A Tough Choice [Concluída]

I. Uma Decisão

Aquele estava sendo o dia mais estranho possível na vida simples de Ilithia. Ela não era uma garota muito convencional, tinha perdido os pais quando ainda era criança, e por isso tinha sido enviada para viver com seu parente mais próximo – o único parente vivo – o ferreiro da vila. Era seu tio por parte de pai. Naquela época, era muito difícil as pessoas terem uma vida longa, entre guerras e doenças incuráveis, todos tinham uma baixa expectativa. Ficavam apenas cuidando de suas vidas simples e corriqueiras esperando que a guerra nunca as alcançasse nos vilarejos mais afastados da capital do reino.

Era exatamente o que ela esperava de sua vida. Exceto pelo fato de que tinha sido criada pelo tio ferreiro, e ele, sem uma esposa ou filhos – a esposa morta ao dar a luz ao filho, este que também morreu pela praga quando era muito jovem, até onde Ilithia sabia –, não tinha experiência alguma em como lidar com uma garota de oito anos que tinha sido enviada até a porta de sua casa com alternativa senão a rua e a miséria. Desse modo, como a maioria das meninas de sua idade nos vilarejos, a jovem aprendeu a cuidar da casa, ajudando o tio, a costurar alguma coisa, e desenvolver um bom trabalho artesanal com as mãos hábeis... em contrapartida, também tinha aprendido tudo sobre a arte da ferragem, de como criar armas, escudos, armaduras e acessórios de guerra que eram constantemente enviados para a capital, assim como acessórios simples de uso diário para as pessoas da vila. Aos 22 anos, podia não ser a jovem mais bonita ou mais cobiçada do vilarejo, mas certamente era a única em todo o reino que tinha um amplo conhecimento na construção de espadas, lanças, arcos e ferramentas de luta, além de uma vaga ideia de como manusear cada um deles.

Menina como fora, desde criança também tivera contato com outras meninas e meninos da vila, e cresceu fazendo amizade com pessoas que viu morrerem de doenças, ou partirem para outros vilarejos, ou irem à guerra, como era comum naqueles tempos. Aos 22 anos de idade, restava-lhe uma boa amiga, que lhe acompanhava em muitas situações, lhe apoiava e que tinha de família apenas um irmão mais velho e três irmãs mais novas, era quase como a irmã que ela não tivera, e foi exatamente ela que tornou aquele dia em particular o mais estranho que Ilithia poderia ter vivido.

– O que você disse?? – a morena perguntou, na calada da noite, sentada na cama de madeira grande do quarto de sua amiga, passando a noite com ela enquanto não tinha trabalho na loja de ferragens de seu tio. – Você pirou de vez, Athena?!

– Por favor, Illy!!! Eu não sei o que fazer, estou desesperada! Você é a única pessoa que pode me ajudar! – a outra insistiu, a voz baixa, quase sussurrada e chorosa. Athena tinha os cabelos de um bonito tom cobre, dona de vibrantes olhos verdes e pidões. Se aproximou de Ilithia, ajoelhada no colchão, segurando-lhe as mãos no colo, como se estivesse compartilhando um grave segredo.

– Mas isso que está pensando é loucura! Aliás, como é que pensou numa coisa dessas?! – Ilithia tentava conter o tom de voz para não chamar atenção dos outros moradores da casa. Não era uma casa pequena, o pai da jovem tinha sido mercador e a função passara para o irmão mais velho, era a sorte que ela tinha de conseguir conviver com todos os irmãos e ter o papel de mãe e irmã das mais novas.

– Porque eu não sabia mais o que pensar! – ela respondeu, os olhos lacrimejando. – Illy, meu irmão é tudo para a minha família, se ele tiver que ir nesse chamado, o que vai ser das minhas irmãs mais novas?? E de mim?? Não temos nada para nos sustentar, ele que cuida da família e do comércio entre os vilarejos! Se tiver que ir pra guerra, nossa família vai cair na miséria e todas nós vamos ser vendidas!

– Athena, você vai matar todos de desespero se fizer o que está pensando. Sério, eu não consigo imaginar de onde você tirou isso! Como consegue fantasiar as coisas desse jeito?! – a morena passou a mão no rosto, suspirando pesadamente. Sabia como era perder os pais, os seus tinham partido havia muitos anos. Mas confessava que não sabia o que seria dela naquela época, e pior ainda o que seria se ainda tivesse mais alguém de quem cuidar. A situação não era fácil... mas pior ainda era a proposta que a ruiva estava tentando convencê-la.