Capítulo​ 1

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Meu nome é Hazel, e gostaria muito de não ter nada a contar para esse livreto. Livro qual ganhei de minha avó um pouco antes de ser arrastada até o distrito 7 pelos encarregados do Lado A, Algogiz, o vilarejo que costumava ser calmo onde morava. Desde que a guerra em Trinis acabou, tudo tem ido de mal a pior, durante seus seguintes 10 anos. Fazem 10 anos que estou sendo mantida nesse lugar escombroso e inquieto, sob observação.
Por quem estou sendo observada? Boa pergunta, daquelas que ninguém sabe ao certo me responder.
O distrito 7 se tornou minha morada depois que meu pai morreu (é o que dizem, por mais que eu ache um pico de conspiração por baixo da cena toda) e então fui trazida para cá, apenas com a roupa do corpo e um livro em branco de capa duríssima, para viver... Nada de especial nunca aconteceu, então tudo que fizera foi dormir, comer a comida ruim e enlatada e trocar as roupas acizentadas com frequência baixa. Gostou do começo? A história é bem mais pesada que isso.
Em uma guerra contra o estado de Thor, sabe se lá o nome do país, minha mãe se alistou. Se tornou médica do exército de Thirain, lutou por Trinis (país) e ganhamos. Ganhamos, talvez, já que as consequências desse conflito foram além de bombardeios arquitetados. Uma bomba radioativa foi "acidentalmente" lançada no território de Algogiz, o que no momento não causou maiores danos que o susto. Mas havia perigo SIM! E o governo sabia disso. 
Ahh, minha mãe sobreviveu. Na verdade, os mortos pela bomba R foram poucos, mas as consequências muitas. Ela voltou da capital de Trinis, Béren, e engravidou de mim. Nasci. Ela morreu no parto e deixou para mim apenas a revolta com tudo o que havia acontecido antes. Eu tinha 7 anos quando papai recebeu uma carta negra, em escritos brancos de péssima caligrafia, com o selo da capital. Era algo sério, notei, quando endireitou na cadeira de balanço e arregalou os já grandes olhos. Ele pegou seu isqueiro de charutos e a queimou, diante de meus olhos. Eu não sabia o que era.
Observei as chamas se alastrando para o alto, até que ele jogou o já torrado papel na lareira.

- Papai? Era importante? Era pra mamãe? - Claro que em minha pouca idade, essa obviamente não era a pergunta certa a se fazer.

Naquela noite, o resto dela, foi tudo conturbado. Vovó e vovô nos visitaram, e mandaram me para o quarto. Fingi dormir para escutar a conversa. Ela entrou e deixou no meu banquinho de cama o diário. Na capa estava escrito em letras ensaiadas: Diana.
Mas isso, claro, só pude perceber quando saiu. Ela balbuciou algumas palavras misturadas às lágrimas e foi embora. Não pude entender. Não era hora de entender.

Na manhã seguinte ele me deu uma notícia nada agradável: Estava de partida. Disse que uma doença estava matando o papai, e ele queria boas lembranças deixar para mim. Nosso último dia juntos. Acordei sem ele, com vovó ao pé da cama.

- Ele já foi? - balbuciei essas pequenas frases e me virei. Me cobri. Já perdi o mais importante que havia no mundo. Queria morrer também.

- Querida, levante-se! Você está de viagem marcada. Foi só um sonho ruim, e tudo passará. Você vai morar em um lugar bom! Te tratarão bem... Te prometo, arrisque, tente. O segredo do seu pai é seu direito descobrir.

Fui. Fui para o distrito 7 e permaneci até hoje, um dia estranho. Nunca me trataram mal, de fato, mas como uma aberração. O que sou? Não sei. Não sou capaz de saber.  Moro num entrelaçado de cabines, semelhante à uma prisão. Tem muitas meninas da minha idade e fiz amizade com poucas delas. Duas estão na minha "cela" como carinhosamente chamo o quarto. Alicia, ruiva e inexperiente como todas nós.  Eloisy, tão serena e razão. Elas são minhas irmãs, assim digamos. Eu as amo porque crescemos juntas, já morávamos no Algogiz quando fomos arrastadas para cá. Como disse, nada aconteceu desde então.
Mas não hoje. As meninas do quarto ao lado estão festivamente eufóricas.

É o dia de Testes de Habilidades. Somos mutantes, é o que dizem.

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*imagem: uniforme do distrito. Atrás é o número de cada lote*

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