Vedete Maldita

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- Então em 1986...

- Rita, posso dar uma palavrinha contigo? - Ana falou interrompendo Rita, que dava uma entrevista naquele momento.

- O que é agora? Descobriu quem me roubou? Porque se não for isso, não quero saber, menina mal-educada!

- É sobre isso sim, vem comigo agora.

- Ah, que inferno! Por que me interromper assim? Faziam SÉCULOS que eu não dava uma entrevista, eu estava tão animada. - Rita falou acendendo um cigarro e pegando o costumeiro copo de whisky, que parecia se encher sozinho, pois nunca estava vazio.

- Como pôde me enganar assim? Enganar a todos? - Ana falou ríspida, sentindo a raiva subir à cabeça e o sangue ferver.

- Não sei do que estás falando, menina. - Rita tragou seu cigarro com impaciência.

- Primeiro, pare de me chamar de menina. Segundo, você sabe muito bem do que estou falando. Foi você quem deu sumiço na merda da buzina, só para conseguir fama mais uma vez!

- Continuo não sabendo do que está falando. Agora tenho de ir. Olha, se eu fosse você, iria descansar, já tá começando a ter alucinações. - Rita falou indo em direção a porta, mas Ana a segurou pelo braço.

- Vedete maldita! Me fez de trouxa esse tempo inteiro! Por que eu demorei tanto pra perceber? Eu e essa minha mania de nunca querer acreditar no óbvio.

- Tudo bem, Ana. Você venceu. Sim, fui eu quem fiz tudo isso! Genial, não é? Na verdade, nem existe buzina, nunca existiu! Isso foi tudo uma invenção. Brasileiro é idólatra, vive de passado, de saudosismo. Minha história foi uma tacada de mestre. - Rita falou com raiva, agora indo pra cima de Ana gradativamente, levando-a de encontro à uma sacada.

- Tudo isso por...fama? - Ana perguntou inconformada. Estava estática. Por que ir tão longe por fama?

- Sim, tudo isso por fama. A fama é viciante, destrutiva, voraz. Ser famoso te vicia ou te mata. No meu caso, me viciou. Passei meus dias bolando uma forma de voltar para a mídia, de ser famosa mais uma vez, de ter meu ego sendo inflado 24 horas por dia, e consegui. Claro que todo o estresse disso tudo teve suas marcas - A mulher retirou a peruca loira que usava como se fosse seu cabelo natural, revelando sua verdadeira aparência, o que realmente era.

- Meu Deus! - Ana falou assustada. Nunca tinha estado na presença de alguém tão deslumbrado e louco em toda sua vida. Fora que ver Rita careca também não foi uma das melhores coisas que viu.

- Eu criei um plano perfeito, Ana, e você não vai estragar isso. - Nessa altura, Ana já estava encostada na pequena sacada, quase em cima dela. Vulnerável.

Rita MalaguetaOnde histórias criam vida. Descubra agora