"Descanse em paz"

56 11 5
                                    

Depois de longas horas em silêncio, finalmente chegamos ao velório.
Saímos do carro e fomos receber os pêsames das pessoas. Todos já se encontravam lá nos esperando, com expressões tristes e cansadas. Provavelmente devem ter passado a noite em clara sem conseguir dormir.
Assim que nos viram eles logo vieram meio apreensivos para dar as condolências.

Eles falavam conosco com tanto cuidado, medindo as palavras; que parecia que qualquer palavra pronunciada sem antes passar por uma longa e cuidadosa análise, pudesse nos fazer desmoronar. Era como se fossemos constituídos de cristal, que a qualquer toque incerto pudéssemos ser destruídos e ficássemos em cacos.

Era horrível ver os olhares tristes e cheios de piedade das pessoas presentes no velório. Mas pior do que isso, era ver minha mãe deitada no caixão.
Ela estava tão linda, parecia até um anjo de tão linda que estava. E com o vestido branco que usava só fazia essa dúvida crescer ainda mais.

Qualquer um que não soubesse do ocorrido, e que a visse em outro lugar, diria que ela apenas estava dormindo. Ela aparentava estar tão serena e calma...que até eu mesma cheguei a questionar se ela não estaria mesmo viva. Mas infelizmente ela não estava, o que veio à tona toda tristeza que eu sentia...toda dor que estava no meu peito.

Meu coração doía tanto, que juraria que ía ter um enfarto. Tudo a minha volta me parecia tão triste, todas aquelas pessoas só me lembravam o quanto eles tinham sido presentes na vida de minha mãe; e doía tanto saber que eles, assim como eu, não poderiam mais desfrutar da presença dela...de seus conselhos sábios...de sua compreensão e carinho...enfim, não a teriam mais.

Depois que todos se despedirem dela, (o que não foi nada fácil pra mim) fomos para o cemitério a onde minha mãe seria enterrada.

Entrei no carro com meu pai e meu irmão; assim como na ida ao velório fomos todos em silêncio.
Estava tão imersa pensando no que havia acontecido, em como minha vida tinha mudado em tão pouco tempo, que somente depois de alguns minutos fui perceber, que Edu tinha pegado as minhas mãos e agora estava segurando ela firme.
Olhei das nossas mãos unidas para ele, sem entender o por que de ele estar fazendo isso. E quando eu estava prestes a perguntar, ele falou primeiro.

- Como você está ? - perguntou ele sem olhar para mim.

- Eu estou bem...na medida do possível que se pode estar nessa situação. - falei olhando para suas mãos junto a minha.
- E você ? - perguntei o encarando.

- Eu estou tentando lidar com tudo isso...
Isso tudo é tão estranho, estarmos indo para o enterro de nossa mãe... Uau ! Eu nunca imaginei um dia que eu ía ir ao enterro dela...pelo menos não tão cedo assim. - falou ele com a voz embriagada e os olhos se enchendo de lágrimas.

- Nem eu...nem eu. - disse já sentindo as lágrimas descer sobre a minha bochecha.

- Ela estava tão linda hoje não é mesmo...? - perguntou ele me olhando, já com o rosto molhado pelas lágrimas; com uma mistura de admiração e tristeza no seu olhar.

- Sim, ela estava linda...parecia até um anjo. - digo isso sorrindo, só de lembrar do quanto ela estava linda.

- Tem razão...o nosso anjo, que teve que partir de volta pro céu. - ele falou colocando a mão no rosto e desabar em lágrimas.

- Ela pode ter partido para o céu, mas ela sempre estará presente em nossas vidas. E ela sempre estará viva em nossos corações. - digo isso lhe abraçando e o mesmo retribui o abraço.

Aprisionada à Culpa  Onde histórias criam vida. Descubra agora