Os dias na casa se tornaram semanas depressa demais, pelo que Jani pensava em sua imaturidade de nove anos de idade. Talvez fosse a companhia de Susan que deixasse as coisas mais divertidas, afinal, dia após dia elas prosseguiam a se encontrar, dia após dia Jani repetia suas experiências com Susan para seus pais, que aparentavam estar cansados demais para dar muita atenção a menina... Apenas pareciam.
Em um dia específico, Susan com um sorriso pretensioso na face (algo que não podia ser bem interpretado por sua pequena e nova amiga) Abaixou-se em frente a esta, o suficiente para ficar de seu tamanho, antes de dirigir-se a ela com uma voz macia e branda como a habitual.
–Por que não me deixa conhecer seus pais, Jani? Eu sou sua amiga, não sou? Podemos brincar na sua casa hoje... E talvez amanhã eu possa te levar a aquele lugar secreto que disse que levaria, se lembra? Onde meus amigos e eu ficamos.
Jani nunca estivera tão animada pelo que parecia naquele momento, assim ela tomava uma das mãos de Susan, apressada e com um sorriso preenchendo seu rosto tropeçava pelos troncos e se recompunha rapidamente, puxando a maior que ria baixo pelo caminho até a porta de vidro da cozinha, de onde a pequena gritava por seus pais e adentrava a casa, com Susan ainda sendo puxada pela mão.
–Papai! Mamãe! Venham conhecer Susan, ela está aqui, está aqui comigo! – Dizia animada, como se fosse começar a saltitar ali mesmo, uma vontade muito bem contida pela garota. – Andem logo!
A “ordem” era obedecida, os dois “M’s” da família logo estavam presentes na cozinha, com o olhar paciente para com sua pequena e amada bonequinha Jani.
–Essa aqui é a Susan – A maior sorria a eles, acenando com a destra gentilmente – A minha amiga nova de quem falei se lembram?
Acenavam positivamente com a cabeça, mostrando um sorriso torto novamente á Susan, dizendo as mesmas palavras clichê de sempre “Seja bem vinda e sinta-se á vontade”. Era até chato, entediante para a garota, ela esperava mais daquilo, ao contrário de Jani que já estava satisfeita com qualquer reação minimamente positiva vinda de seus pais.
Logo após aquela apresentação “incrível”, ambas foram para o quarto de Janice, que mostrava a Susan tudo o que possuía, apresentando várias possibilidades para que passassem o tempo ali (o tempo que Jani torcia para ser longo). Tudo corria perfeitamente bem até que Jessica foi mandada para o quarto da irmã, trazendo em mãos uma bandeja com sanduíches simples de manteiga de amendoim e geléia, suco e um comprimido que entregava a Jani:
–Mamãe disse que é vitamina, já que você não tem almoçado direito precisa repor tudo o que rejeita.
Após ver a menina engolir o remédio e somente após isso, Jessica saía do quarto, antigamente Jani não colocava remédio algum na boca, gritava e esperneava causando a desistência de seus pais e sua irmã, mas havia melhorado com o ganho gradativo da “maturidade”.
Susan apenas mostrou o quão incrédula estava quando Jessica saiu do quarto, capturando a curiosidade de Jani como num golpe quase profissional, apenas aguardando que ela perguntasse:
–O que foi Susan? – Com aquele sorriso de derreter corações que agora era apenas de Susan e ninguém mais... Ninguém. –Há algo errado?
–Como pode confiar nela assim? Ao menos sabia o que ela realmente o fez tomar? Sabe se aquilo era uma vitamina? –Susan sorria de forma irônica –Bom, eu não confiaria nela se fosse você, principalmente a conhecendo e sabendo de seu estado...
–O-o que? – Jani novamente havia recobrado a velha “mania” de gaguejar, confusa pelas palavras de sua companheira. –O que quer dizer com isso? Qual é o estado de Jessica?
Agora Susan estava satisfeita, podia mostrar a Jani a verdade; Levantou-se, ajeitou o vestido e pegou a menor pelo pulso, assim levando-a ao escritório de seu pai onde abria uma enorme gaveta repleta de cartas, receitas médicas, pesquisas sobre uma tal doença mental, de vários médicos diferentes. Susan fez a garota ler todas aquelas cartas e pesquisas, ajudando-a a ligar os pontos para o resultado final:
–Jessica é uma louca, deficiente mental! Ela quer te ferir, te fazer mal, pois acha que é isso o que deve fazer... Ela está com ciúmes de mim... Ela quer te matar aos poucos!
Susan balançava a menina ao falar, a mesma garota que a empurrou para longe, com lágrimas deslizando por sua face juvenil enquanto ela arremessava livros aleatórios da mesa organizada de seu pai, gritando e soluçando.
–É mentira! Sua mentirosa! Jessica não é louca, é minha irmã... Minha irmã! Esses... Esses papéis... Esses papéis são todos mentirosos, você os colocou aqui e... –Sua voz abaixou-se para um sussurro como numa mudança drástica após uma pausa. –Como você sabia que isso estava aqui?
–Seu pai não sabe fechar as cortinas... –Dizia dando uma pausa razoável – Eu quero o melhor para você Jani. –Aproximava-se devagar, segurando pelo queixo aquele rosto delicado, mantendo a expressão preocupada e sincera antes de aproximar os lábios dos ouvidos despreparados da garota. –A machuque antes que ela o faça com você...
Susan ria baixo antes de sair da sala como se as palavras que dissera a garota equivalessem a nada, saltitando pelo piso de madeira e fazendo barulho com seus sapatos negros como aqueles de bonecas antigas. Assim que Susan desapareceu, os pais de Jani foram tirar a menina do local, preocupados ao ver os papéis espalhados, os livros ao chão, após terem ouvido os gritos da garota, porém aliviados de certa forma, concluindo que... Ela sabia.
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A cada dia que se passava, Jani ficava cada vez mais paranoica em relação a sua irmã e para contribuir com seu estado um tanto perturbado, Susan não aparecia há dias, o que deixava a garota sem distração nenhuma, a não ser um gato que aparecia vez ou outra em sua janela, cujo qual alimentava e acariciava, chamando-o sempre pelo nome “Four Hundred”.
O mesmo gato citado estava no colo da pequena quando Jessica entrou no quarto da irmã para conversar, supostamente. Perguntar o que estava havendo, querendo saber o porquê de sua pequena ratinha, como costumava chamá-la, não estava mais se aproximando dela. Foi um erro aproximar-se demais da mais nova tão bruscamente daquela forma... Jessica foi estapeada por sua ratinha, que correu porta a fora depois de agredir a irmã, quase como Susan fizera após agredir sua mente com tais palavras... “Como pôde? Como pôde? A culpa é sua.” Pensava Jani em um ataque de fúria, correndo até o bosque, até o rio.
–Ora, estava indo te buscar agora... Parece um tanto nervosa, Janice, porque não vamos á Calalini?