9: O Primeiro Passo para a Ruína

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VITTORIO

A ousadia de Mia me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir. A garota assustada que havia chegado desapareceu. Agora, ela parecia ter encontrado uma confiança nova, uma audácia que cresceu depois do mal-entendido sobre a morte de Charles.

Eu planejava contar a verdade para Mia, mas apenas no momento certo. Sabia que havia algo muito maior e mais perigoso por trás de suas ações. A forma como ela aceitou dançar para Elijah me parecia uma provocação calculada, e a sensação de que estava sendo manipulado corroía meu orgulho. Nem o gosto ardente do uísque que descia pela minha garganta era capaz de acalmar o desconforto que tomava conta de mim.

Para piorar, Don Mauricio resolveu aparecer na minha boate. Ele tinha um talento único para surgir nos momentos mais inoportunos, sempre com aquele olhar de quem tinha visto tudo. Estava lá para garantir que eu não tomasse mais nenhuma decisão importante sem sua bênção. Sentado no meu escritório, eu sentia o peso do julgamento no olhar frio e penetrante que ele me lançava.

— Espero que ela valha o esforço — Don Mauricio disse, sua voz calma enquanto tragava o charuto. A fumaça se espalhava lentamente, como se a tensão que pairava no ar não o afetasse.

Assenti, mantendo a calma.

— O senhor sabe que nunca ajo por impulso, Don Mauricio. A jovem tem muito mais a oferecer do que aparenta — afirmei, minha voz firme, embora por dentro eu lutasse para manter o controle.

Ele suspirou, um som pesado, como se décadas de experiência estivessem condensadas naquele momento.

— Gosto de você, Vittorio — começou ele, seu tom paternal, mas afiado como uma lâmina. — Entre todos os jovens, você foi o que mais me surpreendeu. Sua ascensão na Cosa Nostra foi rápida, movida pela sua força e ambição. Mas você sempre teve um defeito.

Levantei uma sobrancelha, curioso.

— Ah, tenho muitos defeitos, senhor — respondi, tentando quebrar a tensão com um toque de humor.

Ele deu um leve sorriso, mas seus olhos permaneciam sérios.

— A impaciência, Vittorio. Ela pode ser sua ruína — disse ele, suas palavras soando como uma profecia. — E é isso que me preocupa. Temo que essa decisão tenha sido tomada com pressa.

Brinquei com o copo vazio de uísque, girando-o nos dedos, enquanto minhas próprias escolhas pesavam em cada movimento. Balancei a cabeça devagar.

— Se eu tivesse matado os dois, aí sim teria sido impaciência — murmurei, a voz densa com o fardo de cada decisão.

Don Mauricio me observou com olhos afiados, quase como se conseguisse enxergar o futuro. Um brilho de advertência refletia em seu olhar experiente.

— Pessoas como você, que brilham, sempre atraem inimigos — disse ele, sua voz mergulhando em um tom mais grave. — E alguns deles se disfarçam de amigos. Tome cuidado, Vittorio. Há muitos caporegimes que desejam a sua queda, e se tiverem chance, usarão essa garota contra você.

Assenti, absorvendo suas palavras como uma onda gelada que me envolvia. Cada frase reverberava em minha mente, enquanto as peças do jogo entre Mia e eu se alinhavam de forma perigosa.

— Obrigado pelo conselho, vou me lembrar disso — murmurei, mantendo a compostura, embora por dentro eu soubesse que as implicações eram profundas.

— Agora preciso ir. Fiamma vem com o marido e minha neta para passar o fim de semana — ele disse, levantando-se com a mesma calma impenetrável de sempre, assentindo levemente.

Um raro sorriso surgiu nos lábios de Don Mauricio. Ele podia ser o homem mais temido em Las Vegas, mas havia uma ternura inegável quando mencionava sua neta, um contraste claro com a frieza que ele fazia questão de manter em sua postura impiedosa.

Caminhei até a porta ao lado de Don Maurício e, ao abri-la, fui surpreendido pela presença ansiosa de Giuseppe, parado no corredor. Ele parecia perturbado. Ergui as sobrancelhas, mas fiz um gesto para que ele entrasse e se acomodasse.

— Espero que não seja nada sério — comentou Don Maurício com um sorriso enigmático, antes de seguir calmamente pelo corredor, como se nada pudesse abalar sua tranquilidade.

Virei-me para Giuseppe, sentindo o peso da tensão no ar. Seu olhar praticamente gritava que algo estava terrivelmente errado.

— O que aconteceu? — perguntei, já antecipando que a resposta não seria boa.

Ele olhou rapidamente ao redor, como se quisesse garantir que estávamos sozinhos, antes de se inclinar para perto.

— Elijah está morto — disse ele, e meu coração acelerou.

— Como? O que aconteceu? — questionei, a confusão já tomando conta de mim.

— Mia o matou... e fugiu — revelou Giuseppe, cada palavra mais inacreditável que a anterior.

Uma risada curta e incrédula escapou dos meus lábios. Só podia ser uma piada de mau gosto.

Mas Giuseppe não estava brincando. Ele virou o tablet na minha direção, e a realidade me atingiu como um soco no estômago. Lá estava Mia, envolvida em uma dança provocante com Elijah. A cena mudou rápido. Ela o empurrou para a poltrona, e num movimento ágil, estava em cima dele, uma garrafa de champanhe na mão. Então, o impensável aconteceu: Mia perfurou a jugular dele com algo afiado.

Assisti, paralisado, enquanto Mia se levantava com uma frieza perturbadora, roubava o dinheiro da carteira de Elijah e abria a janela. Mas antes de fugir, ela fez questão de olhar diretamente para a câmera. Seu rosto estava manchado de sangue, e um sorriso cruel marcava suas feições. Então, com um movimento firme, ela quebrou a lente da câmera com o salto do sapato, deixando a tela em estática.

— Caralho — murmurei, ainda tentando processar o que acabara de ver.

O brilho de preocupação nos olhos de Giuseppe confirmou o que eu já sabia: isso era um problema gigantesco. Don Mauricio não iria gostar nada desse deslize.

Essa poderia ser a minha ruína.

— Vittorio, o que faremos? — A urgência na voz de Giuseppe era palpável, quase sufocante.

Apertei a ponte do nariz, sentindo a frustração pulsar nas têmporas enquanto caminhava de um lado para o outro, tentando conter a raiva crescente.

— Isole o perímetro. Ninguém sai daqui, exceto Maurício. Ele não pode, sob hipótese alguma, descobrir que eu deixei essa garota maldita escapar — rosnei, apontando para a imagem de Mia no tablet. — E quanto ao imbecil do Charles, mantenham ele preso. Se essa menina não aparecer logo, quero que o matem e jogue os restos dele para nossos cães.

Giuseppe apenas assentiu, obediente e tenso, já antecipando o caos que viria a seguir.

Envolvida Pelo Diabo Da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora