Dezoito

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Eu estava imóvel. Meu cérebro parecia que ia implodir. Essa era a ex "louca"? O que tinha sido essa conversa? Eu me levantei e Amanda também, vindo até mim.

— Jess? Está tudo bem?

— Estranhamente... Sim. – Estava de boca aberta. Incrédula.

— O que ela falou? Achei que vocês iam bater boca, gritar...

— Então... Ela me disse que eu posso fazer o Fausto ser feliz... – As palavras saíam da minha boca aleatoriamente.

Eu tinha me preparado para uma cena. Um evento. Cataclisma. Nunca me senti tão idiota. Ela era mulher, como eu. Passei por percalços na vida, enfrentei uma traição, quis muito fazer um escândalo e "lavar a minha honra". Me senti um lixo, desacreditei das minhas qualidades... Sinceramente, achei que era o que estava acontecendo com a Monica. Mas vi uma pessoa inteligente emocionalmente, que teve seu momento de instabilidade, mas caiu na real muito mais rapidamente do que se poderia imaginar. Foi elegante. Acho que jamais teria essa mesma altivez. Amanda só olhava para a minha cara, tentando ler o que meus olhos diziam.

— Eu preciso ver o Fausto. – Finalmente falei.

— Agora?! – Am segurava meus ombros. Não estava entendendo nada.

— Sim. Agora.

Deixei minhas amigas no bar e saí o mais rápido que pude, dando sinal para o táxi que ia passando devagar. Porém, quando cheguei à portaria e interfonei, ninguém atendeu. Só então eu peguei meu telefone no bolso da jaqueta. Duas ligações perdidas. Uma mensagem.

"Jess, preciso falar com você. Estou indo pra longe daqui.".

Meu coração acelerou de uma forma que jamais tinha acelerado. Doeu. Tentei ligar três vezes seguidas e todas as chamadas caíram na caixa postal. Eu não podia acreditar. Em poucas semanas, conheci o amor, duvidei desse sentimento, rejeitei a possibilidade, caí na real e aí, tomei rasteira?!... Destino, se foi você, eu te odeio!!! Chutei o chão e fechei os olhos para as lágrimas não caírem. Fausto tinha ido embora. O meu amor se foi.

* * *

Dois meses. Dois meses sem comer direito, dormir pouco, chorar muito. No primeiro mês, passei as horas úteis dos dias concentrada no trabalho... As outras horas eu dividi entre não dormir, chorar ou me penalizar por ter não ter tido coragem de cair de cabeça naquele amor inexplicável e que eu não quis acreditar que existia. Paixão arrebatadora, atração sexual ou amor? Não importava mais, Jessica! Estava acabado.

No segundo mês, tentei me erguer. Voltei a correr, me inteirei da vida das minhas amigas, ouvi suas histórias, fui confidente de suas dúvidas... Mimmi estava feliz com o Tomas. Ele era um cara muito legal, meio quieto e muito oposto da minha amiga. Acho que por isso eles estavam indo tão bem. Amanda estava interessada em Bro..., mas ele a via como uma irmã. Minhas amigas estavam sendo um porto seguro, todas as noites a nossa mini república tinha uma programação diferente: noite de pipoca e filme, noite de carteado, noite de queijos e vinhos... Michelle tinha ocupado o terceiro quarto, que antes nós usávamos apenas para as bagunças. Elas achavam que eu não percebia aquele círculo de segurança que formaram propositalmente em minha volta. Estava feliz por isso, era verdade, mas muito triste pela sensação de ter estado com a felicidade nas mãos e não ter me dado conta antes que ela voasse.

Saía do trabalho e passava pela orla, sempre olhando para o prédio em que Fausto morava. O apartamento estava com certeza vazio, nenhuma luz acesa. Não tentei ligar outras vezes. Também não deixei uma mensagem. Ia dizer o quê?

Numa quarta à tarde, estava no escritório, concentrada em um processo enorme. Um lápis prendia o cabelo em um coque, os sapatos, jogados em um canto. Estava sentada no chão, rodeada pelos volumes do processo, quando Marianne bateu à minha porta. Fiz sinal para que entrasse.

Na superfície (LIVRO COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora