Capítulo 49

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De volta aos cinco anos depois

De olhos fechados lembrava-se daquele dia, guardava o cheiro ainda na memória e por vezes refazia essa cena em sua cabeça, mesmo com o passar dos anos. Uma batida na porta a tirou de seus pensamentos.

- Camila! Está na hora. - era Justin a chamando.

Haviam ficado sócios depois de alguns anos trabalhando juntos. Uma oportunidade apareceu para que Justin abrisse um novo estúdio e Camila entrou de sócia com ele. A parceria deu muito certo e o trabalho deles era considerado um dos melhores do país. Sempre que a mídia queria lançar uma banda ou cantor, procuravam o estúdio. Os melhores cantores de bandas também gravavam seus cd's sob os arranjos de Camila e atualmente já arriscavam montar uma produtora para gravação de DVD. Ela sabia muito bem o quanto trabalhara para conquistar tudo que tinha. E com a ajuda de poucos, sua família, Veronica e Simon. Drew também fez parte dessa trajetória, embora acompanhasse sempre de longe.

Quando entrou na sala de observação ficou aguardando os músicos começarem, sua presença causava certo frisson. Camila continuava linda, agora com os cabelos um pouco mais curtos, num corte repicado e moderno. Malhava todos os dias e corria quando tinha tempo, hábito que fez seu corpo mudar radicalmente.

- Essa é a tal Camila? - perguntou um dos músicos dentro da cabine.
- Sim. Aquela da revista que você viu. - respondeu o outro.
- Nossa que gata! É mais bonita ao vivo. Eu pegava ela. - falou com um sorriso sarcástico. O que ele não sabia era que os microfones já estavam ligados e podia-se ouvir até a respiração deles de onde a empresaria estava.

Justin estava ao lado dela achando graça do comentário.

- E aí Mila, pega ele?
- Pego, só se for pra jogar fora. - Camila apertou um botão chegando perto de um microfone e pigarreou. - Gente, os microfones estão ligados, estão prontos pra começar? E... ah sim... Baixista, eu não estou disponível para "pegação". - sorriu.

O rapaz não soube onde enfiar a cara de tanta vergonha. Camila e Justin riam de onde estavam e deram sinal para que a banda começasse. Sua rotina era acompanhar as gravações e trabalhar na produção das músicas. Algumas vezes dependendo do músico chegava a criar o arranjo fazendo uma participação no cd. Adorava o que fazia e por isso tinha tanto sucesso.

Rio de Janeiro

- Até que enfim lembrou que tem mãe.
- Desculpa mãe, tive um problema com o carro e não pude vir antes. - falou Lauren saindo do carro.
- Porque não veio no outro?
- Está com um problema no ar condicionado e não quis vir nele, vou mandá-lo também para a revisão e depois vender. Já está na hora de trocar.
- Você e sua trocação de carro. E aquele outro, porque não o vende também.
- Não! Aquele carro vai ficar guardado.
- Vai desvalorizar.
- Não interessa. Ele ficará exatamente onde está. - Lauren se referia ao carro que havia dado a Camila.

Entraram em casa e depois de deixar suas coisas no quarto Clara sentou na sala para conversar com ela; estava preocupada com a filha.

- Como estão as coisas?
- Indo. Muito trabalho no escritório e pouca distração.
- Por que não viaja? Você gosta e pode muito bem tirar uns dias pra descansar.
- Não quero, o trabalho me ajuda a desviar meus pensamentos.
- Lauren, minha filha, já se passaram cinco anos. Você não pode viver só por conta de trabalho, muito menos de lembranças.
- São elas que me mantêm viva ainda. - abaixou a cabeça.
- Acho que vou para o Rio ficar com você, assim posso cuidar melhor da sua alimentação e da sua saúde. Você está muito magra. Sem contar essa novidade de fumar, acho isso um absurdo pra alguém que levava uma vida tão saudável.
- O cigarro me acalma.
- E te mata também.

Lauren passou o fim de semana com a mãe e na segunda voltaram as duas para o Rio. Clara ficou no apartamento e Lauren foi trabalhar. Estava no escritório quando Tyler entrou com uma revista na mão.

- Bom dia! Seus documentos, seu cappuccino e seu cigarro. Argh! - fez uma careta. - Ah sim e mais isso aqui. - jogou a revista na mesa.
- Que é isso?
- Uma revista, livro conhecido por reportar notícias do país ou do mundo abrangendo fatos do cotidiano, política, saúde e cultura.
- Deixa de ser besta! Estou perguntando o que tem nela pra me interessar.
- Folheie, e vai saber.

Lauren a princípio não deu atenção, mas como estava há horas lendo o mesmo processo decidiu relaxar. Olhou para a revista e a pegou começando a folhear e qual foi a sua surpresa ao ver Camila dando uma entrevista em sua casa e haviam fotos de sua mãe e uma menina que deveria ser a sobrinha, mais alguns amigos. O coração da morena disparou, leu a reportagem toda e viu as fotos. Olhava para os olhos de Camila e sentia um desespero; ela parecia feliz, mas seus olhos não condiziam com aquilo tudo. Tinha uma foto dela com Sofia e a menina estava a cara da tia. Que também estava diferente, o rosto mais fino, cabelos mais curtos, estava mais magra e mais bonita. Não conseguiu mais trabalhar naquele dia e foi pra casa.

- Mãe! Olha essa revista! - disse chegando à sala do apartamento.

Clara olhou e levantou uma sobrancelha.

- Eu já vi.
- Como assim já viu? Não me falou nada.
- E pra que vou te falar que vi Camila numa revista? Pra você ficar chateada?
- Ela é dona de um estúdio, eu já sabia, mas o trabalho deles é reconhecido mundialmente. Estou tão feliz por ela. - falou olhando para a foto.
- Também fiquei feliz, ela merece tudo que conseguiu.
- Olha Sofia como está a cara dela.
- Realmente são bem parecidas.
- Está tão linda. - admirou a foto.
- Você já tentou falar com ela depois daquele dia da formatura?
- Não! - Lauren respondeu como num susto.
- E por que não? Quem sabe ela não está mais receptiva.
- Camila nunca mais vai me aceitar. - falou chateada.
- Minha filha. - Clara sentou ao lado dela e segurou suas mãos. - Você errou feio, não foi por falta de aviso isso...
- Sermão agora mãe! - interrompeu.
- Não estou lhe dando um sermão, mas um conselho. Errou, mas pode tentar consertar, ao menos tente e se não conseguir é porque não tinha que ser mesmo. Quando tudo aconteceu eu imaginei que você ficaria chateada, mas logo se recuperaria e continuaria com sua vida. Hoje eu vejo que gostava mesmo de Camila e por que fez aquilo tudo eu ainda não entendi, mas tente reconquistá-la. Você é boa nisso.

Lauren passou a tarde toda olhando para a revista. Seus pensamentos a levaram num tempo em que se sentia mais feliz.

"Acho que uma das melhores coisas do mundo é poder se aconchegar nos braços de quem se ama... Porque eu te amo, porque quero proporcionar a você o que tiver de melhor nessa vida e falo no sentido material e emocional. Nunca se sinta sozinha, porque terá sempre a mim... Camila, você quer ser a mulher a ficar do meu lado, a pessoa mais importante, a minha prioridade, a pianista dos meus sonhos e a minha cozinheira preferida?"

Lembrava de tudo com detalhes. Dormiu pensando nela.

Depois que Camila descobriu tudo, Lauren tentou correr atrás dela, mas não conseguiu e sabia que não poderia simplesmente sair do apartamento usando um roupão. Até que se trocasse já teria perdido a garota de vista. Voltou e viu que Alexa havia acordado com a confusão. Tiveram uma discussão e um ponto final, porém tardio.

- O que está acontecendo?
- Quer saber mesmo? Você conseguiu, está satisfeita agora? Arruinou minha vida, por sua causa eu perdi a pessoa que mais amo nesse mundo.
- Você não me comeu a força, fez porque quis. - Alexa falou com deboche. - Quando estava entre minhas pernas não pareceu achar ruim.

Levou um tapa da morena na mesma hora. Lauren nunca batera em ninguém, quanto mais em uma mulher. Alexa ficou atordoada, colocou a mão no rosto sentindo-o queimar.

- Some da minha vida, eu quero você longe de mim. Você não me traz nada mais além de confusão e o que sinto por você é nojo, por rastejar aos meus pés, por implorar que eu fique com você. Perdeu seu orgulho se oferecendo como uma vadia. Fora daqui! - gritou a última frase.

Alexa vestiu sua roupa e saiu do quarto, quando ia embora falou da porta.

- Saiba que não fiz nada sozinha e que poderíamos nos dar bem juntas, mas você está me trocando por uma pobre da roça. Agora quem não quer sou eu. - bateu a porta e saiu.

Lauren vestiu uma roupa e saiu em disparada para o apartamento de Camila, mas chegando lá estava tudo escuro e achou que ela não estivesse lá dentro. Rodou por horas de carro e depois voltou lá, mas continuava tudo escuro. Ficou preocupada em onde Camila poderia estar; não tentou o celular, pois sabia que não atenderia. Esperou que as coisas se acalmassem para procurá-la na faculdade, mas o encontro foi desastroso. Sua vida virou de cabeça pra baixo. Não tinha entusiasmo para trabalhar e só fazia cumprir agenda. Perdeu o contato com os amigos e vivia trancada em casa, somente sua mãe ia visitá-la. Clara nada falava do acontecido, só quando Lauren mencionava o nome de Camila. Via a filha definhar num choro constante, estava realmente no fundo do poço. Começou a fumar e se estressava constantemente, se alimentava mal e emagrecera muito por conta disso. E nunca mais viu Camila até o dia de sua formatura. Estava linda tocando piano, era a estrela da noite. Não ia se aproximar, mas acabou não resistindo. E o abraço daquele dia revivia a todo o momento em sua mente.

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