Capitulo 1 - As Dores do Mundo

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     Eu era muito criança; criança a ponto de nem lembrar-me se a realidade fazia-me sentido naquela época. Mas lembro-me com perfeita clareza da cena da parte da frente do veículo do qual eu estava contrair-se até que minha mãe desaparece na escuridão de minha inconsciência.
     O que falar dela? Como sentir sua falta? Como escorrer-me lagrimas dos olhos ao palestrar a sua morte ... Pra mim ela era a mulher das fotos dos álbuns de família que sempre estava comigo em seu colo ... Preferia tentar não pensar nas hipotéticas camadas de nefasta humanidade que seu sorriso e seu olhar melancólico extremamente humanos parecia talvez esconder. Era tudo tão hipotético... Seu amor, seu sorriso, sua proteção. Proteção da qual eu ao longo de meu crescimento pensei que extrairia de meu pai; mas na realidade era por causa dele que eu almejava tanto ser protegido.
     Meu pai era um homem de olhar austero, cujo porte atlético, a forma imponente como se portava e a forma elegante como se vestia, dava-lhe um ar de um ditador de filmes distópicos. Sua cabeleireira negra parecia a juba de um leão; sedoso, volumoso, fino e de um brilho que não era proveniente de oleosidade... Enquanto seu corpo saudável encobria sua verdadeira idade, seu rosto paradoxalmente possuía uma feição um pouco envelhecida. Não por possuir rugas ou por um descuido físico com sua aparência e sim era-lhe característica natural.
     Como pessoa, sua personalidade era de difícil digestão. Irritadiço e preso ainda em conceitos morais mais antigos que os de sua existência... Às vezes eu até acreditava que ele apenas usava-os de pretexto para originar desavenças, já que nossas presenças pareciam as vezes ser um peso na vida do outro... Mas minha misantropia extrema não surgiu com ele e sim em minha escola. Não quando eu era ainda uma criança com as faculdades mentais ainda impossíveis de perceberem o nível da monstruosidade humana, mas lá pra minha adolescência, aos dezenove anos, dos quais antes repeti três vezes o primeiro ano em uma escola tradicional no centro da cidade; graças a minha depressão que dificultava qualquer aprendizado e vontade de estudar. Esse sentimento de aversão a humanidade foi proveniente de todos os tipos de abuso possíveis que sofri. Desde humilhações, até violências físicas constantes causadas por uma irracional intolerância ao meu jeito e a minha aparência dita por eles malquista. Mas não os culpo, já que vejo o ser humana como uma criatura de existência propicia ao erro. Uma criatura que se divide entre seus instintos sombrios, indomináveis e cegos e sua consciência controladora e impertinente. Um ser que não consegue aguentar o incomodo que é simplesmente viver e por isso converte-o em desejos intermináveis e em impulsos destrutivos... Pra mim a vida é um erro acima de tudo. E não digo isso intuitivamente. Mesmo que eu não possuísse depressão, vendo pela forma racional ainda assim enxergaria deste modo. A vida é algo muito frágil para vencer a inexistência que antes imperava. O estado natural e real de todas as coisas. A morte esta ai para provar a sua vitória e o fato de que a existência tenta a qualquer custo se sustentar, mas não consegue. Como um prédio mal construído que não é capaz de suportar seu próprio peso.
     Minha depressão a cada mês que passava ficava cada vez pior e junto com ela vinha a ansiedade, o TOC, a paranoia, a despersonalização e a desrealização... Muitas pessoas me diziam que era falta de deus no coração (com letra minúscula mesmo), mas eu não conseguia encontrar motivos para tê-lo nele. Eu não acreditava em sua existência, mas mesmo assim eu conseguia nutrir um ódio por todo o seu conceito. O conceito de um deus que era a personificação da indiferença e da desigualdade; que só atendia quem acreditasse, pedisse, respeitasse, e o amasse; mesmo que estivesse beirando a morte. O deus que curava as doenças, mas que não podia preveni-las. É o deus que criou o narcisismo e o egocentrismo, o deus que precisava se sentir superior em sua bondade, em sua empatia, em sua justiça. O onisciente que mesmo podendo prever a existência do pecado, criou o ser humano para ser observado, julgado e punido. O deus que mesmo sendo onipotente criou a Terra e o pecador, mas que não pode interferir nas desgraças que seus filhos cometem e sofrem, pois acima de tudo nos criou um livre-arbítrio. O deus que prefere seguir suas regras de criação do que ver seus filhos felizes e sem medo... O deus do respeito, do medo, da devoção, mas NÃO o do amor.
     Sem a fé para me dar uma ilusória e fútil esperança. Sem amigos para me dar conforto e com um pai indiferente aos meus sentimentos, procurei refúgio nas drogas. E olha... Que belo refúgio meus estados de consciência alterados me proporcionaram. Um véu Maya sobre o mundo opressor. A união entre a consciência e a personalidade. A fuga da rotina diária... Era tudo tão novo, mesmo que tudo viesse a se tornar tão comum.
     Comei na pior delas. O álcool. O que aparentemente mais unia o que eu queria ser e o que eu era e por isso no qual eu mais me viciei. Acabei exagerando. Entrava bêbado para escola; vivia embriagado sem conseguir nem andar junto de colegas pela rua e em situações humilhantes de mesma natureza. Depois comecei a usar LSD, ecstasy, cocaína que me mantinha acordado, já que por algum motivo eu sentia um dominador sono durante o dia.  Mais recentemente experimentei de um amigo uma forte droga alucinógena e estimulante, feita de uma planta extremamente rara chamada Lucidum Dei. Ela custava por volta de dois mil reais e seu efeito crescente parecia durar muito mais que semanas ... As drogas viraram pra mim, mais do que uma escapatória e sim como um remédio do qual eu todo dia as tomava para condicionar minha personalidade... Bom... Acabei contraindo uma doença da qual eu desconhecia, pois possuía um assombroso medo de fazer exames médicos; mas seus efeitos eram terríveis. Todo dia ao acordar eu vomitava uma significativa quantidade de sangue, junto a visão embaçada e fraqueza corpórea. Eu sentia que estava morrendo e eu estava feliz, já que após um longo processo niilista de condicionamento cético mental, eu estava totalmente desapegado a existência; mas infelizmente alguém apareceu em minha vida obrigando-me a permanecer em sua fragilidade e isso foi o que de mais torturante podia-me acontecer.     


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