Ashy

Ubatuba

Caminhamos por cerca de quinze minutos, eu conhecia bem aquela cidade,Ubatuba litoral norte de São Paulo. Minha raiva aumentava cada vez mais ao pensar na emboscada armada. Quem quer que tenha sido o responsável irá pagar, terei o prazer de quebrar-lhe os ossos do rosto depois curar-lhe para então quebra-los novamente e certamente não será nem o começo.
Ninguém disse nada até chegarmos a uma casa térreo com janelas azuis, o que já era de se esperar, no quintal uma fonte bem cuidada jorrava sem cessar. Pensei que a casa estava vazia, no entanto, a porta se abriu e diante de nós ,uma senhora pequenina e rechonchuda  apareceu.
- Ashy! - Nani, como eu a chamava, saiu correndo na velocidade que seus pés roliços permitiam. Me surpreendia a força que seus braços possuíam ao me abraçar. - Oh, Ashy minha menina como você emagreceu. Não está se alimentando direito, não é?
- Nani...
- Não, não diga nada. O que importa é que você está aqui. E quem são eles? - disse apontando em direção aos indesejáveis visitantes.
-Nani esses são alguns amigos. Estamos cansados a noite será longa...- Claus se apressou em dizer.
- Oh, Claro senhor. Por favor entre.

Maia passou por Nani que logo a seguiu, o resto de nós bem atrás.  O cheiro de lavanda me trazia recordações de quando eu e meu tutor passávamos horas a fio treinando o domínio. Nani sempre presente desde sua infância, cresceu naquela casa e nunca questionou o fato de eu nunca envelhecer. As vezes as rugas de Nani me causavam um certo tipo de inveja. Envelhecer  era algo que eu ansiava,ver as pessoas que passavam por minha vida morrerem uma após outra ... Uma tortura sem fim.  Por isso a regra de nunca nos apegarmos aos humanos deveria ser seguida sem exceção, e mais uma vez as lembranças de Kisha  se fez presente. Afastei essa lembrança para o fundo de minhas memórias, era dolorido demais pensar nisso agora porque tudo o que eu desejo agora é me vingar.

- Nani prepare os aposentos por favor.- Disse Claus.
- Sim senhor.- Nani sumiu ao virar o corredor.
- Claus o que foi que aconteceu? - Os olhos intensamente azuis estavam criptando uma energia negra, eu sabia muito bem de onde ela vinha, do nosso lado negro. Senti uma leve pontada em minhas omoplatas," Minha senhorita, peço-lhe  um instante de vossa atenção." "Agora não Scorpion."  Ordenei e um escorpião um tanto inquieto alojou-se resignado. Maya deu um passo a frente exigindo respostas.
-Milaide , gostaria de dizer que está tudo sobre controle mas a verdade é que fomos atraídos para uma emboscada.
- Isso todos nós sabemos. O que eu quero saber é o que foi que aconteceu com ela. - Aquela azulzinha  disse apontando para mim.
- Como assim o que aconteceu comigo? O que você quer dizer com isso?- Me aproximei deixando bem evidente meu descontentamento.
- Você exitou.
- Nunca!
- Milaides  vamos nos acalmar. Maya agora não é o momento, certamente precisas de um descanso, milaide. - Claus sempre fazendo o meio de campo.
- Ela está certa. Ashy  exitou. Por acaso está aliada a eles? O que ganhará com isso, Ashley?- Claus se posicionou entre Anthony e eu impedindo que uma briga épica acontecesse. - Saia da frente Claus.
- Não! Por que estais agindo sem decoro? Deveis pensar. - olhando ao redor continuou. - Todos! Algo não está correto.

Parei para analisar e Claus estava certo, eu sentia que tinha alguma coisa errada mas não consegui decifrar..." Minha senhorita, novamente peço-lhe sua atenção". Saí de meus pensamentos dando atenção a Scorpion. " Seja breve" . Não aqui minha senhorita". " Certo. Onde então?". " No meu mundo".  Dei a desculpa que estava cansada e que precisava me retirar, ninguém se opôs. Ao sair do ambiente olhei por cima dos ombros e vi um Claus abatido, algo que eu não via em centenas de anos. Virei no mesmo corredor que Nani, eu sabia qual era a porta do meu aposento. Levei a mão a maçaneta bronze talhada em estilo colonial, deveria ser datada do século 15, girei lentamente lembrando dos momentos que me refugiava ali quando meu tutor era duro em suas palavras, mas hoje eu entendo porque ele exigia tanto de mim. Você precisa ser capaz de se proteger, não de seus inimigos mas sim do seu oculto...É o que ele dizia. Entrei naquele quarto que ainda se parecia com o mesmo deixado há anos atrás, a janela ainda possuía a cortina branca com pequenas flores trabalhadas, obra de Nani que certa vez resolveu redecorar meu quarto. Na parede branca, um quadro solitário ornado com pequenas conchas, perdi as contas de quantas vezes fiquei observando aquela pintura, a cama fora substituída por um king Size, confesso que aquela senhorinha subiu em meu conceito. Retirei meus artefatos escondendo-os  no fundo do armário repleto com espartilhos e calças confeccionadas especialmente para o meu estilo de vida, vez ou outra os vestidos da época colonial eram colocados ali me fazendo lembrar de minha antiga vida. Estava cansada precisava de um banho. Scorpion  teria que esperar. " Milaide ." " Por favor Scorpion  preciso ao menos de um banho." " Esperarei milaide , mas peço-lhe que não demores" . "Certo."
Eu merecia isso, todos os quartos possuíam seu próprio banheiro, o meu era composto por uma banheira e vários sais de banho, escolhi o de lavanda. Scorpion  sempre me dava privacidade nesses momentos. Repassei  tudo que havia acontecido em tão pouco tempo... Terminei meu banho, enrolada na toalha caminhei até o quarto um pouco mais relaxada. " Podemos minha senhorita?". " Pelos guardiões! Posso me vestir primeiro?". " Perdoe -me por meu anseio milaide  mas não será necessário vestir-se".  Escutei sua risada maliciosa, nem nos sonhos dele eu estaria nua. " É lamentável que pense assim minha senhorita, tenho certeza que eu apreciaria muito".  E novamente aquela risadinha sedutora. Pelos guardiões! Se somos dotados de parte do nosso zodíaco eu estava fadada à luxuria e sexo pervertido. " Se você tentar qualquer gracinha eu te aprisono . Você entendeu? Eu ainda posso domina-lo em meu mundo." " Entendi milaide, serei um lorde." Toquei o tecido fino de um vestido renascentista e decidi usa-lo, certifiquei  que a porta estava trancada, não que isso fosse impedir um guardião de entrar em meu quarto mas assim eu me sentia mais humana.