Capítulo 18 - Renovação

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Muitos anos se passaram e Rafael e Carlos haviam sido resgatados e agora encarnados na terra batalhavam seu bom combate para resgatar seus débitos.

- Uma esmolinha por caridade.

- Porque está na rua senhor?

- Como assim? Não pode me dar algum para eu comer?

- Poder eu posso, mais gostaria de saber porque mora na rua.

- Desculpe meu filho, mais já moro aqui a tanto tempo que nem mesmo me lembro.

- E quantos anos o senhor tem?

- Não sei.

- Seu nome?

- Faz diferença?

- Na verdade para mim faz. Veja eu me chamo Carlos e sou escritor. – Os olhos do senhor brilharam ao encontrar os dele.

- Vai me pagar o que comer?

- Se me contar a sua história talvez possa fazer mais que isso. Espere, eu já volto.

O jovem escritor saiu deixando o velho sozinho, ele levantou jogou seu pequeno trapo sobre os ombros, escreveu no chão onde estava sentado cobriu e foi embora.

- Ué, para onde foi aquele senhor?

Já estava escuro quando ele arrumou um local para ficar, estava frio e apenas sua manta não o aquecia o suficiente. Sua barriga doía de fome o que não o deixava dormir.

Quando finalmente pegou no sono escutou uma discussão.

- Vamos passe pra cá e ninguém se machuca é bem simples, vamos. Relógio, carteira celular tudo, rápido.

O casal dava o que o ladrão queria mais ele não estava puro e queria mais.

- Você, vai andando até sumir naquela esquina depois eu libero ela, vai logo se não eu atiro nela.

O rapaz fez o que ele mandou, mais o ladrão não tinha intensão nenhuma de deixar ela ir, não sem antes provar o que ele queria. Assim que ele sumiu das vistas ele a puxou pelos cabelos e a arrastou justamente para onde estava o senhor deitado. Ele a golpeou na cabeça e rasgou a roupa.

- Mais que diabos, sai daqui seu mendigo maldito, some.

- Eu cheguei aqui primeiro.

- E eu estou armando, agora cai fora.

Ele olhou para jovem desacordada, nunca havia feito nada nessa vida além de tentar sobreviver, sempre pensou apenas em si. Ele virou as costas e ia embora, soltou um suspiro e voltou. Se jogou em cima do ladrão e durante a luta a arma disparou, a menina acordou e saiu correndo com suas roupas rasgadas. O ladrão tentava se livrar do corpo já sem vida do velho mendigo em cima dele.

Escutando os tiros um pequeno grupo se formou e conseguiu render o bandido até a polícia chegar. Ninguém deu importância para o ato do mendigo assim como ninguém foi ao seu enterro.

O jovem escritor voltou mais umas três vezes até onde havia falado a primeira vez com o velho senhor, mais não o encontrou, até que resolveu mexer onde ele estava sentado e achou escrito o nome dele. Lucas.

Lucas não se lembrava o que havia ocorrido apenas flashes do plano espiritual entre uma encarnação e outra. Seguidas vezes morreu como feto no ventre da mãe e outras abortados por rejeição.

- Oi Pilatos como ele está?

- Melhorando, e você pelo visto conseguiu o que queria.

- Sim é verdade, recebi autorização para visitar a minha mãezinha.

- Fico feliz por você.

- Obrigado.

- Será que agora poderemos reencarnar juntos? Se ele não fosse tão teimoso teria ajudado ele na última encarnação que ele foi um mendigo.

- É, foi por bem pouco. Mais aquela atitude dele o liberou de muitas outras provações.

- Quem ia imaginar que alguém que só viveu no luxo iria encarnar como um mendigo. Quando eu o vi senti um amor muito grande, o procurei por todos os lugares mais não o achei, quando voltei e li o nome tive certeza que ele era alguém especial para mim.

- Ele é uma pessoa boa que se perdeu e agora está se reencontrando Carlos. Vamos dar mais um tempo para ele.

- É verdade que ele já vai reencarnar novamente?

- Sim, ainda a muito o que resgatar, mais dessa vez pelo amor e não pela dor.

- Espero poder velo em breve, até mais Pilatos, fique com Deus.

Carlos se foi e mais uma vez Lucas encarnava na terra, dessa vez nasceu em uma família bem pobre e desde de pequeno aprendeu a trabalhar para ajudar a sustentar a família. Foi tentado de várias formas, as facilidades que a vida bandida podia trazer não o afetaram e ao ficar mais velho conseguiu sair da favela onde morava e trabalhar como entregador na cidade, a vida era muito difícil e ele queria mais não conseguia mudar por mais que se esforça-se e trabalha-se.

- Bom dia, entrega para o senhor Arthur.

- Terceiro andar primeira porta a esquerda.

- Beleza, valeu.

Ele foi até o elevador mais estava quebrado, subiu as escadas e deu de cara com duas pessoas discutindo e se escondeu, uma delas estava armada.

- Vai me pagar ou vou ter que usar a força?

- Que isso Arthur, me dá mais um mês e eu consigo o restante.

- A gente combinou trezentos mil aqui só tem duzentos.

- Uma semana é tudo que eu peço.

- Você tem até segunda, se vira, e some da minha frente antes que eu mude de ideia.

O cara saiu correndo pulando degrau e nem viu Lucas escondido. Ele esperou um pouco e depois bateu na porta.

- O que foi?

- Encomenda para o senhor Arthur.

- Ata, deixa ali em cima daquele móvel pra mim, toma isso aqui é pra você.

Ele entregou uma nota de cem para Lucas que deu um longo sorriso.

- Não vá gastar tudo com besteira, dinheiro é poder. – Ele se virou e entrou em uma portinha que parecia um banheiro.

Lucas deixou o pacote na mesinha e viu em baixo dela o malote que o senhor que correu estava segurando e lembrou deles discutindo. - "Aqui só tem duzentos mil..."

Ele olhou em volta, só havia ele ali, duzentos mil daria pra tirar toda família da favela e começar vida nova em algum lugar, até comprar uma casa. Ele meteu a mão no dinheiro quando alguém abriu a porta e ele se escondeu.

- Arthur aqui está o seu dinheiro.

Arthur saiu do banheiro e foi recebido com vários tiros e morreu na hora. Um dueto de gato e rato começou, o homem andava pela sala procurando a maleta com o dinheiro enquanto Lucas se esgueirava o contornando para não ser visto. O homem pois a arma sobe a mesa e abaixou para olhar em baixo, Lucas pegou a arma e apontou para ele.

- Você matou ele.

- E agora o mundo está bem melhor sem aquele canalha. Ei, esse pacote ai não te pertence.

- Achado não é roubado.

- Mais que moleque atrevido.

- Não se mexe senão eu atiro.

- Até parece que um delinquente igual a você iria puxar o gatilho. Mais tudo bem, vou só pegar um cigarro aqui no meu bolso e vamos resolver isso.

Ele meteu a mão dentro do paletó e puxou outra arma e atirou, ao mesmo tempo que Lucas atirou e ambos caíram mortos no chão.

Lucas acordou um tempo depois no umbral. Deitado e olhando para cima suas únicas palavras foram.

- Não, de novo não.

A uma escolha do umbralOnde histórias criam vida. Descubra agora