Capitulo 2 - O sublime e o nefasto.

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     Tudo começou quando eu encontrava-me com o cotovelo encostado sobre um balcão preto de um bar em uma famosa balada no centro da cidade. Eu estava em um estado de consciência alterada e graças a isso as luzes e os efeitos visuais junto com a fumaça davam um tom místico aos corpos que pareciam dançar em câmera lenta como se todas as dores do mundo ali nunca estivessem existido. O mar de corpos em minha percepção se abriu e ao seu final estava sentado sobre uma cadeira preta de couro encostada sobre a parede decorada com quadros de bandas famosas como New Order, Joy Division; um garoto de olhos castanhos assim como seu cabelo que formava um sublime topete jogado ao lado. Sua pele era extremamente branca, seu porte levemente atlético; seu rosto proporcionalmente oval, de barba bem feita, lábios empalidecidos e um sorriso tímido e aparentemente forçado (apesar de mais tarde descobrir não ser). Ele vestia uma blusa branca, uma elegante jaqueta de couro preta por cima, cheia de detalhes prateados das correntes e zíperes e uma calça igualmente preta de couro. Assim que o mar humano se abriu, em uma única reta, nossos olhos se encontraram. Ele estava sorrindo; não para mim; provavelmente de alguma piada que seu amigo sentado ao seu lado contara; mas ele não desviou o olhar e essa ação acabou sendo tomada por mim segundos mais tarde... Eu sabia que em mim existia o divino e demoníaco, mas sua presença conseguiu subjugar ambos, ou melhor, fazer parecer que nenhum dos dois nunca existiu.  
     Ele ainda olhava para mim quando se levantou lentamente e dirigiu-se para a esquerda, para logo após sumir sobre o mar de corpos que se fechou. Me desapoiei do balcão e caminhei a direção de onde antes estava seu corpo. Mas ele não estava mais lá, e com a sua partida deixou um vazio enorme.
     No dia seguinte despertei após o meu celular apenas ser percebido ao tocar pela segunda vez em uma insistente chamada de Lucas (amigo do qual por algum motivo gastara dois mil reais comigo comprando a complexa droga Lucidum Dei) .
      Eu conhecera Lucas a alguns anos atrás em uma festa de uma amiga que tínhamos em comum. Eu instantaneamente fui instigado por sua figura. Enquanto todos enchiam a cara, ele conversava com um homem negro de cabelo longo e crespo,  que se vestia com uma saia barata e uma bata com estampa africana. Lucas, vestia um aparentemente caro coturno preto até os joelhos, uma bermuda igualmente preta e uma camiseta básica inteiramente branca que contrastava não somente com o resto do conjunto, mas também com seus olhos negros aparentemente semicerrados e seu cabelo tingido. Sua pele era extremamente branca e decorada por inúmeras tatuagens coloridas, que se distendiam até seu pescoço, mãos e outras partes do corpo. Seu maxilar era bem definido e suas sobrancelhas eram grossas, dando-lhe um tom austero... Apesar de sua figura exótica, ele parecia incomumente ao invés de tentar se destacar, camuflar-se ao máximo naquelas camadas de normalidade que a futilidade daquelas pessoas exalavam.
     Naquele dia ao final da festa nos despedimos com apenas um insipido aperto de mãos.
     Dias após no encontramos em uma biblioteca no centro da cidade. Coincidentemente ele se sentara na mesa da frente da qual eu estava. Em sua mão segurava o livro "O mundo como vontade e representação" do filosofo niilista alemão Arthur Schopenhauer... Naquele dia após lembrar-se de minha figura, ele fechou o livro do qual lia para sentar-se na mesma mesa que eu para conversarmos. Tornamo-nos rapidamente bons amigos, apesar da agora não tão grande diferença que possuíamos na época... A quem dizia que Lucas era uma metafórica ancora das boas emoções e que sob debaixo de sua simpática camada libertaria estava sua sádica essência.
     Uma coisa era fato, era visível que a amizade de Lucas com pessoas julgadas perfidamente superiores socialmente baseadas em condutas humanas preestabelecidas, era inexistente... Lembro-me um dia do qual fomos a pedido dele em uma clínica psiquiatra, da qual ele alegou visitar apenas para pegar um calmante, mesmo ele nunca tendo comentado sobre sofrer de insônia ou coisa do tipo... Quando a consulta terminou e saímos do corredor da sala de espera, graças a lotação que obrigava um pequeno grupo a ficar para fora da clínica, vimos um menino muito parecido com Lucas, mas sem as tatuagens e com os pulsos cortados. Olhei a feição de Lucas e reparei quando seus olhos desviaram-se da paisagem comum para seguir uma linha reta nos pulsos cortados do garoto. Um sorriso sádico pareceu surgir em sua boca; logo após ele tirou o celular do bolso, mudou-o para o silencioso, o guardou novamente e imediatamente caminhou até pobre.
     – Eu gostava muito dessa banda – comentou Lucas referindo-se a camiseta do qual o garoto usava.
    – Não gosta mais? – respondeu o garoto nervoso.
    – Enjoei, mas ainda gosto... Escuta... Você pode apenas mandar uma mensagem no meu celular? Você mesmo pode digitar. Acho que o esqueci em casa e minha mãe deve estar preocupada comigo. Faz tempo que estou na rua sem visar!
     – Claro! – respondeu o menino tremulo, colocando a mão no bolso e dele retirando o aparelho... Parecia não conseguir falar ou mover-se perto de Lucas, sequer olhava em seu rosto e com isso não pode perceber a semelhança que possuíam.
     O garoto fez o favor do qual Lucas forjou precisar e com isso o número dele ficara gravado em seu celular. Mais tarde, ambos voltaram a se encontrar de forma da qual eu desconhecia como Lucas o convencera a acreditar na desculpa que ele provavelmente lhe dera para o ter ligado novamente. O garoto começou a usar drogas pesadas; inclusive foi humilhado em uma famosa festa, pois ficou quimicamente alterado a ponto de nem saber mais quem era e por fim o garoto se matou. Morte da qual fora encarada por Lucas com indiferença, se não com felicidade ou um estranho sentimento de alivio.
     "A dois tipos de misantropos... Os que se deprimem e reprimem-se diante da humanidade e os que a pune". Chegou a dizer ele em uma de nossas conversas.
     Lucas assim como eu parecia não conseguir mais separar os indivíduos da espécie. Acreditava que o ser humano já estava propicio a ser escravo da vontade e a vontade propicia a ser escrava do erro.
     Naquele dia após a balada, conversamos. Eu e Lucas. Comentei sobre o garoto do qual eu vi e Lucas comentou o conhecer e também estranhamente disse que era tarde demais pra nós nos aproximarmos. Em seu rosto havia seu característico sádico sorriso.
     Na semana seguinte, eu voltei a mesma balada e me encontrava sobre o mesmo balcão. O garoto estava lá de costas em meu campo de visão, rodeado de amigos. Em sua mão segurava um copo que em seu interior possuía provavelmente alguma bebida alcoólica de cor roxa... Passaram-se aproximadamente meia hora, os amigos daquele garoto foram todos embora, enquanto ele sem motivo aparente permaneceu. Sentou-se na mesma cadeira da semana passada e ficou ali por alguns minutos me observando, até que em um aparente impulso levantou-se e caminhou até a mim. Não posso contar esse acontecimento sem citar o nervosismo que surgira sobre minha consciência e se manifestara em meu corpo... Pra variar eu estava em um estado de consciência alterado o que impossibilitava também que as imagens fossem vistas com a clareza da realidade.
     Eu estava nervoso, mas finalmente estávamos um de frente ao outro. Percebi uma estranha semelhança em nossos traços, mas o modo como nos portávamos era extremamente diferente. Lembrei sem motivo aparente do conselho que Lucas me dera na semana passada da qual eu comentei com ele ao telefone sobre meus constantes vômitos com sangue: "Se você acha que vai morrer, mate tudo o que te possa fazer simbolicamente e esperançosamente se apegar a vida novamente" ... Eu estava dividido em duas versões de mundo. Na aparente sublime vida da qual eu poderia ter, mesmo que tardiamente e inutilmente e na visão nefasta e pessimista de Lucas. 

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