Jared Martin

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Abro meus olhos, parece que tem mais de um kilo de areia em cima deles, respiro fundo e tento não encarar tudo isso como a pior coisa, afinal, a Meghan morreu. Mas, pensar assim só me faz ficar ainda pior. Viro meu corpo para o lado e tento não me irritar com o sol que invade uma fresta da janela, nem sei como consegui dormir. Olho para o meu celular e vejo que são sete horas da manhã, acho que estou ficando com um despertador natural. Observo os cacos de vidro ainda estilhaçados no chão, pego a foto da loira que sorri ao meu lado e tento não me deixar levar por seu sorriso falso. Rasgo cada foto que está jogada no chão e recolho os pedacinhos na minha mão. Não é assim que vou curar as feridas que ela me causou, mas vai evitar de olhar para o sorriso mais falso que conheci.

Devo desculpas a Liah e com certeza devo muitos agradecimentos a essa mulher. Pulo os cacos e abro a minha porta.

-Liah?- a chamo e não tenho resposta, se ela não foi buscar a Holly a pé ou arriscar com o meu carro só de saudades eu não digo nada.- Liah?- chamo mais uma vez e vou até o seu quarto a ponta de pé para não acordar ela e se tiver a sorte a observar por horas dormindo.

Abro a porta e minha boca seca, ao contrário dos meus olhos que enchem de lágrimas, o guarda-roupas dela está vazio, as malas não estão mais no canto como antes, olho em cima da cama e um pedaço de papel está dobrado com o meu nome. Não, ela não fez isso.

Abro a carta e observo sua letra redonda e manuscrita:

Ei Jar! (sempre quis te chamar assim, mas achava que na verdade era algo muito estranho para uma funcionária chamar um patrão, por papel é mais fácil.) Jared, eu voltei para a minha casa, acho que não tem o porque permanecer em Seattle, foi apenas um sonho do qual eu não posso manter, vou entrar em contato com a faculdade e trancar a minha matrícula. Não estou sendo fraca e nem precepitada, mas como eu posso permanecer em uma casa que não é minha, com uma família que não é minha? Depois de tudo o que aconteceu você deixou bem claro que não vai ficar bem agora com qualquer mulher, aliás, depois dessa como você vai confiar em outro alguém? Jared, eu sempre passei dificuldades na minha vida, minha família é humilde, acho que agora eles precisam de mim mais que qualquer coisa, eu preciso muito de mim, preciso encontrar forças e ter certeza de quem eu sou. A Holls não é minha filha, você não é meu marido e eu nunca vou ser a Meghan, apesar de tudo sei que você a ama muito, e se entregar para outra mulher vai ser a coisa mais complicada no atual momento. Jared, eu não quero sofrer mais, não vou suportar ficar em uma casa do qual o cara que eu amo mora e não poder provar seu beijo sem ser de impulso ou porque ele quer se vingar do irmão, ou até mesmo tenho medo de cometer traição. Dá um beijo na minha pequena pestinha? Explica para ela que eu a amo e que ela é a coisinha mais importante que já me aconteceu? Peguei o meu salário que estava no banco e mais algumas economias, você depositou mais que o combinado e eu agradeço muito. Agora é a hora de ser a Liah, de voltar para a cidade da Liah, de viver as coisas da Liah! Ah Jared, eu nunca me apaixonei por um homem, tive minhas paxonites, mas apaixonar de sentir o coração arder eu nunca me apaixonei. Obrigada pela experiência. Eu amo você! Fica bem e se realmente me amar, não me procure! Se precisar assinar algo referente ao meu emprego, ou algo do tipo, vou deixar o telefone da Lizzy e do Jimmy, são meus melhores amigos e estão avisados.

PS:. Lamento muito em não ser a Meghan, teria honrado essa família e mesmo que morresse, morreria por amor a minha filha e deixaria muito orgulho a ela.

Adeus Jared, obrigada por tudo!


Fecho a carta e não consigo esconder meu choro que cai de maneira livre e contínua. Eu não sei o que pensar, perdi minha babá, a mulher que eu amo, a menina que me fez enxergar a minha filha, a menina mulher mais linda que eu já conheci por conta de um medo bobo e sem noção alguma! Eu poderia sim pegar meu carro e ir atrás dela, mas céus, eu não posso fazer isso. Ela tem que respirar, ela tem que se encontrar. Ela me pediu isso e eu preciso provar que eu a amo, e a amo muito!

Levanto da cama e nem havia percebido que sentei, estou tão abalado com esses últimos acontecimentos. E ainda tem o exame de DNA que preciso fazer na minha filha, eu preciso saber se sou o pai dela, se não for eu nem sei como vou me sentir, acho que vai ser a pior fase de todo esse pesadelo que estou vivendo. Fecho a porta do quarto da Liah e passo a chave como se trancasse o cheiro e o sorriso dela para que não me persiga. Solto a maçaneta e tento equilibrar meus pensamentos. Talvez seja de fato um Adeus Liah!

Desço as escadas e pego a chave do carro, preciso pegar a minha filha na casa da Sophia, afinal hoje ela não tem aula e é somente a "pestinha" para me deixar mais animado, o problema vai ser contar a ela que a tia Liah foi embora. No fundo, acho que ela fez o melhor para ela, ela é tão nova e...

Não, ela não pode trancar a matrícula- passo a mão na cabeça- como não pensei nisso antes? É tão importante essa faculdade dela, e depois de lutar ela simplesmente vai jogar para o alto?- pego meu celular e disco para ela.

"Eu amo você! Fica bem e se realmente me amar, não me procure!"

Essa frase aparece na minha mente como se fosse um lembrete, respiro fundo. Ela sabe o que faz!- Pego minha jaqueta e deixo a casa vazia para buscar a minha filha.

Simplesmente LiahOnde histórias criam vida. Descubra agora