10: Estilhaços de Liberdade

5K 233 13
                                    

MIA

Depois que o impacto de ter matado alguém se dissipou, o desespero de ser pega se instalou como uma sombra opressiva. Eu sabia que precisava sair daquele lugar o mais rápido possível. Se Vittorio descobrisse o que eu fiz, com certeza seria morta, assim como meu pai fora.

A primeira coisa que fiz foi pegar o dinheiro de Elijah e juntá-lo com toda a grana que haviam colocado no cós da minha saia. Embolei todo o dinheiro e enfiei dentro do meu top. Para meu alívio, a porta estava trancada; eles demorariam um tempo até conseguirem entrar no quarto.

Eu precisava encontrar uma maneira de fugir sem que soubessem para onde eu tinha ido. E eu iria usar as câmeras a meu favor.

Caminhei a passos largos até a janela, que, infelizmente, estava fechada, mas tinha um vidro. Se eu conseguisse quebrá-lo... Olhei ao redor, procurando algo que pudesse usar. Foi então que meus olhos se fixaram na mesinha de cabeceira. Corri até ela, arranquei uma das gavetas com determinação e, segurando-a com firmeza, aproximei-me da janela. Com todas as minhas forças, joguei a gaveta contra o vidro. Para meu alívio, o impacto estilhaçou o vidro, e uma lufada de ar fresco bateu em meu rosto.

— Isso — murmurei, o alívio misturado com a adrenalina pulsando em minhas veias.

Olhei diretamente para a câmera e abri um sorriso perturbador, desejando que eles acreditassem que eu havia fugido pela janela. Na verdade, meu plano era ser mais inteligente que a máfia.

Caminhei até a câmera e tirei meu sapato, usando o salto para quebrar a lente. Agora, era hora de tomar as medidas necessárias para escapar dali. Corri até o duto de ventilação e, para meu alívio, percebi que não estava parafusado; era só retirá-lo e me enfiar dentro dele.

E foi exatamente isso que fiz. Com cuidado, abri a grade e me arrastei para dentro, o espaço sufocante me envolveu, mas eu sabia que me levaria para algum lugar. No instante em que me escondi, passos do lado de fora me deixaram tensa. Meio segundo depois, a porta explodiu, e homens entraram, suas conversas abafadas repletas de xingamentos.

Então, de repente, as conversas cessaram, e um suspiro pesado veio do lado de fora.

— Por que, diabos, tem um material afiado no quarto das prostitutas?! — A voz de Vittorio ecoou pelo cômodo, fazendo meu corpo se enrijecer. O medo me paralisava, e temi que até mesmo minha respiração pudesse me denunciar.

— Nós deixamos aqui para que pudessem abrir o champanhe... Não imaginamos que... — um dos capangas de Vittorio começou a explicar, mas sua voz foi cortada abruptamente.

A inquietação me consumia, por isso tentei encontrar um ângulo que me ajudasse a enxergar o que estava acontecendo, felizmente consegui.

Vittorio estava diante de mim, uma figura ameaçadora com uma arma prateada apontada diretamente para a testa de um dos soldados. O homem estava petrificado. Um frio na barriga me percorreu ao perceber que eu o conhecia; ele era o responsável por me deixar ir com meu pai quando fomos pagar a dívida.

— Vocês não imaginaram, Benício? — Vittorio rosnou, avançando em direção ao homem, a fúria estampada em seu rosto. — Estamos nessa situação porque você foi fraco e não conseguiu levar só o Charles naquele encontro. Agora, estamos pagando o preço pela sua incompetência.

— Senhor... — Benício começou, sua voz tremendo como uma folha ao vento.

Meus olhos estavam fixos na cena, incapazes de desviar. Eu precisava sair dali, mas a hipnose do medo me prendia.

— Espero que a encontre, e rápido. Você começou essa bagunça; agora resolva. — O tom de Vittorio era gelado, implacável.

— Como vamos encontrá-la, senhor? — Benício questionou, a exasperação em sua voz quase se transformando em um sussurro desesperado.

Vittorio deu de ombros, impaciente, como se a vida de Benício não valesse nada.

— Não é problema meu, isso é com vocês. — Sua frieza era quase palpável. Ele apertou o cano da arma contra a testa de Benício, silenciando qualquer outra tentativa de resposta. — Revirem Las Vegas inteira antes que ela vá para outra cidade ou estado.

Aquela frase soou como um sino de alerta em minha mente. Compreendi que eu precisava sair dali. Fugir. Mas como poderia me arrastar pelo duto sem fazer barulho? O pânico começava a tomar conta de mim, e a urgência da situação exigia que eu fosse mais astuta do que nunca.

— Lembre-se de que você já cometeu dois grandes deslizes que podem destruir a reputação da Cosa Nostra — Vittorio repetiu, sua voz baixa e ameaçadora. — Na terceira, não vou te dar outra chance.

Observei Benício assentir assustado. O silêncio que se seguiu parecia carregado de uma expectativa aterradora. Vittorio virou-se para a janela, onde o vento balançava as cortinas de forma preguiçosa, como se o mundo exterior fosse um lugar distante e despreocupado, em contraste com a tempestade que se desenrolava dentro daquele quarto.

O semblante de raiva e desprezo estampado no rosto de Vittorio era monstruoso, assustador. E o mais terrível de tudo: todo aquele rancor estava dirigido a uma única pessoa: eu.

Sem hesitar, Vittorio ergueu a arma, seus músculos tensionados como uma corda prestes a se romper. O olhar, antes controlado, agora reluzia com uma intensidade aterrorizante, enquanto um sorriso diabólico curvava seus lábios. A atmosfera ao nosso redor parecia mudar, pulsando com uma eletricidade ameaçadora, como se o ar estivesse prestes a explodir.

O mundo ao meu redor tornava-se um borrão; o tempo parecia desacelerar, e a realidade se dissipava, deixando apenas aquele momento crucial, cravado em minha memória. Meu coração disparava, cada batida ressoando em meus ouvidos, um lembrete cruel de que eu estava prestes a testemunhar um ato de brutalidade.

Então, Vittorio apertou o gatilho. O som seco do disparo ecoou pelo ar como um trovão em um dia claro, cortando o silêncio e fazendo meu estômago revirar. O projétil atravessou a nuca do soldado, e, em um instante, ele caiu, seu corpo inerte se despencando ao chão como um fardo sem vida.

Tapei a boca com a mão, tentando abafar o grito que ameaçava escapar. Uma onda de choque e horror se espalhou por mim, paralisando meu corpo. A cena diante de mim era uma pintura vívida de violência e desespero, e a brutalidade da situação se instalava em meus ossos.

Eu precisava sair daquele duto de ventilação o mais rápido possível. Esperei pacientemente o momento em que Vittorio passou pela porta do quarto, saindo com determinação pelo corredor, seguido por seus capachos. O som de seus passos se afastando me deu a coragem necessária para agir.

Comecei a me arrastar pelo duto de ventilação, a pressão do meu coração ecoando em meus ouvidos enquanto avançava. A escuridão me envolvia como um manto, fria e opressiva, mas a cada movimento, eu me afastava mais da prisão em que estivera. O metal frio e apertado se tornava um símbolo da minha determinação, e cada impulso era um passo em direção à liberdade.

Após alguns momentos, deparei-me com uma bifurcação. As opções se espalhavam diante de mim como um labirinto de incertezas, cada escolha carregando o peso da minha sobrevivência. Sem pensar duas vezes, optei por um caminho aleatório, a adrenalina pulsando em minhas veias, enquanto a esperança de escapar daquela vida sufocante ardia dentro de mim.

Segui em frente, arrastando-me por corredores tortuosos, quando, de repente, o duto se transformou em um tipo de escorregador. Não havia tempo para hesitar; deixei-me levar pela gravidade, descendo rapidamente, o vento gelado cortando meu rosto como um aviso. Cada segundo era precioso, e minha determinação crescia a cada curva.

Quando finalmente cheguei ao fim do escorregador, o impacto foi surdo, mas a emoção me carregou. Com um movimento final, deslizei para fora do duto e aterrissei suavemente no chão do estacionamento da boate.

Olhei ao redor, e o ar noturno estava impregnado com o cheiro de asfalto quente, um leve toque de liberdade pairando no ar. A luz das estrelas parecia mais brilhante, como se celebrasse meu renascimento. Respirei fundo, sentindo a brisa fresca em meu rosto e, pela primeira vez em muito tempo, a esperança se acendeu em meu coração.

Finalmente, estava livre. Eu não era mais a garota assustada que havia entrado naquela boate; agora, eu era Mia Foster, uma sobrevivente. Com a adrenalina ainda borbulhando em minhas veias e a determinação pulsando em meu peito, avancei em direção à liberdade, pronta para deixar o passado para trás.

Envolvida Pelo Diabo Da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora