MIA
Meu pai estava morto, e Vittorio era o assassino. Tive certeza disso assim que nossos olhares se cruzaram.
Engoli o choro com força, apertando a bandeja até meus dedos doerem. Com passos firmes e decididos, caminhei pelo salão. A cada sorriso falso que eu forçava, a cada impulso de me encolher e chorar, um pensamento me mantinha em pé: meu plano de fuga.
Eu não ficaria ali. Não com meu pai morto.
— Venha — a voz de Becky me puxou de volta à realidade, sua mão segurando meu braço com urgência. — Vittorio quer ver como você se sai na dança.
Sem pensar duas vezes, peguei as últimas cinco tequilas da bandeja e engoli de uma só vez, como se fosse água. O líquido queimou minha garganta, mas levou junto a vergonha e a timidez que costumava sentir. O álcool se misturava ao ódio que corria nas minhas veias, inflamando a coragem que antes eu não tinha.
A decisão estava tomada: eu seria a ruína de Vittorio, o Diabo.
A música reverberava por toda a boate, uma batida pesada que parecia pulsar dentro de mim. A luz vermelha piscava em sincronia com o ritmo, transformando o ambiente em um cenário de luxúria e perigo. Becky me soltou, dando um passo para trás, enquanto eu permanecia ali, o gosto forte da tequila queimando minha garganta.
Eu sabia o que precisava fazer. A raiva pela morte do meu pai me consumia. Vittorio havia tirado tudo de mim. E agora, ele estava prestes a me enxergar de um jeito diferente. Se eu quisesse sobreviver, se quisesse destruí-lo, teria que jogar o jogo dele.
Retirei a peruca ruiva e a joguei para o chão, permitindo que meus cabelos negros caíssem em cascata pelas minhas costas, como uma onda de ébano. Avancei em direção ao palco, a leveza da saia curta acariciando minhas pernas, enquanto o tecido brilhante do top refletia as luzes pulsantes ao meu redor. O burburinho da boate começou a se dissipar, e eu me tornei o centro das atenções, todos os olhares convergindo em minha direção. Mas, em meio à multidão, meus olhos se fixaram em um único ponto: Vittorio. Ele estava sentado em uma mesa VIP, sua expressão fria e impenetrável, os olhos escuros me analisando com a intensidade de um predador à espreita.
A música ficou mais lenta, o ritmo sensual e envolvente. Comecei a me mover, quase imperceptivelmente a princípio, deixando meu corpo fluir com o som. Minha mão deslizou suavemente pela coxa, subindo lentamente até a cintura, sentindo a pele quente do meu corpo em contraste com o toque do ar fresco. A saia leve balançava em sincronia com cada movimento, revelando flashes da minha calcinha, uma provocação sutil que só intensificava a tensão no ar. Meus dedos exploraram o tecido reluzente do top, como se estivesse tocando joias preciosas, cada toque uma afirmação do poder que eu detinha.
Cada movimento era calculado. Os olhares ao meu redor se intensificavam, mas tudo o que eu via era Vittorio. Ele permanecia impassível, mas notei um ligeiro ajuste na cadeira, seu olhar demorando um pouco mais em mim. Isso me deu mais força. Meu corpo ganhou vida própria, a dança se tornando mais intensa, mais provocante. Minhas mãos desceram até os joelhos, meu corpo se curvando levemente antes de se erguer novamente, os cabelos balançando enquanto eu jogava a cabeça para trás, expondo meu pescoço.
Eu dançava não para eles, mas para ele. Cada passo, cada rebolado, era uma provocação silenciosa, uma promessa de que eu não seria apenas mais uma. Eu seria diferente. Eu seria a ruína de Vittorio, e ele sequer perceberia até ser tarde demais.
A música mudou de novo, tornando-se mais forte, e senti o suor começar a escorrer pela minha pele. Meus pés moviam-se com precisão. Nossos olhares se encontraram novamente, e desta vez, houve uma mudança. Vittorio inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos estreitando-se, como se finalmente tivesse visto algo que valesse sua atenção.
Aquela era a minha chance.
Com um último giro, deixei meu corpo relaxar, parando bem no centro do palco, com as luzes brilhando intensamente sobre mim. Respirei fundo, tentando esconder o quanto meu coração estava acelerado, mas por dentro, o fogo do ódio queimava mais forte do que nunca. Vittorio cruzou os braços, um sorriso de canto de boca finalmente surgindo. Ele havia notado.
E isso era só o começo.
Agora, Vittorio me enxergava, e eu usaria isso contra ele.
Alguns homens se aproximaram de mim, colocando várias notas de cinquenta e cem dólares no cós da minha saia. Olhei assustada para Becky, que acenou com a cabeça, orgulhosa de como eu havia me saído.
Antes que eu percebesse, um homem mais velho, talvez da idade do meu pai, se aproximou. Um brilho predatório surgiu em seu olhar.
— Você dançou muito bem — ele disse.
— Obrigada — respondi. Pela visão periférica, notei que Vittorio se aproximava de nós.
— Você dançou tão bem que eu queria uma dança particular.
Eu queria dizer não e cuspir na cara dele, mas talvez aquele homem fosse a chance de conseguir minha liberdade, de fugir dali.
— Essa começou hoje, não está disponível, Elijah — Vittorio disse, segurando meu braço, mas desvencilhei-me do seu toque e abri um enorme sorriso sedutor.
— Faço uma dança particular, mas saiba que vou cobrar muito caro, querido — falei para Elijah, com um tom de voz sedutor, mas, ao mesmo tempo manhoso.
Vittorio olhou surpreso para mim, as sobrancelhas se estreitando e os lábios franzindo.
— Tem certeza?
Segurei os braços de Elijah e olhei para Vittorio com um sorriso cheio de significado.
— Absoluta.
A palavra escapou dos meus lábios como uma promessa, um desafio. Vi o olhar de Vittorio mudar, um misto de incredulidade e uma sombra de respeito ou preocupação cruzando seu rosto. Ele não estava esperando uma resposta tão ousada de mim, e isso me deu um impulso de confiança.
E quando eu finalmente atacasse, Vittorio não saberia nem de onde veio a bala.
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Envolvida Pelo Diabo Da Máfia
RomanceVittorio Moretti não era o mocinho dos contos de fadas. Ele não era gentil, muito menos alguém que oferecia carinho sem uma segunda intenção. Para Vittorio, as mulheres tinham um único propósito, e certamente não era o de conquistar seu coração. Cri...