Alô, alô, seu Chacrinha, aquele abraço!

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           Sempre me pergunto se eu realmente preciso desse emprego. Minha mãe é médica e meu pai é dono do hospital onde ela trabalha, dinheiro nunca foi meu problema. Mas, só de pensar em viver às custas deles já me sinto inútil, e outra que ser detetive sempre foi meu sonho de criança, não posso desistir agora que o realizei, não é mesmo?!
          O problema é que a profissão não é tão glamourosa quanto pintam nos filmes e séries americanas. Café expresso da Starbucks enquanto trabalha? Não mesmo, no máximo um cafézinho requentado da lojinha de dona Maria. Sobretudos estilosos? Com esse calor tupiniquim? HA! Nada feito! Fiel escudeiro? Talvez esse eu tenha, ele só não é como eu imaginava: é um estagiário de 18 anos que tem preguiça até de andar... Mas é um bom rapaz. Além disso, as vezes me dão uns trabalhos muito estranhos pra fazer, como da vez que tive que investigar o caso de um burro que amanheceu morto numa fazenda no interior. Os moradores culpavam chupa-cabra, lobisomem, falavam que mataram o burro pra pegar seu sangue e fazer macumba. Pff, nada disso! Foi só uma jaguatirica que o atacou pela noite, inclusive a bichinha foi capturada toda machucada e levada pra um santuário do Ibama, tadinha... Só que dessa vez, eu creio que passaram dos limites, de todos os limites. Me mandaram investigar um caso de sumiço de uma buzina.. E não foi num circo. Sim, senhores, eu fiz 4 anos de faculdade e mais 10 meses de curso pra investigar o sumiço de uma buzina. Disseram que é uma buzina especial, o Chacrinha quem deu para uma de suas chacretes quando estava no leito de morte.
           Ah, e essa chacrete é a dona do lugar onde sumiu a buzina: uma pensão que abriga vários artistas falidos. O nome dela é Rita Malagueta (na verdade, é Maria Epifânia Cordeiro dos Anjos, mas esse nome não é lá muito artístico, né?), e foi ela quem contratou meus serviços, já que a polícia se recusou investigar o caso de uma buzina roubada. Mas fora tudo isso, eu acho até que gosto do meu trabalho...

Rita MalaguetaOnde histórias criam vida. Descubra agora