Marcamos uma viagem

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- Posso ter sotaque? - Riley me perguntou, na semana seguinte.

- Sotaque de onde? - Perguntei, enquanto entrava na confeitaria.

- Inglaterra.

- Não.

Nos sentamos no pequeno sofá perto da entrada.

- Por favor! - Ela estendeu um pouco o som.

- Deixa eu ver.

- Olá... - Ela começou, em algo que com certeza não era inglês britânico.

- Não! - Cortei.

- Porque não?

- Porque... Ela é da nossa escola. Vai acabar descobrindo que você não tem sotaque. - E porque era ridículo. - Olha, é só fingir por uma hora ou duas, e depois vocês provavelmente nunca mais vão se ver.

- E se eu quiser ser amiga dela?

Estava prestes a responder quando Farkle passou pela porta.

- Ladies! - Ele deu um meio sorriso e levantou uma sobrancelha

- Farkle. - Dissemos em uníssono, mas com tons diferentes. Eu, em tom irritado e Riley, em tom animado.

Depois que ele se sentou, me levantei e fui falar com minha mãe. Ela estava atendendo alguns clientes, e me mandou esperar no balcão. De lá, pude ouvir Riley falando com Farkle:

- O que você acharia se eu fizesse um sotaque?

- Que tipo de sotaque?

- Britânico. Você quer ouvir?

Ele sorriu.

- Claro, sunshine!

Ela disse uma ou duas frases com o sotaque horrível. Eu e ele nos entreolhamos.
- É ótimo! - Ele forçou um sorriso - Mas... a Missy pode acabar descobrindo...
- Vão querer milk-shake? Os de sempre? - Minha mãe se aproximou, apoiando a bandeja de metal no quadril.
Assenti.
- Mãe, você pode guardar um segredo?
Ela foi honesta o suficiente para dizer que dependia do segredo.
- Eu tô fingindo ser a ex do Lucas.
Ela abriu e fechou a boca.
- Porquê?
- Ele disse pra nova namorada que tinha uma ex horrível. Eu estou ajudando... Por uma taxa.
Ela ergueu uma sobrancelha.
- De quanto estamos falando?
- Cem por hora.
Ela assobiou.
- Eu contaria qualquer mentira por essa taxa... Vai dividir comigo?
- Se você me ajudar...
Ela me estendeu a mão e eu apertei.
O que você esperava da mulher que me criou?
Me sentei de novo com Riley e Farkle.
- Farkle disse que eu deveria fazer o sotaque - Riley me avisou.
Olhei o gênio pelo canto do olho. Ele olhou pra baixo, parecendo com medo. Dei de ombros.
- Tudo o que você quiser, Riles.
Ela me deu um abraço apertado, quase me sufocando.
Lucas, Missy e Zay chegaram logo depois de nossos milk-shakes, os dois primeiros parecendo muito alegres e o último, irritado.
Porém, o garoto negro sorriu quando me viu, se aproximou de mim e me deu um beijo. Um selinho. Me abraçou forte e, antes que eu pudesse protestar, sussurrou:
- Só entra na onda.
Forcei um sorriso.
- Oi, amor! - Improvisei - Não sabia que você vinha!
- Eu nunca ia perder uma chance de te ver! - Ele respondeu, forçando o sotaque texano. Os três recém-chegados se sentaram.
Me perguntei se meu sorriso parecia tão falso quanto eu imaginava. Minha mãe se aproximou, equilibrando uma bandeja com três milk-shakes.
Enquanto colocava delicadamente cada bebida na mesa, sussurrou para mim:
- Por que estava beijando o Zay?
- Eu também queria saber.
Ela reprimiu um sorriso e se dirigiu aos outros:
- Querem fazer os pedidos também? - Eu sabia que ela queria, com todas as forças, que eles não pedissem nada. Quase pude sentir sua decepção quando Lucas deu um sorriso polido e disse:
- Eu vou querer um milk-shake de morango e um muffin, por favor.
Zay pediu um milk-shake e um pedaço de bolo, ambos de chocolate.
- E você, querida? - Ela se dirigiu à Missy.
- Ela vai querer um Buloschki - Lucas interferiu.
- Eu nem sei o que é isso - protestou Missy.
- É tipo um muffin. - O garoto passou o braço por seus ombros - Você vai adorar!
- Não é tipo um muffin - Eu protestei, enquanto minha mãe se afastava.
- Mas é delicioso! - Riley completou, com o sotaque falso.
Eu e Farkle já estávamos, mas Dar prendeu o riso quando ouviu-a falar, e Lucas uniu as sobrancelhas.
- Você é britânica? - Perguntou a loira.
Riley começou a dizer que sim,mas eu a interrompi:
- Não! Os pais dela a mandaram para um internato, há dois anos, e ela voltou com sotaque.
Ela soltou um "oh" não tão surpreso.
Seus pedidos chegaram, e o celular de Farkle tocou. Ele deixou o milk-shake na mesa, pediu licença e atendeu.
- Oi, pai. - Ele cumprimentou, frio - Hum-hum... Que merda vocês têm pra fazer em Dubai?.. Me desculpe... - Um suspiro - Não, pai, eu não quero ir com vocês... Diga à mamãe que não precisa me esperar pra jantar... - Um olhar de esguelha para Riley - É, eu sei...
Então ele começou a discutir nervosamente em uma língua desconhecida. Por fim, desligou e jogou o celular na mesa.
- Tudo bem? - Riley pousou a mão em seu ombro, esquecendo o sotaque por um minuto e ele olhou para ela, ternamente.
- Só... gente rica sendo rica. - O ruivo deu um meio sorriso.
Alguns segundos de silêncio se passaram.
- Ãhn... - Missy se dirigiu a Farkle, quebrando o silêncio - A língua que você estava falando com seu pai... Era alemão?
- Dinamarquês - Ele disse, entra goles de milk-shake - Minha família veio de lá.
- Jura? A minha também!
Eles começaram a conversar e, finalmente, a atmosfera se suavizou. Lucas começou a contar histórias entediantes sobre o Texas e Zay e eu começamos a tirar sarro dele. Riley, por outro lado, ouvia atentamente. Ela sempre gostara de suas histórias.

Ficamos conversando por mais uma hora ou duas, até que Missy disse que tinha que fazer alguma coisa de que não me lembro. Assim que eles se foram, Riley perguntou se eu iria para casa com ela.
- Vou ficar pra ajudar minha mãe - Menti.
Ela me deu um abraço apertado e beijo na bochecha, fez o mesmo com Farkle e foi embora.
Assim que a perdemos de vista, ele suspirou.
- Imagino que queira saber sobre meu pai.
- Bem, não é pra ajudar minha mãe que eu tô aqui.
Ele deu uma risada fraca.
- Não era nada que Riley não pudesse ouvir, sabe? Não precisava ter esperado ela sair.
Dei de ombros.
- Riley é contra pressionar as pessoas.
- Você deveria seguir o exemplo dela.
- Eu sei - respondi, e depois: - Agora, você vai me contar ou eu vou ter que descobrir sozinha?
Ele riu.
- Não quero saber como você descobriria sozinha, então vamos lá. Eu e meus pais vamos todos os anos para Miami, no começo do verão. Desde que eu me entendo por gente. E esse ano... eles se esqueceram. Minha mãe foi fazer compras. Em Dubai.
- Esse é seu problema? Sua mãe foi pra Dubai?
- É, eu sou ridículo. Mas esses eram os únicos dias que eu podia passar com eles.
Ele abaixou a cabeça e percebi o brilho em seus olhos. Lágrimas.
Suspirei.
- Ah, Playboy... - Passei um braço ao redor do seu pescoço - Que tal se todo mundo viajasse? Tipo, eu, você, Riley e Lucas? E quem mais pudermos chamar pra torrar o dinheiro do seu pai.
- Como se o Sr. Metthews fosse deixar...
Dei de ombros.
- Podemos levar ele também... não podemos?
- Querida, podemos levar toda mossa classe de história, se quisermos... Certo, isso pareceu esnobe. Desculpe.
Eu sorri, ignorando a última parte de sua fala.
- Vamos pra Miami, então?
Ele sorriu junto comigo.
- Vamos pra Miami!

______

Na tarde seguinte, Farkle entrou pela Bay Window, com um sorriso no rosto.
O gênio ficou de pé em nossa frente e abriu os braços.
- Tudo resolvido! Lucas e Zay já estão fazendo as malas, Topanga e Smackle não podem ir, e o Sr. Metthews vai o único adulto, pelo visto.
- Eu não chamaria de "adulto". - Comentei.
Ele riu, mas seu sorriso tremeu um pouco.
- O que foi? - Perguntou Riley.
- É que só tem um problema...
- Desembucha, gênio - pressionei.
- Missy vai com a gente - soltou.
- O quê? - Me levantei, indignada - Sem chance!
Ele queria que eu passasse uma semana assistindo o Casal Maravilha e ainda com todo o fingimento? Ele só podia estar maluco!
- Maya, o Lucas me implorou!
- E... E os pais dela? Vão deixar ela viajar com um monte de gente que ela nem conhece?
- Bem, ela conhece o Lucas. E um professor vai junto.
Ah, claro. O Metthews ainda era professor.
- Eu não vou viajar com ela! Não vou fingir a semana toda!
Ele deu um sorriso amarelo.
- Você pode levar sua mãe...
- NÃO!

_____

- Nós vamos - impôs minha mãe - Você queira ou não.
- Mas, mãe...
- Sem mas! Topanga me deu a semana de folga, e você não vai me impedir de viajar por causa de uma garota que está namorando o Lucas! Ele já namorou centenas de garotas!
E todas as centenas foram ao Topanga's, nos conheceram s pediram um Buloschki. Só que, geralmente, ele as dispensava depois disso.
- Mas nenhuma achava que eu era a ex dele! - argumentei.
- E daí? Pelo amor de Deus, eu já tive que fingir até que era casada! Casada! E ainda consegui fazer as pessoas acreditarem!
O modo como ela disse isso, como se fosse algo absurdo, me fez rir.
- Do que cê tá rindo? Foi difícil! E, se eu posso fingir, você também pode!
- Tá legal, tá legal... - Respirei fundo e peguei o celular.
O número de Farkle já estava entre os favoritos.
O gênio atendeu ao primeiro toque. Sempre atendia.
- Oi, amor da minha vida! - ele atendeu, já sabendo o que eu iria dizer - Posso reservar um lugar no carro pra você?
- Pode - murmurei, contrariada- E pra minha mãe também.
- Vejo vocês em Miami!

Namorada de Mentirinha (Lucaya)Onde histórias criam vida. Descubra agora