Passaram-se alguns meses e eu e o garoto do qual o nome também era Alberto tornamo-nos bons, se não, melhores amigos. Gostávamos das mesmas coisas, tínhamos os mesmos pensamentos; mas ele ainda estranhamente parecia-me uma versão de tudo o que eu queria ser e estava me esforçando para me tornar, mas eu não conseguia sentir inveja dele apesar de parecer essa personificação, eu só conseguia o admirar, diferente o que ocorria com outras pessoas.
Eu ficava preocupado pois cada vez estava mais difícil de esconder dele a minha doença já que passávamos a maior parte do tempo juntos. Um dia enquanto estávamos alucinados por dois papeis de LSD cada, chegamos a nos beijar o que sempre causava-me enjoou e por isso acabei vomitando uma grande quantidade de sangue sobre o chão da balada. Ele parara o ato e me fitou de forma estranha, depois colocou a mão sobre minha nuca e continuamos a nos beijar, mesmo que minha boca ainda estivesse extremamente ensanguentada. Após isso ele me sorriu, revelando seus dentes tingidos de vermelho e sua boca manchada com meu sangue.
Fechei os olhos lá dentro por alguns segundos e como uma alucinação ou um sonho lucido acordado causados pelos efeitos psicodélicos se projetarem em minhas pálpebras as imagens de Alberto como um animal selvagem debruçar-se sobre o chão e com a língua lamber o sangue que havia sobre ele caído e depois sem que eu percebesse sua súbita transformação na criatura de chifres e sem face.
Bem... Depois desse episódio entendendo a razão de minha vergonha, ambos fomos embora. Mas eu no fundo não estava tão magoado quanto achei que estaria. Muitas coisas boas haviam me acontecido... Eu conversara com Alfredo que me reafirmou sobre o emprego com o salário de mil e seiscentos em algo do qual eu possuía plena facilidade. A minha relação com meu pai estava boa, apesar de Lucas tentar talvez para meu desprendimento emocional sabota-la várias vezes. Havia pela primeira vez um melhor amigo. Estava tomando meus remédios. A única coisa da qual realmente podia me preocupar naquele momento era a minha morte ao invés de deseja-la como ocorria antes.
Bom esses episódios que ocorrera com o meu pai, trata-se de dois acontecimentos. O primeiro foi após um dia ser assaltado e ter levado uma facada ter descoberto pela confissão do próprio que o assaltante era primo do Lucas, que havia pedido para que ele fizesse isso e que a facada que me dera fora de desespero já que eu estava me defendendo, meu pai acabou descobrindo, o que o fez bater em Lucas aponto de sair-lhe sangue pela boca, pelo nariz e ter-lhe deixado com algumas outras marcas. A segunda foi no dia da qual Lucas manipulou uma amiga minha para ir até em casa pedir um livro no meu armário dando ao meu pai como localidade a descrição de onde eu escondera alguns pinos de cocaína da qual eu tirara no dia para usar junto de Alberto.
Bom, voltando ao dia da balada. Eu e Alberto ingerimos dois pequenos papeizinhos de LSD no banheiro da balada. Passaram-se alguns segundos e ambos estávamos no paraíso. Parecia que lá apenas Lucas não havia entrado em meus campos de distorção alucinógena, eu conseguia o ver com tamanha precisão e nitidez, talvez até mais do que era real. O resto do cenário estava extremamente distorcido. As pessoas deixavam rastro coloridos de seus próprios corpos enquanto moviam-se em câmera lenta. As luzes estavam extremamente fortes e a fumaça que saia das maquinas deixava tudo ainda mais místico. Lembro-me de alucinado fitar por minutos uma menina linda, negra, de tranças e vestido florido e como um animal selvagem dei o bote partindo para beija-la e logo após Alberto fizera o mesmo.
Chegamos em casa lá por volta da seis da manhã, ele de início se recusara, até estranhamente se surpreendera e se assustara ao saber que aquela era minha casa, mas acabou cedendo-se a entrar por um estranho e aparente sentimento de curiosidade ou autoconfirmação. Esse sentimento não desapareceu após entrar, ao contrário se intensificou a ponto de percebe-lo tremulo.
Passaram-se alguns dias e ele inexplicavelmente se afastou de mim, mas acredito que ele devia ter seus motivos, já que após um tempo houve uma reaproximação. Apesar de nossa amizade parecer abalada e teatral após disso dei-lhe um voto de confiança pelo esforço.
Lucas a uns dias atrás alegando que desejaria desculpar-se de mim e de Alberto (embora nem mesmo Alberto soubesse o motivo), combinou um encontro em minha casa lá por volta das dezoito horas da tarde. Dissera que queria que esse encontro fosse diante do pôr do Sol; o que meu causara um imediato estranhamento.
Acordei dedicado a investigar fatos que talvez pudessem confirmar-me a respeito das acusações relacionadas a personalidade duvidosa de Lucas. Por volta das nove horas da manhã mandei pelo celular uma mensagem de texto para Violeta (amiga ou sei o que de Lucas que me contara de sua suspeita de que ele tivesse induzido o suicídio do garoto cujo nome acredito ser Ivan). Combinamos de nos encontrar em um pequena lanchonete no centro da cidade. As dez e quarenta e sete aproximadamente, cheguei ao local de destino e pude vê-la, sentada sozinha em uma mesa, penteando com os dedos delicados seu cabelo loiro. Cumprimentamo-nos com um beijo no rosto e eu fui direto ao ponto:
– Vim falar sobre o Lucas!
– Eu imaginei – respondeu ela fechando levemente seus olhos azuis penetrantes. – Ultimamente ele anda sendo a última pessoa da qual eu gostaria de estar falando, mas vou abrir uma exceção para você pois sei de sua condição.
– Que condição?
– Você está morrendo!
Sem dizer nada e também sem conseguir controlar meus impulsos, dei um profundo suspiro ocasionado pela força com que aquelas palavras me atingiram, embora mesmo antes delas serem ditas eu já soubesse de qual condição ela se referia.
– Sinto muito – lamentou-se ela tentando amenizar o que dissera.
– Eu gostaria muito de saber mais sobre o garoto do qual você disse que o Lucas o convenceu a se matar.
– Você então quer saber sobre um garoto que nunca existiu.
– O que quer dizer? – perguntei um pouco confuso.
– Lucas me pediu para inventar essa história para você. A única pessoa da qual tentou se matar foi o próprio Lucas. Eu o conheci antes de tentar fazer isso. Ele era depressivo, era humilhado por todos, não possuía amigos... Então um belo dia não sei como conseguiu aquela droga cara da qual todos parecem não quererem assumir seus verdadeiros efeitos. Ele tentou se matar após isso e antes dizia que via um ser que o perseguia. Um ser que constantemente imergia de uma poça de sangue do solo e sussurrava para fazer as piores coisas. Ele foi pro hospital e quando saiu de lá tinha se transformado em uma pessoa totalmente diferente. Parecia que possuía controle total de seus sentimentos, não sentia mais tristeza, medo. Ele até se tornou uma pessoa divertida e agradável mas ao mesmo tempo perigoso e insidioso.
– Mas cadê as marcas no pulso dele?
– Ele passa maquiagem.
– Mas uma mulher do hospital da qual meu pai é amiga confirmou que um tal de Ivan havia dado entrada tentando ter se matado lá.
– É o Lucas... Ivan Lucas.
– Eu não estou entendendo o que anda acontecendo. Eu vi esse garoto no psiquiatra quando fomos, ele parece ter ido atrás dele.
– Já parou pra pensar que essa confusão mental tenha sido efeito daquela droga? Meu amigo transexual alucinava com uma mulher que no caso era ele antes de transformar-se em homem.
Confuso e um pouco assustado com aquelas afirmações inventei uma desculpa para sair da lanchonete o mais depressa possível. Após dar algumas voltas no centro tentando esfriar minha cabeça cheguei em frente em casa lá por volta de das seis horas e me deparei com um som alto da sétima sinfonia de Beethoven da qual podia atravessar as paredes de casa... Estendi lentamente meu braço, até que minha mão alcançasse a maçaneta da porta e assim que a abri o som antes abafado ficou muito mais alto e pude ver sentado no sofá Alberto. De olhos fechados. Vestia uma calça preta assim como seu coturno até um pouco abaixo dos joelhos, junto de uma blusa de frio igualmente preta. Em sua mão segurava uma taça de vinho do qual provavelmente abrira da coleção de meu pai.
– O que você faz aqui? – perguntei.
– Vim para a reunião que o Lucas convocou.
– Como conseguiu entrar?
– Você pergunta como consegui entrar em minha casa? – perguntou ele levantando-se em minha concepção de forma um pouco ameaçadora.
Por de trás de minhas costas a porta abriu-se lentamente e quando olhei para trás pude ver a figura de Lucas entrando em minha sala. Alberto lhe deu um inexplicável decepcionado sorriso, enquanto Lucas me cumprimentou com um aperto de mãos.
– Foi bom que você veio aqui – comentei. – Preciso que me explique algumas coisas.
Ele apenas sacudiu a cabeça em um gesto afirmativo e estendeu seu braço para que Alberto o cumprimentasse. Assim que a mão de Lucas tocou a de Alberto em um súbito impulso ele puxou o corpo de Alberto para perto de si e como um animal selvagem cravou seus dentes no pescoço de Alberto com tamanha força que um jato de sangue saiu de suas veias de encontro ao meu rosto. Com o susto e com sangue ardendo sobre meus olhos mal pude ver o momento do qual Alberto caíra no chão e Lucas debruçara seu corpo sobre o dele. Esfreguei minhas mãos nos olhos afim de fazer com que minha visão ficasse mais nítida e assim que isso ocorreu empurrei Lucas tirando-o de cima do corpo já inanimado de Alberto.
– O que você fez? – berrei aos prantos.
– Você não compreendeu o efeito dessa droga não é mesmo? Eu disse que ele era mais esperto. Ele estava aqui para te matar... Sabe qual a diferença entre nós? Você vomita o seu sangue, enquanto eu vomito o dos outros – discursou ele com a boca ensanguentada como uma hiena faminta.
Em um súbito impulso instintivo do qual minha consciência parecia nem sequer ter existido naquele momento, chutei o rosto de Lucas com tamanha força que o fez desmaiar, Antes voando um jato de sangue de seu rosto. Pulei o corpo de ambos para dirigir-me para o telefone. Meus dedos tocaram a primeira tecla do telefone para ligar para a polícia quando ouço uma voz da inumana chamar-me na direção da qual antes parecia estar os corpos e quando olhei deparei-me novamente com a figura daquele ser sem face e com chifres imergir da poça de sangue ao chão como se ele houvesse aberto um buraco no solo.
Meu coração imediatamente disparou causando-me um intenso frio na barriga e um amolecimento nas pernas como se nelas não houvessem mais ossos. Não conseguindo manter-me em pé diante daquela criatura, meu corpo acabou desabando ao chão. A criatura imergiu por inteira da poça de sangue, deslizando sobre o piso ensanguentado com uma imensa dificuldade em ficar em pé.
Eu apavorado comecei a gritar. O ser aproximou-se do corpo de Alberto e com sua mão de gigantescos dedos pontudos colocou-os sobre sua face. Eu em um cego impulso corri para a cozinha e do faqueiro arranquei três facas pontiagudas.
– Alberto – chamou-me o corpo de Alberto ainda vivo porem agonizando.
Atirei a primeira faca em direção ao ser que arrastava-se sobre o chão. Ela acabou caindo perto de seu corpo mas não o atingiu. Em minha segunda tentativa o ser entendeu a mão e como fosse um campo de força a faca pareceu chocar-se com algo no ar e voltar velozmente em minha direção, atingindo-me em cheio na perna. Cai no chão aos berros, enquanto observei o ser arrastar o corpo de Alberto para a poça de seu próprio sangue e segundos depois seu corpo começou a afundar como se estivesse em areia movediça até sumir por completo. Eu estava tão apavorado que não consegui reagir e acabei entregando-me ao ser do qual arrastou seu corpo para perto de mim. Ele com seus dedos longos segurou minha face apertando-a fortemente fazendo com meus lábios permanecessem abertos. Ergueu sua outra mão e deixou pingar uma gota de sangue sobre minha língua. Um forte êxtase de prazer corporal tomara conta de mim naquele momento. Eu havia finalmente entendido que eu havia me libertado de tudo o que eu poderia e gostaria de ser e agora sim eu poderia morrer em paz, sem sofrimento. Da forma mais dura eu havia sido liberto das amarras da vida. Liberto de mim mesmo, assim como Lucas fizera, mas em seu caso, ele possuía a vida toda pela frente e por isso conseguira tornar-se aquilo que sempre quis.FIM
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Se você aguentou ler até aqui, gostaria que deixassem seus comentários sobre suas interpretações sobre toda a metáfora da obra. Obriago :)
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Tardio
Short StoryUm conto metafórico sobre um garoto chamado Alberto, cujo possuía depressão profunda e nunca teve nada na vida. Sua mãe morreu quando ele ainda era pequeno. Sofria abusos morais do pai, humilhação e preconceito das pessoas de sua escola e tudo pare...