Prólogo

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— Aonde a senhorita pensa que vai? – A pergunta a pegou de surpresa, não esperava seu pai em casa tão cedo e quase o atropelou ao tentar sair.

— Essa menina só sabe ficar nesse quarto, não faz nada e adivinha qual é a nova? Ela perdeu a merda do emprego. – Aquela voz soava como facadas, nunca conheceu mulher mais irritante que sua madrasta.

Julia veio correndo e abraçou a cintura da irmã, um doce, a menina mais carinhosa do mundo, pena que vinha daquela mulher, como um ser tão insuportável conseguiu colocar no mundo um ser tão bom quanto aquela menina?

Cristina afagou a cabeça da irmã mais nova, enxugou com o dedo uma lágrima que escorria no rosto da menina e indicou a direção do quarto, como sempre fazia para tentar poupar a garota daquelas discussões, não que adiantasse grande coisa.

Quando Julia fechou a porta do quarto, Paulo a encarou: — Isso é verdade, você perdeu o emprego?

— Já disse para essa louca. A bosta do mercado vai fechar, estão dispensando todo mundo. – Pensou em Cintia, sua vizinha, que foi demitida também naquele dia e precisava muito daquele emprego.

— Você não respondeu a primeira pergunta. Aonde você vai? – Seu pai insistiu, mas dessa vez, dando espaço na porta da sala para a filha passar. Dali era possível ouvir o som de portas batendo, arte de Liana, sua madrasta, que adorava bater as cosias quando estava irritada.

— Vou pra casa do cacete. Pelo menos parece ser melhor que o quinto dos infernos que é essa casa.

Não esperou resposta ou a famosa repreensão de seu pai por ter usado seu palavreado chulo, passou por ele feito um furacão e em resposta a sua madrasta, bateu o portão da garagem com toda a força que tinha.

Cristina não sabia o poder das palavras que disse, mas teria uma boa noção.

***

Mesmo preocupada com sua demissão, as brigas em casa e a escolha de seu curso na faculdade, Cristina resolveu tentar esquecer tudo aquilo pelo menos naquela noite. Sem emprego não conseguiria pagar a mensalidade de uma faculdade e desde que seu pai casou com Liana, pouco importava o que a filha mais velha fizesse, até mesmo algo digno de orgulho virava motivo de crítica com a bruaca por perto.

Sua vida social sempre foi um desastre, até alguns caras se mudarem para o seu bairro. Para surpresa dela, o mais novo dos três irmãos se interessou por ela. Não estavam juntos há muito tempo, poucas semanas e na verdade, nem poderia dizer que tinham algum compromisso, estavam apenas se conhecendo e se divertindo.

Tinham marcado de encontrarem perto do rio que cortava a cidade, apesar de ter recusado o convite no início, depois da última discussão, decidiu ir.

— Olha quem resolveu aparecer! – Uma das garotas que ficava com o irmão mais velho, Flavio, anunciou. — Perdeu o medo?

— Eu nunca disse que tinha medo, Beta. – Cumprimentou as outras pessoas do grupo e foi ao encontro de Luan.

— Nem precisava dizer, cunhadinha. – Icaro, riu. — Ficou foi com medo de perder o Luan, isso sim.

— Chega, a gente vai ou não vai entrar naqueles barcos abandonados e encher a cara? – Luan interrompeu antes que Cristina pudesse responder.

Icaro era o irmão do meio, o mais idiota dos três. Ela não tinha medo, só achava o lugar sombrio demais para um encontro entre casais e muito afastado. Tinha medo mesmo era de a polícia pegar todo mundo por ali, Borges, o delegado, era muito justo e ela gostava dele, mas sabia que não toleraria baderna.

Entraram em um dos maiores barcos, o lugar era infestado por aranhas e cheio de móveis velhos, pensou que encontrariam algum usuário de drogas por ali, com certeza o lugar era usado para o consumo de drogas, as embalagens eram provas disso.

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