Capítulo 6

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Anelise:

   Quando ele me encara com aqueles grandes olhos irradiando calor, eu... -- desculpas Deus! --
Estremeci.

Não tem como descrever de outro modo. Uma grande formigamento começou no interiorde de minhas entranhas e se dissipou por todo o corpo. O soltei como se me queimasse e tentei fingir que nada acontecia.

-- Então? Vamos? Ou você está absorto demais na música que não suporta perder nada? -- porque se perguntassem para mim, eu não saberia dizer nem quantas músicas haviam se passado, completei mentalmente.

Eu não podia ficar na zona da amizade, não é mesmo? Tinha que ficar romantizando tudo. Lembro-me que sempre fora uma dessas crianças que acreditava em contos de fadas: fadas do dente, papai Noel, duendes e todos os outros, até que um dia... bemg! Deixei de acreditar em fadas.

Isso acontece quando você se depara com uma vida em que, seu pai não a ama o suficiente para não colocar uma corda no pescoço e tirar a própria vida. Pelo menos ele não cortou os pulsos, não é verdade? Seria demais todo aquele sangue.

-- O.k. -- ele disse? levantando-se. Uma pequena careta de dor perpassou seu rosto, antes que ele
dissimulasse com um sorriso falso fixo.

-- Você está mesmo bem?

-- Claro, por que não parece?

-- Quer mesmo que eu responda?

-- Não, não quero. -- ele diz ríspido.

-- E então? O que você achou do show? -- pergunto ironicamente, quando já estamos ao lado de fora da
garagem, onde não tinha ninguém.

-- Ótimo. -- me responde, fazendo uma carranca.

-- Também achei, eles tocam um rock'n'rall dos bons, não é mesmo? Acho que vou comprar um CD deles e pedir para a Karina alguns EPS. -- Brinquei.

-- Anelise! -- ele adverte.

-- Imagina, podemos começar um fã clube, e andar com blusas com o slogan da banda.

-- Rá. Rá. Rá. -- ele faz troça. -- Falando em slogan, gostei da sua blusa.

-- Legal né? Eu achei que seria o ideal para esse show. Esse seu moletom também está ótimo. -- Falo, pela primeira vez notando que ele estava de moletom, bem, cada um com seu estilo né?

-- É o mais confortável a se vestir depois de ser triturado por um lutador com síndrome de pit-bull.

-- Mas você ganhou, não foi?

-- Foi, mais isso não que dizer que eu não tenha apanhado.

-- Coitadinho do meu amigo, levou uma surra do homem mau. -- digo, fazendo voz de bebé.

-- Você não tem jeito Ane. Mas vamos logo que eu tô doido pra chegar em casa e comer os biscoitos que sua mãe me deu.

-- Você não vai dividi-los?

-- Claro. Eu dou um para meu sobrinho predileto e o resto é meu. -- fala rindo, enquanto seguíamos andando a pé pela calçada.

-- E ainda sou eu quem não presta, né?

  ***

Ricardo:

-- Não sei o que é mais indicado a se fazer. Será que devo me afastar dela? Ou continuo me encontrando com ela e finjo que nada está acontecendo? -- devo está desesperado mesmo, para
está perguntando uma coisa dessas a meu irmão, mas a outra opção seria meu psiquiatra, e eu não faria isso, não mesmo. Ele não era tão legal como o psiquiatra do Pat, cara do livro que estou lendo.

Por que fadas não existem? Onde histórias criam vida. Descubra agora