Oh no

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  Depois daquela festa, como um déjà vu, lá estava eu, num domingo de manhã, cuidando da ressaca e do coração partido de Jas. Jas encheu a cara depois que Zacky foi embora, provavelmente ela não escutou a bula do meu pai, porque ela esqueceu o próprio nome. Ela estava deitada no meu peito, já havia acordado para vomitar duas vezes. É por a ver assim que eu não procuro me envolver com alguém. Me apaixonar. Meu primeiro relacionamento já me fora o suficiente para mim criar bastante anticorpos.

  — O que acha de levantar e tomar um banho? — perguntei quando a vi abrir os olhos. — Trarei algo gostoso para você comer.

  — Pode ser — bocejou.

  Ela se levantou, esfregou os olhos e balançou a cabeça como se quisesse se livrar da enxaqueca assim.

  — Trarei remédio para você.

  Olhou para mim e sorriu. Sorri de volta.

  Assim que Jas entrou no banheiro, deixei para ela vestir em cima de minha cama um moletom tamanho GG. Depois fui atrás de minha mãe, perguntar sobre sua caixinha de primeiros socorros, os remédios de enxaqueca decerto estarão lá.

  Quando já havia terminado seu chocolate quente, e um sanduíche, subi para meu quarto. Entrei no meu quarto com a bandeja e a olhei sentada em minha cama, vestida a meu moletom.

  Ela corou.

  As coisas entre nós estavam diferentes. Diferentes de uma forma que eu não sabia explicar, mas gostava daquilo.

  — Melhorou um pouco com o banho? — perguntei pousando a bandeja na cama, logo a sua frente.

  — Um pouco.

  — Fiz chocolate quente para você, sei como gosta. Um sanduíche, e a água para tomar com o remédio.

  — Amo chocolate quente. Obrigada, Charl. Não sei o que seria de mim sem você.

  — Daqui cinco dias estaremos indo para Vancouver.

  — Sim! — disse animada. — Estou empolgada.

  — Estou ansiosa.

  Quando ela terminou de comer, peguei a bandeja e coloquei em minha escrivaninha, e me sentei ao teu lado. Ela estava pensativa, triste, talvez. Estava pensando em Zacky, com certeza.

  — Vou sentir falta dele — resmungou, enfim.

  — Logo passa. Tudo passa.

  Ela assentiu. Depois começou a me encarar.

  — O que foi, Jas? — perguntei envergonhada.

  Ela continuou me encarando, depois balançou a cabeça negativamente, na forma de dizer, "nada". Deixei minha mão deslizar por seus cabelos e ela, instantaneamente, fechou os olhos com o carinho. Eu sentia algo estranho, algo que parecia errado. Errado por ela ser minha amiga. E esse sentimento estranho e errôneo me deu um empurrão que, quando vi, meus lábios estavam pressionados nos de Jas. Ela não recuou, nem me empurrou. Senti suas mãos frias subir para minha nuca, me arrepiou. O beijo estava lento e excitante. Mas aí ela se afastou de repente. Gargalhando. Fiz cara de confusa, e ri um pouco para me distrair. A gargalhada dela parecia nervosismo.

  — O que foi isso? — perguntou.

  — Eu.. Eu não sei — eu estava estranha, eu não estava me entendendo. — O que foi? Por que está rindo?

  — Sei lá. A pergunta é, por que me beijou? — ficou me olhando como se estivesse me analisando.

  — Não sei — ri de nervosismo.

  — Eu sou hétero, Charl — engoli em seco.

  — Eu... eu... quem disse que eu também não sou?

  Ela deu de ombros, sorrindo. Eu estava apaixonada. Eu já me apaixonei antes e sei como é estar. Sinto vontade de beijá-la constantemente, sua presença me deixa tímida, excitada e com borboletas no estômago. Era errado sentir isso por Jas. Ela é minha única e melhor amiga, não posso perdê-la para meus sentimentos. Eu tenho que me contentar com o posto que já assumo em sua vida, de Melhor-Amiga-Irmã. Enquanto a observava, senti vontade de beijar-lhe outra vez, e outra vez, e outra vez.

  — Tenho que ir para casa, Charl. Minha mãe deve estar preocupada.

  — Está bem. Vou te acompanhar até a porta.

  Enquanto caminhavamos até a porta, eu repetia em minha cabeça, "okay, você está errada sobre seus sentimentos, você não a ama dessa forma, não está apaixonada"

  — Tchau. Nossa, você está estranha, parece estar no mundo da lua! -— disse Jas.

  — Ah, me desculpa. E estava pensando no show — menti.

  — Calma, Charl. Controla sua ansiedade.

  — Vou tentar.

  — Bom, tchau. Obrigada por cuidar de mim — beijou minha bochecha.

  — Sempre vou cuidar de você.

  Ela sorriu coagida. Quando fechei a porta, suspirei aliviada, a sensação de ter algo errado foi embora com Jas.

  — O que faz aí?

  — Oh, céus! Mãe, que susto! — coloquei a mão no peito, assustei como se eu estivesse pensado auto e minha mãe já soubesse sobre tudo.

  — Desculpa, querida. Não quis te assustar. Jas melhorou?

  — Não, não, tudo bem, mãe. Jas.. Jas melhorou sim. Acho.

  — O que foi? Está nervosa. Brigaram, foi?

  — Não, não. Estou normal — sorri amarelo.

  Subi para meu quarto, quase correndo. Me joguei na cama e peguei meu celular e meus fones.

  Okay, músicas, me ajuda, pensei.

  Meus segredos estão queimando um buraco em meu coração, escrevi em meu pulso, com caneta preta, enquanto ouvia Sleepwalking. Eu precisava contar sobre meus sentimentos para Jas.
  Oh, não. Parece que estou sempre me apaixonando pela pessoa errada. Se eu contar a ela, o risco de perdê-la é iminente. Eu não quero perdê-la.

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