Capítulo 24

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Lauren não entendeu o que ela disse, somente a abraçou. Depois pegou a mochila dela e colocou na cadeira, depois sentou com Camila no sofá. Ela ainda chorava. Ficou acariciando seus cabelos até que ela se acalmasse. Quando ela parou e a olhou com aqueles olhos castanhos, mas vermelhos pelo choro, ficou sensibilizada.

- Amor, que foi? Não estou desmerecendo sua reação, mas me parece que tem mais coisa acontecendo. Quer me contar?

Camila abaixou a cabeça.

- Não tenha vergonha de mim.

A pianista tomou fôlego, passou as mãos no rosto para limpar as lágrimas, depois olhou nos olhos de Lauren e falou.

- Já fui violentada uma vez.

A morena arregalou os olhos e não soube articular uma palavra.

- Vou te contar isso somente uma vez, porque é um assunto que só minha mãe sabe.

Lauren a olhava demonstrando toda sua atenção.

- Quando eu tinha oito anos, tínhamos um vizinho que era casado e não tinha filhos. Ele e sua mulher sempre gostaram de criança, então eu ia muito lá. Um dia ele estava sozinho em casa e me chamou pra sentar no colo dele, eu fui. Daí ele começou a passar a mão em mim e me lamber. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas sabia que aquilo não era certo, afinal estávamos numa sala que ele tinha como uma oficina e ela ficava bem escondida.

Lauren apertava a mandíbula num gesto tenso e cerrava o punho. Camila continuou.

- Não sei dizer quanto tempo eu fiquei ali, mas ouvimos um barulho no portão da casa e era a esposa dele chegando, então ele me soltou e eu saí correndo. Ele sabia que eu não contaria nada, por isso nem me ameaçou. Nunca mais entrei na casa dele sozinha. Mas pra minha desgraça meu pai o chamou pra ajudar com alguns serviços no sítio e ele vivia rondando meu quarto. Nessa época eu já era uma mocinha, devia estar com uns doze anos. Um dia ele entrou no meu quarto enquanto dormia, só não fez nada porque meu irmão chegou na hora.

- Seu irmão percebeu?

- Não, esse vizinho é um senhor muito católico, muito solícito ali na região e ninguém desconfia dele, pelo contrário. Gostam muito dele e da esposa. Depois de alguns meses meu pai o dispensou.

- Ele ainda é vivo?

- É, mas está entrevado numa cama, a esposa que cuida dele. Diversas vezes meu pai já foi lá ajudá-la a levantar ele da cama ou do chão, pois como é muito grande e gordo, às vezes cai e a esposa não aguenta levantá-lo. Como eu sumi da casa deles sempre me cobravam uma visita, aí um dia contei pra minha mãe o motivo deu nunca mais ter voltado lá. Ela chorou tanto, disse que eu deveria ter contado na época, mas eu não entendia direito o que era e sentia vergonha.

Quando Camila acabou de falar, Lauren estava respirando pesado, parecia bufar de raiva. Seus olhos pareciam escurecidos de ódio.

- Esse infeliz devia estar na cadeia.

- Existem muitos como ele e eu penso em quantas crianças não o visitaram que ele não fez o mesmo que fez comigo.

- Cretino desgraçado! - fechou o punho dando um soco na poltrona.

- Jurei que nunca faria nada de que não tivesse vontade. Principalmente sexo, ter alguém a força é um ato de crueldade sem tamanho. - sua voz saiu chorosa.

Lauren a abraçou tão forte, como se quisesse mostrar que tudo estava bem.

- Não fique assim meu amor, já passou e hoje ele está tendo o que merece. Deus sabe o que faz. Isso me revolta de uma forma como não sei explicar. Sabe disso, pois coloquei na cadeia aquele imbecil do qual falamos aquela vez. - Lauren pegou as duas mãos de Camila e as beijou. - Sinto muito que tenha passado por isso. Prometo, juro pela minha mãe que nunca vou te forçar a nada. Nosso relacionamento será baseado no consentimento mútuo. Está me entendendo? Não quero que nada de mal lhe aconteça. - A beijou nos lábios. - Eu te amo Camila. - Lauren voltou a abraçá-la sentindo uma dor no coração. Estava com pena e ao mesmo tempo com raiva da própria atitude. Ficou sensibilizada com a situação de Camila e nunca poderia ter imaginado que algo assim tivesse acontecido com ela.

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