Oi? Eu fiquei olhando para aquele pedaço de papel, tentando entender se havia algum código inserido na mensagem. Estiver melhor, ok, oficialmente eu não estava bem, nem mesmo para o sujeito e seu ouvido acolhedor. A noite foi divertida... Divertido para mim era algo entre legal e vergonha alheia. Um adjetivo próximo de "interessante", ou seja, não dava pista do que era de verdade.
Sentei no sofá, liguei a TV e deixei o barulhinho baixo me ninar. Ainda não estava pronta para nada. Me ligue... Mas ele não deixou o número! Que idiota! Ou não... Deve ter suposto que eu conversaria com a Am. Será que ele está testando meu grau de interesse? E mais, como poderia haver interesse se eu nem sequer me lembrava do rosto dele, só daquele sorriso? Um sorriso constante, quase traiçoeiro.
Meu estômago deu uma revirada. Meu cérebro começou a funcionar demais, o barulho da TV começou a me incomodar. Eu precisava de ar. Corri para o banheiro, liguei o chuveiro e tomei uma ducha um pouco mais longa que o normal, tentando afastar um monte de pensamentos em turbilhão.
"Eu sou engenheiro, na verdade, não exatamente. Sou formado em Engenharia Petroquímica, mas atuo mesmo em uma empresa, vendendo e ajudando meus clientes com grandes peças para navios. Por isso vim para Vitória. O Porto. Estou aqui há pouco tempo, ainda não me adaptei totalmente, porém, estou encantado com a cidade..."
Opa! Outro flash. Esse me deixou feliz, porque não falei sozinha o tempo todo, pelo visto. Ele também falou de si. Nada humilhante, apenas o suficiente. Ele não se abriu, não contou nada que pudesse se comprometer depois. Inteligente.
Ei, espere, Jess! Não comece a adjetivar tão cedo, você não se lembra dele! Você não sabe nada sobre ele.
Meu cérebro parecia dividido, lado esquerdo e direito brigando entre si. Terminei meu banho e escolhi uma roupa simples, shorts e t-shirt, um tênis... A intenção era correr até que o cérebro parasse de enviar informações inúteis, vergonhosas ou negativas. Correr até esquecer. Caminhei para o térreo, desci os dois lances de escadas e fui em direção à recepção, displicente. O prédio era simples, apesar de uma cabine para um porteiro ficar, não tinha o porteiro. Eu estava até cantarolando, tranquila, tentando alongar meus braços e pulsos quando passei por alguém sem olhar.
— Pelo visto, você está bem melhor, Jess.
Não! Não, não e não... Não pode ser! A voz. Aquela voz. Eu a reconhecia. Eu não queria me virar. Meu coração estava muito perto, bem perto da minha boca. A impressão era de que ele saltaria para fora se eu a abrisse. Tentei virar rápido, não podia mais evitar isso e também não queria parecer rude. Mas não consegui, senti que eu estava virando em câmera lenta. Ele estava de calça jeans, bem alinhada, até mesmo um pouco apertada nas coxas. Um sapato preto, novo ou muito bem engraxado, camisa social comprida e azul marinho, dobradas as mangas até a altura dos cotovelos. A camisa não tinha os dois primeiros botões fechados, o peito estava levemente à mostra, alguns pelos, nada exagerados. Um pequeno cordão de couro, bem fino, ostentava uma espécie de escapulário no pescoço e peito. A pele morena bronzeada, os olhos muito amendoados, profundos e com cílios grandes, mas que não eram exagerados em seu rosto. Sobrancelhas fortes, até um pouco selvagens. Cabelo bem cortado e penteado. O rosto, eu diria enigmático, com um meio sorriso que formava uma covinha em um dos cantos do rosto.
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Na superfície (LIVRO COMPLETO)
Romansa[+18] Quanto pode custar uma noite inocente, com uma amiga e shots de tequila? Para Jessica Lopes, toda uma nova vida. Um recomeço. E problemas. Jessica sai com as amigas para uma noite de diversão e para esquecer os problemas da vida de advogada...