Conforto

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Aquela era com certeza uma bela manhã em Calalini, as crianças e os animais sentados ali se assemelhavam a figuras de uma pintura. Os raios de sol penetravam pelas árvores altas, com as folhas alaranjadas que caiam sobre os pequenos, que riam em baixo delas... Riam até a chegada de Susan.

A garota sorria de uma forma meiga antes de sentar-se entre Jani e Elize, abraçando apenas a pequena Jani e sussurrando-lhe algo que a fazia levantar imediatamente sem ao menos se despedir dos rostos confusos que deixou nas folhas do outono. Entrou em sua casa batendo a porta da cozinha, com Susan atrás de si.

A imagem vista por Jani estava longe do que a garota imaginava ver em seu pequeno quarto. A mãe da menina fazia suas malas com algumas lágrimas rolando por seu rosto, lágrimas que ela tentava conter respirando fundo.

–M-mamãe? O que está acontecendo? –Jani se aproximava de Margaret e a abraçava com a maior força que seu corpo a permitia. –Vamos viajar?

–Vamos sim, Jani... Sabe, as coisas não estão muito bem, precisamos sair deste mesmo ambiente por um tempo, nos fará bem. –Ela beijava o topo da cabeça da menina, a acariciando em seu rosto logo em seguida. Doía-lhe o fato de a garotinha que tanto amava ver sorrir estar daquela forma, abatida e aparentemente cada vez mais triste. – Quer me ajudar a arrumar suas malas, minha ratinha?

Com o olhar, Jani chamava Susan para que se encontrava apoiada na batente da porta , se aproximasse. Margaret suspirava antes de obter a ajuda das duas meninas para que terminassem de arrumar as roupas da pequena devidamente dentro da mala, e agora era a vez da de Jessica, e para esta, Margaret não pediria ajuda das meninas.

Assim que a mulher adentrou o quarto de sua filha, uma furiosa discussão iniciou-se, Jessica gritava furiosa com sua mãe, através da porta, as palavras não podiam ser entendidas.

–É sobre você que ela está gritando –Dizia Susan –Por sua causa... Ela vai te machucar Janice, você sabe disso. Ela é louca... Esquizofrênica.

–E o que eu devo fazer? É minha irmã, não vou machucá-la novamente.

–Ameace-a. –Sua voz parecia sorrir a Jani, que fechava os olhos ao ser abraçada pela maior –Ameaçar não machuca.

Naquela noite, um prato a mais foi posto na mesa para que Susan acompanhasse a família no jantar, estavam todos sentados á mesa com exceção de Jessica, que chegava com a face séria e apoiava os braços nos ombros de Jani, como se estivesse tentando enxergar algo do lado de fora. A pequena levantou-se repentinamente, com os olhos arregalados e a expressão furiosa.

–SE ENCOSTAR EM MIM NOVAMENTE -Ela gritava – EU TE MATO! EU FALO SÉRIO, EU TE MATO!

Michael e Margaret permaneciam apenas olhando espantados para suas filhas, Jessica soltava a irmã lentamente, enquanto esta corria para seu quarto, deixando os adultos aflitos, a adolescente trêmula e sua amiga com um sorriso sombrio na face.

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–Não há mais como a mantermos aqui – Dizia o pai das duas garotas, trancado com Margaret em seu escritório, andando de um lado para o outro no chão de madeira, massageando as têmporas. –Teremos que tomar uma providência rapidamente... Uma tem medo da outra, não podemos deixá-la fazer mal à própria irmã.

A resposta de Margaret demorou a vir, a mulher estava transtornada e precisava pensar.

–Então iremos amanhã de manhã? Assim tão rápido? E como você acha que ela vai ficar sem a irmã por perto?

–É temporário e você sabe muito bem!

Jani estava com os ouvidos encostados á porta, Susan havia partido e ela nem ao menos vira, apenas saiu do quarto quando ouviu os passos pesados de seus pais pelo corredor de madeira do segundo andar. Sua face era triste, mas havia certo alívio em seu interior, á final ajudaria a ela e à Jessica, certa distância por um tempo, o tempo que curaria seu medo da irmã mais velha.

Na manhã seguinte todos partiram em direção á cidade onde costumavam morar, para a casa da irmã mais nova de Margaret, a doce e meiga tia Ann. Susan estava lá quando partiram, olhava Jani com certo ódio no olhar, por esta nem ao menos ter se despedido antes de partir sonolenta.

A casa de sua tia tinha sempre o mesmo cheiro, cheiro de aconchego e torta de amora. Seu abraço era acolhedor e confortável, quase como os abraços de mãe. Jani entrava de mãos dadas com sua mãe aparentemente séria na casa, porém logo corria ao sofá acariciar o gato gordo e amável de sua tia.

Repentinamente Margaret sumira da vista de Susan, mas aquilo não a preocupava “Deve ter ido conversar com a titia Ann na cozinha” Pensava, brincando com o gato em seu colo, enquanto esboçava um sorriso no rosto, sorriso que apenas aparecia naqueles momentos despreocupados em que tinha um animal que podia brincar e acariciar próximo de si.

Os dias se passaram rápido na casa de sua tia Ann, onde estavam apenas Jani, Margaret e Ann, em harmonia num ambiente tranqüilo e silencioso, silencioso até demais, talvez pelo fato de Margaret estar sempre no andar superior dormindo e tia Ann sempre na cozinha, fazendo seus deliciosos quitutes que deixavam sua sobrinha instantaneamente alegre.

Embora estivesse sentindo-se tão bem fora de sua casa, havia algo que a perturbava, uma voz que ecoava no fundo de sua mente, bem baixinha e suave, era sobre Jessica? Era sobre Susan? Talvez Elize? Ou seria... Calalini?

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