Capítulo 8

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Percy

Em frente ao mercado, esperando.
Esperando.
Esperando.
Esperando.
Por que está demorando tanto, Katniss?!
São só as compras do dia, não uma viagem ao redor do mundo!
Aquela garota já estava me dando nos em nervos... Ah!
- Não brinque disso! - resmunguei, imitando sua voz. - Não seja assim! Você não vale nada! Ridícula! Por que será que...
- Percy Jackson.
Ouvi uma voz baixa, meio em sussurros, me chamar. Estranhei, olhei de um lado para o outro e não vi ninguém. Deve ter sido algo da minha mente.
- Percy Jackson!
De novo. Estou ficando louco também?! Ouvindo coisas agora?!
- Percy! Percy! Aqui!
Olhei para o lado direito e vi um vulto escondido atrás da parede lateral do mercado, a parede de um corredor estreito sem saída, uma espécie de viela onde ficava um latão de lixo e um ótimo lugar para se esconder do mundo.
- Quem é você? - sussurei ao vulto, em pergunta.
- Vem aqui!
- Por quê?
- Só vem! Vem!
Fui me aproximando devagar, com medo do que pudesse acontecer, e já com os punhos prontos para me defender de qualquer ataque que pudesse ter. Entrei no corredor lateral escuro e escondido e lá encontrei quem me chamava: uma mulher com o rosto todo coberto por um pano, apenas  com seus olhos e seus cabelos ruivos soltos aparentes. Ela parecia estar tentando não ser vista, como se estivesse ali em segredo.
- Quem é você? - perguntei, assim que me aproximei.
- Como assim? Não está me reconhecendo?
- Se reconhecesse, não teria perguntado.
- Percy, sou eu, America!
- America?! O que está fazendo aqui?! Você não estava cuidando da Tris?
- Hã... Sim! Mas... os meninos estão lá agora com ela!
- Por que você está aqui? E por que está com esse pano? Está se escondendo?
- Não temos tempo pra perguntar, Percy, eu preciso voltar pra casa. Os meninos acham que eu fui jogar o lixo fora. Eu vim te avisar uma coisa! Muito importante!
- O quê?
- Katniss está traindo você.
Se meu mundo já havia desmoronado, agora haviam trazido uma máquina de demolição para quebrar todos os últimos pedaços.
Aquilo era mentira.
Senti o mundo escurecer e quase perdi o chão.
Aquilo não podia ser verdade...

Katniss

- Sozinha aqui? - um rapaz jovem disse ao se aproximar de mim.
- Mais ou menos. Quem estava comigo meio que sumiu.
- Se fosse eu, não abandonaria uma menina tão bonita assim.
Dei um riso constrangido e minha bochechas esquentaram. Fiquei com medo de ficar vermelha. Isso era estranho pra mim, ser elogiada desse jeito, eu não sei, era algo meio... novo. Há tempos ninguém me dizia isso, nem Percy o fazia.
- Quer ajuda? - ele perguntou, pegando uma das minhas sacolas.
- Ah, sim, se não for incomodar!
- Não é incômodo algum!
- Muito obrigada! Já estavam pesando.
- Agora não está mais! - disse ele, sempre com aquele sorriso enorme e vibrante no rosto. Ele era bonito, não podia negar, e seu sorriso mais ainda. O que o deixava mais bonito era o fato de estar sendo tão gentil comigo. - Aliás, meu nome é Mi... Miguel.
- Katniss - disse eu, com um aceno de cabeça, já que nossas mãos não podiam servir para cumprimentar no momento.
- Katniss Everdeen?! A Katniss Everdeen?! Eu não acredito! Não, eu não posso acreditar! Eu estou segurando a sacola de Katniss Everdeen! Não, isso não pode ser real!
Não pude deixar de rir. Seu jeito meio infantil e humilde era muito fofo e o tornava mais atraente ainda.
- Ei, não precisa ficar tão emocionado. Não sou tão surpreendente assim.
- Claro que é! Sua história é magnífica!
- Conhece minha história, é?
- As notícias correm nessa cidade. O jeito como salvou sua irmã nos Jogos Vorazes e aí, ainda no meio dos Jogos, sumiu junto com a Tris e o Thomas e aí...
E ele continuou a contar minha história freneticamente, cheio de animação, como se eu nunca a tivesse ouvido (ou vivido). Ver aquela cena fazia meu sorriso crescer ainda mais e eu ria a cada frase que ele dizia. Como era bom rir de novo! Essas risadas até acalmaram um pouco a raiva anterior que estava dentro de mim.
- Você realmente sabe toda a minha história!
- Me considere um tipo de fã.
- Fã? Isso é novo. Nunca fui querida o bastante pelas pessoas pra ter fãs.
- Não se precisa de vários quando se tem um apaixonado - ele disse, fazendo uma pequena reverência.
- Está flertando comigo, Miguel? -perguntei, com um sorriso puxado mais para um dos lados da boca e com o olhar semicerrado.
- Você é quem diz - ele disse, se agachando e tomando uma das minhas mãos, para depois beijá-la. Posso saber caçar animais na floresta e matar qualquer um que me atacar, mas isso me assustou mais do que qualquer presa. Com certeza, estava vermelha.

Sem Roteiro Nessa VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora