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Baekhyun estava tão entediado nos últimos dois meses que sentia que poderia se desfazer em cinzas. Seus dias agora eram formados por passadas rápidas ao banheiro, cozinha e quarto -vez ou outra até a mercearia da rua onda comprava comida instantânea-.

Era a vigésima vez que se remexia no sofá da sala, não procurando uma posição confortável, -o que era impossível naquele sofá duro- mas procurando uma forma de se fundir com estofado. Queria poder falar tudo o que sentia para sua mãe, mas era só se deparar com o brilho no olhar da mulher que desistia. Em vez de jogar tudo contra sua mãe, se contentava em xingar o dono da empresa que a contratou e os obrigou a se mudar do centro de Seul para o fim de mundo de Seul.

Se levantou do sofá escuro e manchado pelo suco de uva que derramara logo na primeira semana na casa, e foi até seu quarto. Não fez nada de diferente, apenas se jogou na cama com o rosto enterrado no travesseiro azul escuro. Posição que não duraria muito, apenas o tempo necessário para ele ter certeza de que ali não era uma passagem secreta para Nárnia ou qualquer outro mundo e então voltar para a sala, onde se jogaria no sofá.

Olhou para o relógio na parede e viu que já eram sete horas da noite. Sua mãe chegaria em breve. Sorriu ao ver que seu passa tempo favorito já havia chegado. Ficou de joelhos na cama e abriu as janelas, puxando as cortinas brancas para longe. Sorriu de lado quando o vento fresco atingiu seu rosto. Olhou bem para o prédio na frente do seu, vendo as janelas que sempre observava começarem o movimento.

Agarrou o pequeno binóculo que ganhara natal passado de sua tia e se debruçou na base de ferro da janela. Olhou pela lente do binóculo, mirando nos lugares específicos. Encarou o relógio novamente e viu que já eram sete e três pm. A mágica iria começar. 

No primeiro andar, Senhora Jung chegava do trabalho e ligava as luzes da sala, logo a janela do quarto também era iluminada e a mulher na meia idade aparecia ali, abrindo a bolsa e retirando de lá as habituais revistas pornográficas gays. Byun deu uma risada baixa ao ver a expressão pervertida da mulher ao abrir a revista.

Mirou para outra janela e se concentrou. No terceiro andar os três filhos do pai solteiro, Choi Chung-Hu, esperavam o pai ir dormir e corriam para o quarto, onde a televisão virada para a janela era ligada e colocada em um canal para adultos. O garoto pendurado à janela gargalhou quando viu que desta vez quem ficava na porta de tocaia era o do meio, Dong-Sun. Um de seus planos era ligar para o homem e avisar sobre o que seus filhos estavam a assistir no exato momento, mas deixava esse plano para mais tarde, quando o tédio estivesse o matando de verdade.

Ficou um tempo admirando as cenas pornográficas na TV dos garotos, então mudou para o quinto andar onde a Park Bong-Hee, uma mulher que acabara de se mudar com seu recém-noivo, chegava com o amante que por vezes se escondia em baixo da cama quando o noivo chegava mais cedo. Baekhyun só passava o dia esperando que naquela noite o noivo da garota chegasse mais cedo, apenas para gargalhar com o desespero do amante em se esconder, ainda nu.

Não se orgulhou quando ficou alguns segundos vendo a forma que Park Bong-Hee beijava o homem.

No sétimo andar o senhor mais velho do prédio não fazia nada, literalmente nada. Sempre só estava sentado na poltrona de frente para a televisão que sempre estava no canal de vendas. Byun só perdia seu tempo em espionar o senhor para ver se ele ainda estava vivo.

Quando ia bisbilhotar o último andar, parou na entrada do condomínio.
Um carro totalmente preto estava estacionando nas poucas vagas de frente para o seu prédio. Ajustou o binóculo e focou bem no carro. Não era um conhecedor de carros, não poderia dizer a marca, mas também sabia que era um carro diferenciado dos outros poucos carros estacionados ao lado.

Não que fosse luxuoso demais, mas era estranho. Era inteiramente preto, as janelas impossibilitavam qualquer um de ver dentro do veículo. Quando a porta foi aberta, jogou o corpo um pouco mais para frente, para ver melhor. Seu binóculo não era da melhor qualidade, e ele ainda estava no último andar, não era uma visão privilegiada da pessoa que saira do automóvel.

Tinha um casaco longo e preto, um bone também preto e a calça jeans escura. Andava com elegância, mas ainda assim rápido. O corpo parou e Baekhyun juntou as sobrancelhas. A cabeça da pessoa pareceu virar e olhar para cima, o que causou uma reação escandalosa do garoto que se contraiu para trás, dando uma cambalhota e indo de encontro ao chão. Passou a mão pela área dolorida da cabeça e resmungou baixinho.

Olhou para a janela e rapidamente se recompôs, subiu na cama novamente e agarrou o binóculo, se preparando para olhar o estranho novamente, mas encontrou apenas o vazio.

Jogou o seu material de espionagem na cama e bufou. Não conseguiu ao menos ver o rosto, a pessoa estava de máscara. Poderia ser um homem, uma mulher. Sentiu a curiosidade corroer seu corpo.

Já estava cansado e fechou as janelas, logo indo até a sala. Quando estava prestes a ir para a cozinha, ouviu o elevador abrindo as portas e correu até sua porta. Ficou na ponta dos pés para conseguir olhar através do olho mágico, estava esperando sua mãe aparecer.

Só conseguiu ver um corpo passar, então parando na porta do apartamento na frente do seu. Quase deu um gritinho histérico ao reconhecer o casaco. Era definitivamente um homem, mesmo que só pudesse ver as costas. O boné não permitia que ele visse muito, mas percebeu alguns fios negros escapando. Sorriu quando reparou nas orelhas pontudas.

Quando a porta estava a ser aberta, o homem parou e olhou de soslaio para trás. Byun levou as mãos à boca, com medo de fazer qualquer som, mas continuou olhando pelo pequeno buraco da porta, quem quer que fosse lá fora jamais saberia que ele estava ali.

O rapaz entrou no apartamento e rapidamente fechou a porta. Baek deu uma risada baixa quando se deu conta que o vizinho misterioso que nunca vera era o homem que estava no estacionamento. Voltou para o sofá e esquematizou um plano para ver o rosto do vizinho.

Desde que se mudara nunca vera o vizinho, os outros moradores do condomínio diziam que o apartamento tinha um dono, porém ele havia saído de férias ou algo do tipo. O que era estranho, estavam entrando no meio do ano e ele estava de férias? Deveria ter algo escondido.

Balançou a cabeça concordando com seu próprio pensamento, logo fazendo mil e uma hipóteses para o rapaz mentir sobre sair de férias; teria ele algum parente próximo doente? Problemas com a lei? Com drogas?

Cruzou as pernas e deitou as costas no sofá, ainda pensando na vida alheia. Não se orgulhava por ter virado um bisbilhotador, mas o que poderia fazer? Estava trancado naquele apartamento iria completar três meses e já havia lido todos os livros, jogado todos os jogos e ouvido todas as suas músicas. -todas as 200 que seu celular de uma qualidade mediana permitia-. E como ele mesmo dizia: "não sou fofoqueiro, sou um investigador."

Colocou em prática toda a sua formação em investigação que arrecadou com CSI e tentou juntar peças inexistentes, mas que para ele eram tão reais quanto qualquer outra coisa.

Em sua pequena cabeça os neurônios trabalhavam a todo vapor, pensando em coisas imaginárias. Seria o carro todo preto para não poder ser visto por dentro? O que ele escondia no automóvel? Por que saiu de férias no meio do ano? Está saindo para esconder algo? Enterrar algo?

Arregalou os olhos quando o raciocínio mais perturbador aparecera. O vizinho era um assassino?
Os dedos batucavam no criado-mudo, ansioso para algo que não existia. Ele era definitivamente um assassino. Já conseguia até mesmo imaginar a vítima, uma mulher. Pobre Eun Bong Hee que foi escolhida a dedo pelo assassino, era uma garota doce. Sim, com certeza era alguém amável. E o vizinho, que homem cruel! Provavelmente já havia enterrado o corpo da garota em um matagal próximo.

Já tinha até mesmo um testemunho pronto em sua cabeça. Iria denunciar o vizinho, é certo de que iria colocar o assassino cruel e de grandes olheiras atrás das grades.

Se levantou do sofá, andando de um lado para o outro. Estava tão absorto em seus pensamentos loucos que nem ouviu o barulho do elevador, só percebeu a presença de sua mãe quando a mesma já tirava os sapatos.

"Mãe, precisamos nos mudar. O vizinho é um Serial Killer."

~•~

Vampire «Chanbaek»Onde histórias criam vida. Descubra agora