7. EMAIL

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De: KK <kimkawaii@gmail.com>

Para: Do <dokyungsoo@gmail.com>

Assunto: Somos a mesma pessoa em dois corpos diferentes?

Do,

Acho que pelo título do e-mail você já deve ter percebido que esse é mais um dos meus e-mails que parecem livros de autoajuda. Eu quero muito te ajudar, mesmo que você recuse ajuda. Eu sei que a gente acha que incomoda, que a gente não quer que os outros prestem atenção na gente, mas eu juro que as pessoas só se importam com quem amam. E fala sério, o ser humano é um lixo, uma merda pura, um ser que estrago o universo perfeito. Nós seres humanos nascemos maus, nascemos estragados e condenados ao inferno, pelo menos é assim que eu penso.

E se você pensar que nem eu, e tirar isso como verdade, e for um pouco observador, vai ver que mesmo com a nossa natureza má e mesmo que todos nós sejamos falsos e verdadeiros, que todos nós somos mocinhos e vilões ao mesmo tempo, para a mesma pessoas ou para pessoas diferentes, há sempre pessoas que se preocupam com nós. Eu me preocupo com você. E seu crush Chanyeol também.

Olha, eu não sei lidar com a pessoa que eu gosto, não faço a mínima ideia de como manter contato e nunca sequer dei um "Oi!" pra ela no corredor da escola. E acho que se eu fosse o Chanyeol, eu teria ficado com medo de me associarem com você, saca?

Não, eu não sou um homofóbico escroto. E não, eu não faria isso com você, mas...

Mas se eu fosse um hétero popular que está no time de futebol da escola, eu faria isso, saca. Eu me afastaria de você. Não sei se você deve ter alguma esperança de ficar com ele um dia, pois ele é hétero, mas pelo menos ele se mostrou ser um homem de verdade, alguém com cárater. Chanyeol sabe que você é gay, sabe que você tem um crush nele, e mesmo assim é seu amigo e te oferece o ombro amigo dele.

Chanyeol é o seu porto seguro. Por favor, nunca se afaste dele!

Agora sobre o título do e-mail. Eu e você somos praticamente a mesma pessoa. Sofremos da mesma coisa. Não, eu não sou rico que nem você, nem tenho um melhor amigo como Chanyeol para ser meu porto seguro. Ninguém sabe que eu sou gay. Nem minha família. Tecnicamente nem você sabe que eu sou gay porque você não sabe quem eu sou, apesar de eu saber quem você é.

Sim, eu também já pensei na morte. Já pensei mesmo. No dia que o menino que era gay assumido da nossa escola se suicidou ano passado, eu entrei em choque. Eu estava no meu limite. Eu não aguenta mais. Eu estava sentindo nojo de mim mesmo por ser gay e eu não sabia o que fazer mais. Eu queria me libertar de mim mesmo. Então eu estava prestes a me matar, eu estava disposto, eu acho que tinha criado a coragem, eu ia fazer naquele dia, só não sabia qual. Mas aí veio a notícia que o Seokchin havia se matado.

Eu fiquei em choque. Choque mesmo. E imediatamente aquela ideia de suicídio ficou de lado. Eu não iria me matar. Eu comecei a ficar paranóico, achando que no se eu me matasse, iriam descobrir que eu era gay. E se descobrissem que eu era gay naquela época pra mim seria pior que o inferno. Eu ia ficar marcado pra sempre como gay e, morto, não teria como me defender. Acho que a minha própria homofobia me salvou de cometer alguma besteira, embora eu não me orgulhe disso.

Eu queria pedir pra você não desistir de você. Nunca. Eu já havia desistido de mim, eu não me aceitava de jeito nenhum e de alguma forma, mesmo preso nesse armário caustrofóbico da falsa heterossexualidade, hoje eu me aceito. Não sei te dizer como ou quando eu comecei a me aceitar, mas hoje eu estou bem comigo mesmo, mesmo que o resto da sociedade não esteja. E tipo, Do, se não for na Córeia que seremos felizes, seremos em outro lugar. Você nem eu precisamos viver aqui pra sempre. Podemos ir pra outro país e seremos quem quisermos.

De um garoto que pensou que nunca ia se aceitar,

KK

Once | XiuchenOnde histórias criam vida. Descubra agora