Lana
O jantar foi normal, tirando o facto de que, sempre que podia, o Jake quase me matava com os olhos. Algo me dizia que isto ainda ia correr muito mal.
-Já comi, vou sair. - Disse ele, levantando-se.
-Não voltes tarde. - Disse John.
-Claro, pai.
Jake dirigiu-se para a entrada e vestiu o seu casaco, preparando-se para sair até que John o chamou novamente. Jake veio na direcção da mesa, ajeitando o colarinho do casaco.
- Não te estás a esquecer de nada, Jake? Caso não te recordes, apesar de não estar ainda oficializado, tens uma noiva. Despede-te dela e do teu futuro filho, como deve ser. - Disse John e eu encolhi-me na cadeira, sentindo o ódio de Jake.
Pude ver a irritação dele naqueles belos olhos azuis, eles quase faíscavam. Pensei que Jake ia começar a gritar comigo e com o pai, afinal ele odiava o facto de ter de ficar comigo e com o bébé, sendo o irmão dele o responsavel pelo que estava a acontecer. Mas para minha surpresa, Jake aproximou-se lentamente de mim e passou a mão no meu cabelo dando-me um leve beijo na testa. Mas apesar desse sinal de carinho que ele demonstrou, eu sentia o ódio que o seu corpo emanava. Ena...ele tinha mesmo medo de ser deserdado...Ainda vou descobrir o que é que ele tem contra as pessoas pobres. Tudo bem que não temos muito dinheiro, mas prefiro ser pobre do que arrogante e fria como ele. Ele olhou para o pai, que acenou, como que a dar-lhe autorização para sair, e Jake saiu. Depois dele sair, eu e o John continuamos a falar, especialmente sobre a gravidez.
-Ja foste ao médico desde que descobriste a gravidez? Tens que ver quanto tempo tem a gravidez, tens de tomar vitaminas, marcar exames...
-Não consegui marcar nada, descobri a gravidez ontem a noite. Fiquei tão feliz...apesar de ser nova, o facto de ter uma vida a crescer dentro de mim, e o facto de ser do Luc, fez com que tudo fosse mil vezes melhor...Esperei pela manhã para lhe contar...Mas nunca pensei que ele fosse reagir daquela maneira...Ele foi...foi tão cruel...Ainda deu a entender que eu tinha feito de propósito para ficar com o dinheiro dele.
-Conheço uma médica espectacular, foi a que seguiu a gravidez da mae de Luc...E fica descansada, eu sei muito bem o tipo de rapariga que tu es e sei que a última coisa que tu queres é o meu dinheiro...
-A mãe do Luc? Eles não são filhos da mesma mae?
- Não...a mãe do Jake morreu num acidente, e por momentos pensei que tinha perdido o Jake também...Os médicos conseguiram fazer o parto a tempo, apesar de ela já ter falecido...Ele nasceu prematuro e ainda teve de ficar no hospital uns meses...Entretanto, a enfermeira que cuidava dele estava sempre do meu lado, a apoiar-me. Chegamos a ir beber café umas vezes e acabei por me casar com ela e deste segundo casamento nasceu o Luc...Mesmo tendo corrido tudo bem com a gravidez e o parto, tive medo de perder o Luc, na altura o Jake já tinha 6 anos, eu mimei demasiado o Luc e fui demasiado frio com o Jake. Desde os 2 anos que o eduquei de maneira a tomar conta da minha empresa quando o dia chegasse, e arrependo-me todos os dias de ter sido assim com Jake. Talvez, se tivesse sido diferente, ele não fosse o homem frio que é. Entretanto, a minha mulher deixou-me com o Luc, tinha ele 8 anos...Não foi fácil cuidar de duas crianças, e o facto de ambos terem sido educados de maneira diferente, criou pequenas guerras entre eles.
-Lamento...
-Oh não falemos de coisas tristes, falemos deste bebe maravilhoso. Eu estive a pensar durante o jantar, e acho que faz bastante sentido, visto que tu e o Jake se vão casar, tu vires morar cá para casa. Temos vários quartos, não precisas necessariamente de dormir no mesmo quarto que o Jake, pelo menos até casarem.
- John..é muito simpático da sua parte e eu agradeço do fundo do coração, a sério...Mas eu vi o quão desagradavel foi para o Jake ser obrigado a casar comigo...Apesar de não conseguir compreender o porque dele me odiar tanto, não seria capaz de estragar a vida dele...E não seria capaz de ver o meu filho ser ignorado e mal tratado por ele apenas por eu não ter posses.
-Lana, minha filha, a razão pela qual Jake odeia os pobres é muito simples mas apenas ele te poderá explicar...Não me sinto no direito de o fazer. E em relaçao ao meu neto ser mal tratado, isso não acontecerá. O Jake pode ser muitas coisas, pode odiar o facto de não teres dinheiro, mas ele seria incapaz de magoar uma criança inocente...
-Tenho medo... - Baixei a cabeça e não pude evitar as lágrimas que caiam, sem cessar.
John levantou-se da sua cadeira e veio até mim, agarrando a minha mão.
-Vem, vou levar-te ao quarto onde irás ficar, pelo menos esta noite. Amanhã o Jake vai levar-te à médica para tratares dos exames todos que tem de ser feitos..
Aceitei o pedido dele, o dia tinha sido horrível para mim, e eu precisava mesmo muito de descansar. Fomos os dois para o andar de cima e parámos em frente a uma porta.
-Podes ficar aqui, está uma camisola e uns calções em cima da cama que puderás usar. Se quiseres, podes tomar um banho, há uma casa de banho dentro do quarto, por isso estás a vontade, minha querida.
-Obrigada...Muito obrigada - Disse eu, abraçando-o meigamente.
Entrei no quarto, que estava escuro, e apalpei a cama a procura da roupa. Assim que a senti, peguei nela e fui até a casa de banho para tomar um duche rápido. Vesti a roupa que John me tinha deixado e deitei-me na enorme cama. Os lençóis eram tão macios, parecia que estava deitada em algodão... Puxei as mantas até ao nariz e sorri, aqueles lençóis tinham um cheiro maravilhoso, aquele perfume...Não me era estranho...Mas ignorei, não queria pensar em mais nada, só em dormir. Por baixo dos lençóis, passei a mão na minha barriga. Como era óbvio ainda não havia mudado nada, mas eu sabia que ali dentro, bem quentinho e aconchegado, estava o meu filho, a unica razão do meu viver. Eu sabia muito bem que Jake não iria facilitar a minha vida daqui para a frente, mas eu iria proteger o meu filho com unhas e dentes, e nada, nem ninguém o iria magoar.
-A mamã vai proteger-te meu amor, mesmo que o papá não queira saber de ti...Quem sabe, pode ser que o Jake aprenda a gostar de nós, ou pelo menos de ti...
Suspirei e baixei a camisola, sorrindo e ajeitando novamente as mantas, de forma a ficar confortável. Não dei pelo tempo passar, só sei que adormeci rapidamente.
Jake
Assim que saí de casa, peguei no Ferrari e segui para um bar bastante conhecido na cidade, precisava urgentemente de beber para esquecer a reviravolta que a minha vida deu nestas últimas horas. Não sei bem quanto tempo lá estive, só sei que fiquei até o bar fechar, e já estava bastante bebedo. Quando sai do bar e olhei para o meu carro, suspirei. Não queria ter um acidente e partir o meu carro favorito então decidi ir a pé, não morava muito longe do bar, e o passeio iria permitir que pensasse bem no que iria fazer daqui para a frente. O meu irmão sempre foi o favorito da familia, ele sempre pode fazer o que quis enquanto que eu sempre fui obrigado a ter mais responsabilidades para com a empresa do meu pai. E agora, do dia para a noite, fui obrigado a remendar um acidente causado pelo Luc, mais uma vez. E este acidente, estragaria bem a minha vida. Para além de ter de casar com uma mulher pobre, ainda vem com o extra de ter de criar o filho dela. Cheguei a casa num instante, e fui directo para o meu quarto. A esta hora já o meu pai dormia, e a Lana já estava na casa do Luc, ao menos teria paz durante esta noite. Abri a porta do meu quarto e andei em direcção a cama, mas parei assim que vi um alto no meio das mantas.
-Que raio?
Andei para trás e acendi a luz do tecto e fiquei estupefacto ao ver Lana a dormir na minha cama. Ela devia de estar cheia de calor, pois os cobertores tapavam apenas da cintura para baixo e a camisola dela estava ligeiramente subida, deixando a barriga dela a mostra. Aproximei-me lentamente, com cuidado para nao a acordar e aproximei a minha mão da barriga dela, mas parei de imediato. O que é que eu estava a fazer? Ela havia estragado a minha vida e eu agora queria mexer na barriga dela? Passei a mão pelos cabelos e suspirei, indo tomar um banho rápido. Sai apenas com a toalha embrulhada na minha cintura, não queria saber se ela ia acordar ou não, o quarto era meu. Fui até a mesa ao lado da cama, e tirei uns boxers, vestindo-o e fui até ao roupeiro para tirar um pijama. Até que ouvi uma voz, chamar por mim.
-Jake...? És tu...?