Sem Roteiro Nessa Vida

Capítulo 22

America

- Bem-vindos ao reino de Illéa! - anunciou Quentin assim que "pousamos".
Era como se eu estivesse voltando para casa. Nós estávamos  no meio do bosque do palácio. Eu reconheceria aquelas árvores bem podadas em qualquer lugar. Se olhasse para cima, era possível ver uma das torres do castelo, aquele monumental e extravagante castelo. Estávamos no mesmo lugar onde eu encontrei Tris, Thomas, Katniss e Harry pela primeira vez, quando eu estava fugindo do ataque rebelde.
Será que os rebeldes tomaram conta do castelo?
Será que a seleção ainda está acontecendo sem mim?
Já faz um ano, é bem possível que já tenha acabado.
Se bem que existiram seleções que duraram anos, não é?
Maxon já deve estar casado e feliz a essa altura. E não comigo.
Será que todos esqueceram de mim? Ou será que existe uma outra eu agora, uma cópia?
De qualquer forma, eu me sentia bem em estar ali novamente. Uma nostalgia tomou conta de mim assim que senti a brisa quente de Angeles em meu rosto. Tudo parecia tão diferente, mas tão igual ao mesmo tempo. Estava, de certa forma, emocionada.
- Pessoal, vamos parar um pouco para o PP recarregar - disse Margo. - É rápido então em pouco tempo já podemos partir para o próximo livro até chegar na LDEAT.
- Acho que a America gostaria de ficar um pouco mais - disse Katniss, olhando para mim e rindo. Ela deve ter percebido o quão aérea fiquei, olhando para as árvores, para o céu, para o castelo. Enrubreci um pouco.
- Não, não, não quero atrasar o plano.
Quentin havia dito, ainda em Neazoi, que o seu Portal Portátil não estava configurado como o de Hazel. O dela fora configurado para conectar o nosso livro diretamente à LDEAT, enquanto o seu fora configurado para conectar nosso livro com os livros de origem de cada um e, só depois do último, a LDEAT. O caminho do PP de Hazel era como uma linha reta e o dele era como uma circunferência que só funcionava na ordem programada. Perguntamos se ele não conseguia mudar a configuração oficial, mas ele explicou que apenas um de seus irmãos sabia fazer isso. Sendo assim, não tinha outro jeito se não passar por todos os outros livros até chegar lá. Acho que foram programados assim porque os nossos vilões estavam com muita esperança de conseguir nos separar rapidamente e de estarem juntos para usar oa dois portais. Já sabemos que não foi bem assim.
- Olhem, o sol já está começando a se pôr! - disse Harry. - Acho que não vai ser ruim passarmos uma noite por aqui, não é?
Ele piscou com um olho para mim e já entendi o que estava fazendo.
- Eu concordo! - disse Percy. - Afinal, dizem que viajar à noite é muito ruim.
Apesar disso não fazer o menor sentido, já que a viagem seria por teletransporte, mas valeu a intenção. Meus amigos sabiam que eu não queria sair dali agora...
Obrigada.
Nenhum de nós queria mais brigar. Essa era mais uma luta dentre tantas que já tínhamos.
- Tudo bem então - disse Quentin. - Vamos acampar por aqui, descansar um pouco e esperar o amanhecer. Depois, seguimos viagem.
- Não! - disse eu. - Não vamos acampar aqui. Eu sei de um lugar melhor onde a gente pode ficar.
Eles concordaram e tomei a frente do grupo. Fui caminhando pelo bosque até sair dele, como todos atrás de mim. Olhei em volta para ver se não havia mais ninguém do lado de fora. Apenas alguns guardas estavam andando perto da grande porta. Atrás deles estava o jardim.
Ah, aquele jardim...
Sinalizei para meus companheiros não fazerem barulhos e corri até a parede lateral do palácio sem deixar que os guardas me vissem. Todos vieram atrás de mim e seguimos encostados pela parede até uma porta que dava para uma das partes mais baixas do castelo. Era ali mesmo que eu precisava chegar. Sabia exatamente quem eu encontraria aqui.
Bati na porta duas vezes e torci para que alguém a abrisse logo. E abriu justamente quem eu queria encontrar ali.
Seus olhos verdes se arregalaram de uma forma que eu nem sabia ser possível.
- Meri?
Ele não acreditava que o que estava vendo era real. Acho que nem eu.
- Oi, Aspen.
Ele estava meio desnorteado com a situação, mas, depois de olhar para mim várias vezes, exclamou, mais entusiasmado:
- Meri! - e me puxou para uma abraço. - Meri. Meri, eu... Você está aqui! Onde você estava? Você não faz ideia do que o seu sumiço causou!
Eu estava rindo pela sua animação. Era bom reencontrá-lo.
- Eu posso explicar tudo, mas precisa nos deixar entrar.
- Quem são eles?
- Meus amigos. Podemos ficar por aí? É só por uma noite...
Aspen olhou para mim, olhou para os meus companheiros, olhou para dentro do dormitório dos guardas e novamente para mim.
- Tudo bem, entrem.
Entramos.
O cômodo estava vazio, só Aspen estava lá. Os outros guardas deviam estar em seus turnos.
- Podem sentar, se quiserem - disse ele e assim o  fizemos. Depois, ele voltou sua fala para mim novamente: - Eu acabei de voltar no meu turno, os outros foram subiram agora. Você chegou na hora certa.
- Que bom! Estava contando com isso.
-  Ah, Meri, é tão bom ter você aqui de novo. Eu não sei como vão reagir lá em cima quando souberem que você voltou.
- Não! - exclamei e ele se assustou um pouco. - Ninguém pode saber que eu estou aqui.
- Estamos meio que nos escondendo - disse Margo. Aspen olhou para ela, estranhando-a. - Missão de fuga.
De repente, a porta que dava para dentro do palácio se abriu. Quando a pessoa viu a pequena multidão no dormitório, se assustou. Katniss, instintivamente, se levantou com o arco e flecha apontados para o visitante.
- Ninguém deve saber que estamos aqui.
- Calma, Kat, ele é confiável - ela abaixou a arma e voltou a se sentar. - Oi, Carter.
- America - disse o visitante quando voltou ao seu eixo. Ele veio até mim e eu fiquei em pé para abraçá-lo. - Você apareceu! É tão bom te ver de novo!
- É bom te ver de novo também.
- Você voltou!
- É, estou de passagem.
- Passagem? Como assim? Quem são essas pessoas? O que está acontecendo aqui?
- Eles estão fugindo - disse Aspen.
- Fugindo? São rebeldes? Foi por isso que você sumiu?
Eu ri.
- Não, eles não são rebeldes - respondi. - Podem ficar tranquilos.
- Eles são daqui? - perguntou Aspen. - De Illéa?
- Não, amigo - disse Percy. - Na verdade, somos de bem longe daqui. Bem longe. Talvez não acreditaria se contássemos.
- Bem, posso dizer que estou curioso para saber.
E então contamos tudo o que havia acontecido conosco desde que eu fui embora de A Seleção. Reviver tudo isso me fazia lembrar de toda a nossa trajetória entre livros. Toda vez precisávamos recontar a mesma história, mas cada vez com um trecho a mais. Haviam muitos mais trechos para serem contados hoje. Deixei de fora apenas as partes românticas, exceto entre mim e Harry, e foquei apenas na ação. Acho que meu ex-namorado talvez não quisesse saber sobre o meu atual noivo. Não sei, mas acho que seria meio cruel, levando em conta que Aspen ainda sente algo por mim. E, afinal de contas, esse não era nem o foco principal da história, era um complemento. Um complemento muito bom, mas um complemento.
Aspen e Carter ficaram muito chocados com tudo o que dissemos.
- Nossa, se vocês soubessem o tanto de perguntas que estão passando pela minha cabeça agora. Estamos num livro? Teletransporte é real?... - disse Aspen. O jeito dele me fez sorrir. Sabia o que ele sentia, pois eu já havia passado poe tudo aquilo. Não sei o que mais pode me surpreender na vida, mas nunca duvido do que pode vir.
- Eu achei que você tivesse desistido da seleção - disse Carter. - Sabíamos que sua relação com o príncipe não era uma das melhores no começo, não era difícil você fazer algo assim.
- Não nego que já havia pensado em sair da seleção muitas vezes, mas não podia dispensar o dinheiro... ou a comida.
Aspen e Carter sorriram, nostálgicos.
Continuei:
- Mas eu não vou poder ficar aqui por muito tempo mais. Temos uma missão a cumprir - sorri para os meus quatro amigos que estavam ali. - Vamos ficar só por essa noite e não pretendemos causar nenhum escândalo. Então, vocês não podem comentar sobre isso pra ninguém. Nem com os outros guardas, nem com as criadas, nem com o Maxon, nem com o rei...
- Nem com Marlee? - perguntou Carter. Aquilo foi uma facada fria no meu peito.
Marlee.
Minha primeira melhor amiga, a menina que nem me conhecia, mas se importou comigo quando eu estava na terrível situação de ter sido selecionada.
Uma saudade enorme me bateu e meu sorriso sumiu levemente.
- Marlee. Como ela está?
- Ela está bem. Sentiu muito sua falta. Bem, ainda sente, mas está bem.
- Ela ainda está aqui? Maxon a escolheu?
Aspen e Carter se entreolharam e riram.
- A seleção ainda não acabou, Meri - disse Aspen.
- Não? Mas já faz...
- Um ano - um ano que eu estou longe. - Depois que você foi embora, Maxon ficou arrasado. Mandou muitos soldados te procurarem e enviou comunicados para todas as províncias vizinhas de Angeles procurando por você. Acho que ele realmente gostava de você.
Meus olhos se fixaram no chão. Senti uma pontada de incômodo na voz de Aspen. Harry segurou minha mão, de forma discreta, no mesmo segundo.
Aspen continuou:
- O pai o obrigou a continuar a seleção mesmo sem você ali, mas o príncipe acabou estendendo mais do que o normal. Pelo menos, agora já estreitou as opções para a Elite. - ele parou de falar por um instante e eu não tirei os olhos do chão. - Sentimos sua falta, Meri. Lucy, Anne e Mary também. Marlee. Você marcou muitas pessoas por aqui.
Assenti e olhei para os dois à minha frente.
- É. Eu senti falta daqui.

Harry

- É. Eu senti falta daqui.
America soltou da minha mão no mesmo instante, de uma forma que parecia não querer mais tocar em mim. Ela colocou-a sobre sua perna e a minha ficou ali, caída.
Olhei para Katniss e Percy, que estavam sentados numa cama ao lado da que eu estava e para Thomas, que estava sentado diretamente ao meu lado. Todos eles estavam com expressões de receio e tristeza. Eles viram o que havia acontecido e ouviram toda a conversa de America com seus antigos amigos e todos compartilhávamos de um mesmo pensamento.
America cedeu?