Pó-De-Arroz

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- Conheci Rita nos bastidores do programa. Ela era bonita, jovem, sexy, muito diferente do que é hoje. Nós fomos boas amigas por longos 20 anos

- E não são mais...?

- Não. Moro aqui por não ter outro lugar, e também porque ela me deve favores do passado.

- Vocês se odeiam, afinal?

- Sim. Mas eu espero que isso não seja usado como prova contra mim. Apesar de odiar ela, tenho princípios morais e não roubaria a porra de uma buzina.

- Tudo bem, senhora. Qual seu nome mesmo?

- Liza Jane, prazer.

- Liza Jane...? Seria...

- Sim, é do Bowie. Meu nome de verdade é Margarida Motta.

- Ah, tudo bem. Obrigada, dona Margarida, volto a te procurar para possíveis novos interrogatórios ao decorrer do caso.

      Quebra de tempo: Ano de 1990

- Como você pôde, Rita? Como? - Liza gritava com a voz embargada pelo choro.

- Eu...eu não sei, eu estava drogada, bêbada... Não sei, só não estava em mim!

- Somos amigas há 20 anos, Rita, como você pode ser tão fria?

- Me desculpe. E-eu nem sei o que falar.

- Você sabe quanto eu paguei nisso? Eu paguei 60 dólares nesse pó, isso é mais do que seu salário em 10 anos!!

- Eu pago...

- Vai pagar com que? Fazendo programa?

- Agora você está me ofendendo - Rita mudou o tom de voz, passando de culpada para puta (autor: se me permitem o trocadilho) em poucos segundos.

- Nunca mais olhe na minha cara, esqueça que eu existo, sua vadia quebradora de pó!

- Tudo bem, que assim seja!

                De volta ao presente

- E foi assim - Rita terminou de contar a história e acendeu outro cigarro, segurando-o entre os dedos longos e enrugados.

- Que tipo de pó você estava falando?

- Pó de arroz, ora bolas.

- Perai - Ana piscou várias vezes, incrédula - Vocês se odeiam por causa de um pó de arroz?

- Sim, ué. Pó de arroz é coisa séria. Dizem que não se pode emprestar, causa espinhas.

           Ana continuou sem acreditar no que ouvia. Tudo ali era caricato, irônico e ao mesmo tempo decadente. Ela estava rodeada de artistas falidos mas, mesmo assim, com egos inflados. Liza era a maior suspeita até agora, talvez porque ela foi a primeira e única a ser interrogada. Ana se sentia num filme do Tarantino: nada com nada.

Rita MalaguetaOnde histórias criam vida. Descubra agora