Capítulo 25

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Caí no mesmo lugar onde havia embarcado: no meio das árvores da floresta. Tudo em volta parecia normal desde que partimos um dia antes. Ou será que ainda não se havia se passado um dia por aqui e só em A Seleção? Será que só se passaram algumas horas? Argh, essas linhas temporais me confundem.
- Preferem ser discretos ou rápidos? -perguntou Margo, guardando novamente o PP na mochila.
- Rápidos - respondi. - Quanto mais cedo resolvermos isso, melhor.
- Certo. Então, vamos! - ela se pôs a correr em alta velocidade pela mata e o resto de nós começamos logo depois. - Para a cidade!
- Por trás das casas da periferia da cidade! - eu disse. - É um atalho para a avenida principal e ninguém vai nos ver. Discretos e rápidos!
Fizemos as voltas até a parte da cidade que eu havia indicado. Pulamos os galhos até alcançar o chão de terra batida que indicava o limite da cidade. Cruzamos as casas, desviamos das grades, quintais e tudo mais para finalmente chegarmos na parte asfaltada. Viramos para a avenida principal e continuamos seguindo até uma das travessas desta estrada, mais conhecida como a rua das casas que tanto queremos encontrar. Sim, haviam algumas pessoas na rua, mas não estava ligando a mínima para elas no momento. Imagino que elas estavam se perguntando o que um bando de seres vestidos de preto está fazendo correndo a essa velocidade a essa hora do dia e por que America está entre eles, mas quem se importa com isso agora? Tenho mais coisas para fazer do que manter a pose.
Chegamos à parte de trás da casa onde os irmãos Green estavam hospedados. Quentin pediu para esperarmos na parte de trás da casa e foi discretamente até a janela lateral.
- Droga.
- O que foi?
- Eles estão lá dentro.
- Vamos esperar eles saírem então.
- Sem chance, Ames. Eles não vão sair sem um motivo relevante para sua missão.
- O que eles estão fazendo?
- Eu não sei. Estão todos... Estão... - Quentin se contorcia para tentar enxergar melhor do lado de dentro da casa. - Estão falando com meu pai!
- John Green?! - exclamei. - Ele não está preso?
- Pelo jeito, tem videoconferências da prisão da LDEAT.
- Consegue ouvir o que eles estão falando? - perguntou Margo.
- Posso tentar. Acho que ainda tenho acesso ao microfone do sistema deles.
Quentin olhou para o seu relógio e começou a mexer com seu dedo indicador na tela deste. Para mim aquilo era só um relógio de pulso normal. Não fazia ideia de que a tecnologia deles era tão avançada nem que eles tinham tanta coisa diferente. Bem, não reclamo, pois ela tem nos ajudado muito.
Ele posicionou o relógio de pulso próximo ao seu ouvido e afinou seu ouvido  para ouvir atentamente o som baixo que saia do aparelho.
Depois de um tempo, Margo quebrou o silêncio e perguntou, aos sussurros:
- E aí?
- O áudio está muito baixo, mas... acho que eles estão falando de vocês, America.
- Conte-me uma novidade - disse eu.
- Eles estão contando para o John os últimos acontecimentos... Suspeitam da nossa fuga...
- Suspeitam? - perguntou Miles, descrente. - Já deviam ter certeza!
- Hazel tem certeza, John foi quem disse que não deve ser assim. Apesar de termos sumido, nós nunca trairíamos à família - a voz de Quentin falhou ao dizer esta última palavra. Será que ele ainda estava sentido pelo que havia feito? Sei que aqueles ali presentes do outro lado da parede eram seus irmãos e o homem que falava com eles era seu pai, seu criador, mas... ele sabia que o que estavam fazendo era errado, não sabia? Por isso que está ajudando até agora, não é?
De repente, minhas suspeitas de ser tudo apenas uma encenação parte de um plano de Hazel passaram de estar apenas sobre Miles e passou para Quentin também. Na verdade, para todos os três.
A partir de agora, ficaria um pé atrás com eles. Com todo mundo. Já confiei demais nas pessoas e, em todas as vezes, as coisas não acabaram nada bem. Não posso mais confiar inteiramente em ninguém. Todos podem se virar contra você em algum momento.
Olhos abertos, America, olhos abertos.
- Acho que eu vou entrar lá - disse Miles. - Aliás, nós três devíamos entrar lá. Ver que estamos aqui ainda talvez acabe com as suspeitas da Hazel.
- Concordo - disse Quentin. - Precisamos combinar uma história para que eles acreditem em nós. Nós fazemos isso e, assim que conseguirmos distrair os três lá de dentro, voltamos e continuamos nossa missão, pode ser?
- Boa ideia - concordou Margo. - America, você precisa ficar aqui, escondida. Nós voltamos logo, tudo bem?
- Sem problemas - respondi, com um sorriso plastificado. Ela assentiu e os três partiram para o outro lado da casa.
Isso não está me cheirando nada bem. Como fui tão idiota? Isso com certeza fazia parte de um plano. "Distraia os indivíduos, mande parte deles embora durante a noite e volta com a mais frágil entre eles. Faça-os confiarem em vocês, para depois darem uma facada nas costas deles.".
Acontece que eu não sou frágil. Eu precisava sair dali o mais rápido possível. Não podia ficar ali. Se precisasse, eu mesma iria resgatar meus amigos. Essa é a missão agora, a minha missão! E nada vai me impedir de...
- Olá, querida.
Um dos irmãos, acho que se chamava Tobin, surgiu no momento em que eu ia virar para chegar ao outro lado da casa depois de ter corrido discretamente por trás da casa.
- Não me chame assim - eu disse, com um olhar fuzilante para o garoto alguns centímetros mais alto que eu. Mas, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, fui atingida na cabeça com algo que nem faço ideia do que seja.
E apaguei.

Sem Roteiro Nessa VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora