Calalini

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Jani era apenas uma garotinha com seus 9 anos de idade quando se mudou repentinamente com seus pais e sua irmã Jessica, de 15 anos, para uma casa distante da cidade. Foi a primeira a sair do carro de seu pai, correndo pelas folhas secas, amarelas e cor de laranja, ao ver a enorme casa nova.

Era de fato, uma jovenzinha cheia de energia, no ápice de sua infância; enquanto Jessica, revirava os olhos no carro, afinal, logo quando havia se acostumado com o ambiente antigo teria de se adaptar novamente, algo nada fácil, principalmente para ela, ainda mais naquela fase.

A casa era de uma arquitetura antiga belíssima, com as paredes externas cobertas por rochas, tinha dois andares e um acesso fácil a um vasto bosque, pela porta de vidro da cozinha. Jani corria pelointerior da casa já mobiliada, seus sapatos batendo no piso de madeira, fazendo um barulho alto que ecoava pela casa, o que dava a impressão de que não havia nem sequer uma alma ocupando aquele espaço.

A pequena com os cabelos negros presos por dois elásticos, um de cada lado da cabeça, um tanto desalinhados, explorava com curiosidade toda a casa com seus olhos cor de noite, até que se deparou com uma figura inesperada, uma garota alta, com ao menos 14 anos, apoiada a lareira dohall, com um sorriso na face, os cabelos negros presos por duas tranças que lhe caiam delicadamente sobre a cintura, coberta por uma única peça, um vestido azul celeste que se findava em seus joelhos, com graça. Tinha a voz mansa, branda... Doce...

–Oh... Olá, me chamo Susan... Ouvi dizer que uma família se mudaria para cá, mas não imaginei que chegariam tão rápido. –Ela sorria por um momento, tinha um sorriso tão belo e, de certa forma, acolhedor. – Como se chama?

–J-Janice... – Gaguejava, balançando a cabeça por um momento... O que aquela estranha fazia em sua casa nova? Parou por um momento, pensou melhor e assim, chegou à conclusão de que seria grosseiro demais a perguntar isso logo no começo da conversa, soaria como se a estivesse expulsando. -Mas sou acostumada a me chamarem apenas de Jani.

–Certo então, Jani! Isso é bom, terei uma nova amiga! Estava me sentindo tão só... Mas, bem, devo sair de sua casa... Encontre-me depois, no bosque, gosto muito de brincar lá e talvez você goste também.

Susan sorriu e caminhou do hall até a cozinha calmamente, segurando suas próprias mãos em suas costas. Jani estava praticamente hipnotizada com a figura tão simpática e aparentemente confiável de Susan, até que seu cão, um pequeno beagle, cujo qual havia batizado de Wednesday(gostava de como essa palavra soava ao ser dita por sua própria voz infantil) correu até sua pequena dona, pulando sobre ela e latindo quase desesperadamente, com a cauda abanando freneticamente, num desejo quase insaciável (ao ver de Jani) de brincar. Ao ouvir o latido e sentir as patinhas do animal tocarem seu corpo, pareceu ter saído de um tipo de transe, assustando-se. Repreendeu o cachorro e o levou para fora, correndo e se jogando junto a ele nas folhas cor de “laranja outono” como ela e sua irmã costumavam chamar quando brincavam juntas, quando Jessica costumava ser menos “mal humorada” na visão da pequena.

Os pais da garota a observaram brincar com um sorriso torto na face, estavam um tanto abatidos, talvez devido ao cansaço de toda aquela mudança, haviam separado turnos diferentes para dirigir até a casa nova, não era uma viagem tão longa, porém estavam cansados de tal forma que nunca estiveram em suas vidas. Por fim, satisfeitos daquele desejo paternal de ver sua pequena gargalhar enquanto brincava do lado de fora, adentraram a casa.

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Logo após o almoço 99% improvisado que a mãe de Jani fizera, cada um se desviou para um local da casa, como costumava ser. Margaret – A “cozinheira” antes citada – Desviou sua atenção para as roupas de sua filha mais nova já que ainda não as havia colocado nas gavetas. Jessica partiu diretamente para seu quarto, deitar-se de bruços na cama e teclar mensagens de texto para seus amigos deixados para trás, na cidade. Michael, o pai das duas garotas, um exímio escritor, foi até seu escritório, para seu velho computador e para sua caneca de café, que o esperava ansiosamente, assim como as palavras em sua mente esperavam para deslizar até aquela tela vazia. Já Jani correu até o bosque do lado de fora da casa assim que terminou o almoço, sem dar nem ao menos a chance de seus familiares a perguntarem para onde corria com tanta pressa.

A verdade era que Jani se interessou por Susan, talvez por seu carisma, ou por ter sentido que a conhecia de longas datas. Adentrou o bosque, com certa cautela para não tropeçar em troncos traiçoeiros. Até que encontrasse Susan a companhia não lhe faltou, graças a Wednesday, que caminhava no mesmo ritmo que a dona. Após uma boa caminhada encontrou a garota que tanto procurara encostada em uma árvore de tronco grosso, sorrindo e com os braços cruzados.

–Puxa! Como você demorou, Jani... Achei que teria de ir buscá-la em sua casa! – Ria baixo em um breve intervalo, sua voz não tinha tom de repreensão, mas de uma brincadeira, uma piada para quebrar o silêncio. – Mas já que felizmente está aqui, posso te levar ao lugar que planejei para nós hoje.

Como dito antes, Susan parecia muito confiável para a pequena Jani, em sua inocência infantil não pensou que a maior a faria mal de forma alguma, sendo assim, caminhou ao lado dela, de mãos dadas devido à desculpa de Susan - Se você escorregar, estarei segurando – Dizia ela.

Caminharam pouco até chegar à margem de um rio raso, calmo e cristalino, onde se sentaram e Susan iniciou uma conversa, bem mais semelhante á um monólogo, ao início.

–Sabe Jani, se você percorrer o caminho ao lado da margem do rio seguindo a direção em que a água corre, irá chegar ao lugar onde eu e meus amigos nos encontramos, é um lugar bonito e confortável, onde fazemos piqueniques e conversamos, além de cuidarmos de alguns animais que resgatamos...você gostaria de passar um tempo conosco, mas ainda preciso saber que tipo de pessoa é.

Ela sorria analisando cada detalhe físico de Jani, assim como os aspectos psicológicos, pelo que parecia pelos seus olhos penetrantes que pararam e fitaram os olhos meia noite da criança, era como se seus olhos adentrassem sua pequena alma e descobrir cada segredo que esta escondia, se é que uma criança de 9 anos podia esconder alguma espécie de segredo. Após alguns minutos de um silêncio desconfortável e até aterrorizante para Jani, a maior quebrou o silêncio e sorriu.

–E então... Qual é sua idade? Quando suas aulas se iniciam? Onde vai estudar? Do que gosta de brincar? E de comer? – Metralhava perguntas a pequena, que sorria alegre ao responder todas elas.

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