Macaca Suruga 004

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Para Senjougahara, foram dois anos. Para mim, foram duas semanas.
Para Hanekawa, foi durante a Golden Week.
Para Hachikuji... bem, não tenho certeza sobre ela.
Se você está se perguntando sobre o que estou falando, é a duração de tempo em que passamos em contato com um monstro. A duração de tempo em que tivemos uma experiência estranha. A duração de tempo em que tivemos uma experiência terrível que muito certamente não era normal.
Leve eu, Araragi Koyomi, como exemplo.
Isso me envergonha o bastante para me fazer querer rastejar para dentro de um buraco e me esconder, mas eu fui atacado por um tipo antigo de vampiro durante esta sociedade civilizada do século 21. Eu senti um medo de gelar o sangue e pânico, e a tradicional e lendária vampira sugou todo o sangue do meu corpo.
Eu fui sugado até secar.
E eu me tornei um vampiro.
Eu temia o sol, odiava cruzes, evitava alho e detestava água benta. Em troca disso, eu recebi uma força física dezenas, centenas, milhares ou até mesmo dezenas de milhares de vezes maior que a de um humano normal. E em troca disso, eu senti uma fome absoluta por sangue humano. Eu me tornei um desses andarilhos noturnos frequentemente vistos em mangás, animes e filmes. Eu realmente senti que um vampiro tão irrealista era algo injusto. Os vampiros populares nestes dias caminham calmamente durante o dia, vestem cruzes como acessórios, comem gyoza e bebem água benta. Apenas as habilidades físicas permanecem.
Mesmo assim, a necessidade de sugar sangue humano permanece nos vampiros mesmo na cultura moderna popular.
Um demônio sugador de sangue. Um vampiro.
No final, eu fora salvo daquele inferno por um homem de meia-idade que passava por ali. Ele não era um caçador de vampiros, ele não era parte de alguma força especial cristã, e ele não era um vampiro que matou sua própria espécie. Oshino Meme meramente era um homem vestido de camisa havaiana desleixado que tinha passado por ali. Contudo, isso não mudou o fato de que aquelas duas semanas realmente tinham ocorrido.
Um demônio.
Um gato.
Um caranguejo.
Um caracol.
Havia uma coisa diferente entre mim e as outras três que eu tinha que manter em mente. A diferença era maior quando se tratava de Senjougahara Hitagi. Não era a diferença na duração de tempo.
Era o quanto nós havíamos perdido.
Ela tinha dito que não pretendia voltar a como ela era.
Mas isso não era absolutamente necessário. Não era apenas que Senjougahara não queria voltar atrás?
Afinal de contas, Senjougahara tinha cortado toda e qualquer socialização com os outros por dois anos. Ela não tinha feito contato com ninguém na turma por esses dois anos. Mesmo agora que esses dois anos acabaram, ela não tinha mudado.
Fora de sua relação comigo, nada havia mudado.
Araragi Koyomi tinha meramente se tornado uma exceção especial para Senjougahara, mas todo o resto tinha ficado o mesmo.
Nenhuma diferença podia ser vista antes e depois.
Ela meramente não tinha mais que ir à enfermaria da escola.
Ela meramente podia participar durante a Educação Física.
Ela ainda quietamente lia algo no canto da sala de aula. Era como se ler na sala de aula fosse sua maneira de construir um muro sólido entre ela e seus colegas de classe.
Ela realmente tinha apenas começado a falar comigo.
Ela só almoçava comigo.
Sua posição na sala de aula ainda era a de uma estudante de classe A quieta e doente. O resto da turma só viu isso como seu humor e doença melhorando um pouco.
Hanekawa, a representante de classe, tinha inocentemente se alegrado e disse que era uma melhora maravilhosa, mas eu não podia ver esse quadro e sentimento positivamente.
Ela não tinha perdido tudo isso.
Ela mesma pode ter deixado isso de lado.
Mas o resultado era o mesmo.
Eu não quero parecer que sabia do que estava falando. Eu não fazia ideia de como a nossa relação seria dali em diante, e eu não achava que fosse um problema com o qual eu devesse interferir.
Eu não sentia que interferir e se intrometer era a coisa certa a se fazer.
Mesmo assim, eu não deixava de ter um certo pensamento.
E se a Senjougahara...?
Atualmente, ela não estava carregando um grampeador por aí. Isso era um passo adiante e uma mudança, então ela não podia continuar a seguir pelo mesmo caminho?
E se ela se abrisse para mim e não só para mim?
"Alô?"
"Alô, desculpe pela espera. Aqui é a Hanekawa."
"..."
Enquanto aquela era a maneira apropriada de se responder a um telefonema, era realmente certo dizer isso com um celular? Hanekawa Tsubasa.
A representante de classe e estudante de alto nível.
Ela parecia ter nascido para ser uma representante de classe.
Eu tinha originalmente brincado sobre ela ser a representante de classe entre as representantes de classe escolhidas por deus, mas nos dois meses em que eu tinha trabalhado com ela como o vice-representante de classe, eu tinha descoberto que ela combinava tanto com isso que não era mais engraçado. Adquirir conhecimento era algo imensamente importante para humanos, mas essa era uma coisa que eu desejava não ter descoberto.
"O que é? É bem incomum você me ligar, Araragi-kun."
"Ah, não é nada demais. Eu só queria te perguntar sobre uma coisa."
"Você quer me perguntar sobre algo? Tudo bem. Oh, é sobre o que a nossa turma está fazendo para o festival cultural? Sério, seria melhor não pensar demais sobre o festival cultural até as provas acabarem. Você está com as mãos ocupadas com isso, certo, Araragi-kun? Claro, eu vou cuidar de todas as tarefas menores por enquanto. Ou você está me dizendo que deveríamos mudar o que estamos fazendo? Nós decidimos isso por enquete, então seria difícil. Oh, ou tem algum tipo de problema que nos leve a ter que mudar isso? Se sim, nós precisamos lidar com isso o mais rápido possível."
"Você poderia não sair tanto do assunto?"
Ela realmente era do tipo de mover a conversa para algum outro lugar sozinha.
Ela não só chegava a conclusões erradas um bocado, mas falava um bocado e rápido.
Era difícil conversar diretamente.
Eram oito horas da noite.
No caminho de retorno da casa de Senjougahara nos Apartamentos Tamikura, eu estava caminhando por uma rua asfaltada enquanto empurrava minha bicicleta em vez de sentar no seu assento. Isso não por que Hachikuji estava do meu lado ou porque Kanbaru estava correndo até mim. Eu simplesmente queria pensar.
No final, nós tínhamos estudado até as oito da noite.
Era hora do jantar, então eu tinha esperanças de que Senjougahara cozinharia algo pra mim, mas ela não mostrou nenhum sinal de que faria isso. Eu tinha finalmente perdido a paciência e tinha reclamado do meu estômago vazio.
"Entendo. Então podemos terminar aqui. Tenho certeza de que você pode se lembrar, mas há muito poucos postes nesta área. Tome cuidado no seu caminho para casa. Vejo você depois, jacaré."
Ela tinha prontamente me levado pra fora. Como seu pai geralmente trabalhava até tarde da noite, Senjougahara Hitagi essencialmente vivia sozinha, então ela tinha que ter sido capaz de cozinhar.
O nível de dificuldade dela só continuava a aumentar e aumentar.
Mas, mesmo assim, eu não estava tão faminto, então minha reclamação de fome tinha sido uma mentira na maior parte.
Eu disse que tinha estado pensando, mas eu era a pessoa da qual Senjougahara tinha desistido de tentar lecionar ao nível de conseguir notas médias. Para mim, pensar não era tão produtivo. Era só mais para minha própria satisfação. Contudo, tinha algumas coisas que eram permitidas de acabarem no nível de autossatisfação e algumas coisas que não eram. Essa era a última.
E então eu liguei pro celular da Hanekawa enquanto caminhava empurrando minha bicicleta com a minha mão direita. Passava das oito da noite, então eu não tinha certeza se era uma hora adequada de se ligar pra uma garota com a qual eu não tinha uma relação tão próxima. Contudo, pela reação da Hanekawa, deve ter estado no alcance aceitável. Hanekawa era a personificação da diligência e era mais estrita com as morais do que a maioria, então ela teria me dito se eu não devesse estar fazendo o que estava fazendo.
"Hum, isso pode acabar sendo uma conversa longa. Você tem tempo, Hanekawa?"
"Hm? Sim. Eu só estava fazendo um estudo leve."
"......"
Ela realmente deve ter sido a representante de classe entre as representantes de classe escolhidas por deus para dar essa resposta tão prontamente sem soar desagradada por ela.
O que se qualifica como estudo "leve"?
"Bem, eu vou tentar deixar isso o mais curto possível. Hanekawa, você foi pra mesma escola de ensino fundamental que a Senjougahara, certo? Qual era..? Ah, certo. Escola Pública do Ensino Fundamental Seifuu."
"Sim, eu fui."
"Então você conhece Kanbaru Suruga, que tá a um ano abaixo da gente?"
"Claro que conheço. Na verdade, tem alguém que não conhece ela? Até mesmo você conhece, certo, Araragi-kun? Ela é a capitã do time de basquete e é vista como uma estrela pela escola. Até mesmo eu fui a alguns jogos dela com amigas para animá-la."
"Bem, eu não tô realmente interessado no presente. Eu quero saber sobre quando a Kanbaru tava no ensino fundamental."
"Hmm? Você quer? Por quê?"
"Eu só quero."
"Hmm. Bem, ela não era tão diferente no ensino fundamental do que agora. Ela era a estrela do time de basquete. Da última metade do segundo ano em diante, ela era a capitã assim como agora. O que tem isso?"
"Oh, hum..."
Eu não podia contar a ela.
Eu não podia dizer a ela.
Ela não acreditaria em mim.
Quem acreditaria que aquela estrela da escola estava perseguindo a mim, de todas as pessoas?
Também tinha o problema do quanto da situação era permitido para eu contar a ela. Mas, bem, era a Hanekawa, então eu decidi que podia contar a ela uma certa quantidade. Claro, eu seria indireto com as partes que eu deveria manter ocultas.
"Eu ouvi falar que a Kanbaru e a Senjougahara se davam bem no ensino fundamental. Isso é verdade?"
"Hmm? Eu creio que disse isso a você antes, mas ainda que eu estivesse na mesma escola do fundamental, na verdade eu nunca tive nenhum contato físico com a Senjougahara-san. Ela era popular, então alguém simples como eu tinha apenas ouvido falar dela."
"Essa sua modéstia sempre me comove, mas a gente poderia deixar ela de lado uma vez?"
"O Combo Valhalla."
"Hã?"
"Eu acabei de me lembrar. Elas eram chamadas de Combo Valhalla. Senjougahara-san do atletismo e Kanbaru-san do time de basquete formavam o Combo Valhalla."
"O Combo Valhalla? O que Valhalla significa? Esse termo soa meio familiar. E por que elas eram chamadas disso?"
"O 'baru' de Kanbaru e o 'hara' de Senjougahara eram colocados juntos para formar 'baruhara', ou Valhalla. Valhalla é o templo paradisíaco em que Odin vive na mitologia nórdica. Os espíritos dos guerreiros que morreram em batalha são convidados para lá, então ele é conhecido como a terra sagrada do deus da guerra."
"Oh, então pega o 'deus' de Kanbaru e o 'campo de batalha' de Senjougahara."[1]
"E isso era o Combo Valhalla."
"Entendo..."
Encaixava-se perfeitamente demais.
Algumas pessoas inventavam nomes inteligentes mesmo que fosse só para um apelido, mas o nível de dificuldade desse era tão alto e ele tinha um toque tão amável que a maioria das pessoas simplesmente ficaria impressionada ao ouvi-lo. Isso me deixou sem o que dizer, mas imagino que essa seja apenas a maneira cruel em que você acaba olhando para isso quando se está no cargo das réplicas inteligentes.
"Bem, já que elas eram um combo, imagino que elas pelo menos se davam bem até certo grau. Senjougahara-san estava no time até ela se formar, então no mínimo elas tinham uma associação por ambas estarem em times de esporte."
"Você sabe de tudo, não é?"
"Eu não sei de tudo. Eu só sei o que sei."
Essa era nossa típica conversa.
A todo custo, eu senti que agora eu era mais capaz de ler entre as linhas do que estava acontecendo.
Mas o que eu faria agora que tinha lido entre as linhas?
O que eu iria fazer sobre as linhas em si?
"Isso pode ser repetir uma pergunta que já te fiz antes, mas a Senjougahara era uma pessoa completamente diferente durante o ensino fundamental, certo?"
"Sim, ela era. Ainda assim, mesmo ela tem mudado um pouco recentemente. Mas ela ainda é muito diferente daquela época."
"Entendo..."
Ela estava mudando.
Ela estava mudando, mas só em coisas relacionadas a mim.
E era por isso que ela era diferente do passado.
"Ela era popular com seus calouros?"
"Sim. Ela era popular tanto com os meninos quanto com as meninas. Além disso, aparentemente não era limitado aos calouros. Quando ela tinha veteranos, esses veteranos eram bastante afetivos com ela, e, claro, ela era bastante adorada por seus colegas de classe."
"Então ela era popular com todo mundo, sendo jovem ou velho, homem ou mulher, hm?"
"Essa é só uma diferença de veterano e calouro, então não penso que seja uma questão de 'jovem ou velho'. Mesmo assim, se eu tivesse que escolher, eu diria que ela era mais popular com as calouras. É isso que você queria saber, não é, Araragi-kun?"
"... Fico contente por você ser tão perceptiva."
O problema é que ela podia ser perceptiva demais.
Não era tão ruim quanto com Oshino, mas parecia que ela via bem através de você.
"Mas, Araragi-kun, é a Senjougahara-san atual que você ama, não a antiga, certo?"
"......"
Você é que nem aquela estudante da quinta série.

Bakemonogatari: Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora