, que você atacou terroristas sem dó nem piedade. Depois chegou a se arrepender, fazer um mea culpa envergonhado. Mas, ao ver a cidade dourada de Metrópolis — do alto, como sempre, admirando seus arranha-céus reluzentes ao sol e seus habitantes minúsculos como formigas lá embaixo — e pensar nesses invasores de outros países, querendo destruir sua cidade, matar inocentes em nome de questões políticas e religiosas irracionais, ah, isso deixa você tão furioso quanto qualquer humano.

E é nesse estado de fúria mal contida que você pousa no terraço de um dos pilares gêmeos. O pilar Shuster está repleto de agentes da Unidade de Crimes Especiais de Metrópolis. Você não vê Maggie. Quem está comandando as operações é o detetive Turpin.

— Maggie está lá? — você aponta para o pilar Siegel, a cinqüenta metros de distância. Não há ninguém no topo da outra estrutura.

— Positivo. — responde o detetive, sem deixar de mastigar seu indefectível charuto — Eu avisei para ela que é impossível negociar com Lúcifer, mas você sabe como ela é teimosa.

Lúcifer. Você já esperava por isso.

Foi há um ano.

Um atentado cometido pelo grupo de Lúcifer em um hotel onde estava acontecendo uma convenção da indústria de informática. Jimmy e Lana estavam lá para entrevistar o CEO de uma das mais bem-sucedidas empresas de capital aberto.

Os terroristas invadiram o local e mataram todos os seguranças. Explodiram um andar quase inteiro. Os corpos de Jimmy e Lana jamais foram encontrados.

Até hoje você não conseguiu descobrir nada sobre Lúcifer, a não ser seu modus operandi. Ele surge em algum ponto da cidade, comete seus atentados (sempre tirando vidas inocentes) e desaparece através de teletransporte. Usa sistemas de telefonia como veículo.

Você nunca conseguiu pegá-lo. O sujeito é incrivelmente rápido, mesmo para você. É como se ele soubesse exatamente onde você está em cada momento determinado — e sempre aparece no lado oposto da cidade.

Menos hoje. Os pilares gêmeos não ficam tão longe assim da redação do Planeta Diário.

O que coloca todos os seus sentidos em alerta. Um terrorista superconfiante é perigo dobrado.

Superman/Matrix: As Idades do HomemOnde histórias criam vida. Descubra agora