Na superfície (LIVRO COMPLETO)

Onze

"Por que não coloquei um vestido?"

Esse era o efeito do desejo que percorria o meu corpo, afetando os critérios conscientes da minha mente e trazendo pensamentos insensatos. Os beijos de Fausto me conduziam ao prazer tão rápido que a minha consciência não acompanhava as minhas necessidades. Uma delas era a de não ceder, não me entregar tão facilmente, não sem antes raciocinar e concatenar tudo o que tinha ouvido.

Espalmei a mão no peito de Fausto, pressionando e o empurrando para longe de mim. Ele foi me soltando devagar, a barba bem aparada roçando no meu rosto, me fazendo formigar por dentro, um choque elétrico que percorria meu corpo e terminava entre as minhas pernas, me fazendo lutar para não deixar escapar um gemido de prazer.

Ele apoiou a mão na porta do reservado, me deixando de costas entre ele e a porta, o braço totalmente esticado e tensionado, mostrando todos os músculos bem trabalhados... A outra mão ajeitou o cabelo, a barba e depois repousou no meu ombro, relaxando-o com os dedos. Uma tentativa de me acalmar, mas eu só me senti mais encurralada. Perdida.

— Fausto, eu preciso pensar. Eu realmente preciso digerir tudo isso.

Recebi um beijo demorado na testa e ele me puxou para si, apoiando o queixo sobre minha cabeça. Era uma completa confusão de sentimentos, de vontades e de escolhas. Simplesmente me permiti ser abraçada, unindo minhas mãos em suas costas, apertando sua cintura e sentindo o quanto ele estava excitado, a ereção quase abrindo o zíper do jeans. Ficamos ali alguns minutos, nos recompondo. Alternava entre querer socar o peito dele tanto quanto o queria dentro de mim. Eu não podia tomar qualquer decisão nesse estado.

Fausto saiu do reservado e da toalete antes de mim. Aproveitei que estava sozinha para lavar o rosto, me olhando no espelho por alguns segundos, um esforço frustrado de suavizar minhas expressões, na esperança de não ser tão transparente com meus sentimentos.

Quando voltei à mesa, ele já tinha acertado a conta e me esperava, levantando da cadeira assim que me aproximei. Estendeu a mão e eu titubeei entre aceitar ou não aquela atenção. Sem esperar minha decisão, aproveitou quando passei à sua frente e novamente repousou uma mão na curva das minhas costas, o polegar fazendo pequenos e leves círculos acariciando o ponto em que a curva termina na lombar e fazendo todos os pelos do meu corpo arrepiarem. Era dolorido me dar conta do poder que esse homem tinha sobre meu corpo. Isso não facilitava em nada minhas escolhas, meu julgamento iminente e necessário, diante dos fatos colocados às claras.

Saindo do restaurante, a promoter nos interpelou, querendo saber sobre o serviço. Fingi não ter visto quando ela colocou sorrateiramente um papel dobrado no bolso da camisa de Fausto. Também fingi não ver que ele pegou o papel, o amassou e colocou nas mãos dela, pedindo que o jogasse no lixo, por gentileza. Acho que só não consegui disfarçar a expressão de triunfo que com certeza exibi. Internamente, estava vibrando de alegria, e me sentindo idiota por me alegrar com isso, mas me dei o direito de ter esse momento, por mais que fosse um momento ilógico para a minha razão. Ela, a consciência, sabia que não existia nada concreto entre nós, nem qualquer necessidade de Fausto fazer o que fez, rejeitar aquela mulher que, sendo bem sincera, era muito atraente, mais atraente que eu, absolutamente. Mas ele fez e eu gostei disso.

Na calçada, respirei fundo e soltei o ar rapidamente, olhando o céu com poucas estrelas e tentando não deixar aquele mar de confissão me arrastar. Fausto enlaçou minha cintura em seus braços fortes, envolvendo meu corpo por trás, o calor do seu corpo me aconchegando. Em seguida me segurou uma das minhas mãos, entrelaçando nossos dedos e me levando para o carro. Me deixei levar.

Cinco minutos e estávamos em frente ao prédio da minha mini república. Ele desligou o carro, o único barulho vinha do rádio, The Police tocando Every Breath You Take... Cantarolei um pouco, bem baixinho, acompanhando a música: