24. SEHUN

528 73 36
                                    

Quando eu nasci, eu fui abençoado por nascer em uma boa família. Não porque minha família era fica — ela era, mas não era esse o motivo —, mas sim porque a minha família me dava todo o amor e apoio do mundo.

Quando eu cresci, eu percebia cada vez mais isso. Por mais que ambos os meus pais tivessem ocupados demais com seus trabalhos, eles sempre mandavam mensagem ou ligavam para mim perguntando se eu estava bem, se eu havia almoçado e sempre perguntando se eu iria sair com alguns dos meus amigos. Sempre que eles perguntavam se eu estava bem, eu sentia amor e preocupação na voz deles, sentia saudade. Sempre que perguntavam como eu estava na escola, eu não sentia que eles me amordaçavam, nem que eles queriam saber do meu desempenho escolar, e sim sentia que eles se preocupavam comigo.

Quanto mais o tempo passava e eu tinha noção de que um mundo não era um lugar feliz e cor-de-rosa, eu percebia o quão eu era sortudo por ter aqueles pais. Eu me pegava agradecendo sempre que eu refletia o quão sortudo eu era por ter pais que se preocupavam mais com meu bem-estar do que com meus desempenhos acadêmicos e num país como a Coréia do Sul isso era melhor do que ganhar na loteria.

Porém, quanto mais o tempo passava, eu percebia que havia alguma coisa errada com a minha família. Acho que por ser um pouco devagar em entender as coisas, uma parte da minha mente — acho que a parte que previa que havia algo errado — fazia questão de mentir para mim mesmo dizendo que estava tudo bem.

Estava tudo bem os meus pais me darem amor enquanto eu tinha um irmão dois anos mais velho que não recebe nem dez por cento do que eu recebia.

Estava tudo bem eu receber elogios por minhas notas medianas enquanto o meu irmão mais velho recebia broncas e cobrando com suas notas quase perfeitas.

Estava tudo bem eu ganhar uma viagem para Disney quando eu completei quinze anos, viajando junto com meus dois pais que tiraram folga apenas para ir comigo, deixando meu irmão de 17 anos sozinho em casa estudando; enquanto no seu aniversário de quinze anos ele recebeu apenas uma quantia bem alta de dinheiro para gastar como quisesse e poder passear com seus amigos — e no final ele ficou em casa porque não tinha amigos.

Estava tudo bem meus pais se preocuparem com meu bem-estar emocional e psicológico enquanto a única coisa que eles se preocupavam com meu irmão eram de seus resultados quantitativos.

Estava tudo bem para mim... Mas não para ele.

O meu irmão nunca foi uma pessoa ruim e eu realmente não entendia o porquê dos meus pais serem tão rígidos com ele. Eu também nunca entendi o fato de que eu não gostasse dele. Nunca senti nenhum amor fraternal por ele. Às vezes eu me sentia bem frio porque uma parte de mim não se emocionava com a sua situação. Eu achava injusto o que faziam com ele por achar injusto, mas não tinha nenhum desejo defendê-lo ou tê-lo como irmão.

Eu não sentia nada tão forte ou intenso para poder chamar de amor ou compaixão. Éramos como completos estranhos morando sob o mesmo teto. Não tínhamos nem ódio nem amor um pelo outro e, talvez a indiferença fosse a coisa que se mostrava mais preocupante em nossa relação.

Quando meu irmão se assumiu gay, acho que foi o motivo para algo dentro de mim acordar. Um sentimento que eu não sabia explicar, e que naquele aeroporto, esperando por ele eu sabia o que era: era amor.

Agora era misturado com um pouco de saudade, mas eu sabia que eu o amava. Ele era o meu irmão mais velho, mas de repente eu sentia que falhei na minha missão de protegê-lo. Cheguei a pensar até que eu nasci para poder ser seu porto seguro, o farol que iria ajudá-lo ao enfrentar meus pais, mas eu falhei nessa missão. Eu demorei muito tempo para vê-lo como irmão, talvez porque nós não tínhamos nada em comum.

Once | XiuchenOnde histórias criam vida. Descubra agora