Não diria isso em voz alta, mas estava sendo a viagem bastante agradável. Para não se distrair com as conversas paralelas dentro do carro, colocou seus fones de ouvido e seguiu lendo, finalmente um pouco de calmaria, pensava, enquanto dava uma olhada em volta e via os lábios dos outros se mexerem, era como apertar o mudo no controle remoto.
Os fones também serviram para ajudá-la a ignorar as indiretas de Leonardo. Estava tentando se mostrar superior e não demonstrar o seu incômodo, porém, a cada ofensa ficava mais difícil, no começo sentia-se magoada, mas agora sentia raiva. Estava confusa, por vezes se pegou recordando os últimos acontecimentos, tentando entender o que havia feito de tão ruim para ele, sabia que tinha exagerado para fugir da guilhotina, mesmo sem intenção. No entanto, apenas ele parecia realmente se importar com o que ela fez, os outros até ajuda pediram. Outra coisa que ela não sabia nem por onde começar, mas se pudesse, ajudaria sim.
O que conseguia perceber era que o mundo mágico não era muito diferente do mundano, de certo Leonardo era do tipo preconceituoso, tanto com feiticeiros, quanto com demônios, tudo bem que até agora ela não tinha visto nenhum demônio fazer algo de bom, mas devia ter alguma coisa de positivo, era nisso que queria acreditar. De qualquer forma, o que os bruxos tentaram fazer com ela também não foi nada legal, então não passavam de preconceituosos hipócritas.
Tirou os fones apenas para avisar á Icaro que a próxima cidade era a sua, pelo menos segundo o mapa no celular, de forma alguma diria isso diretamente a Leonardo, afinal, para ele, calada ela já estava errada.
Seu corpo formigava de excitação por saber que logo veria sua irmã, estava com saudade demais para segurar. Fechou o livro que estava lendo de sua mãe e também os olhos, imaginando o quanto sua pequena teria crescido nos últimos meses.
O carro parou de repente, chamando sua atenção. Abriu os olhos e percebeu que estavam parados no acostamento e os irmãos discutiam. Desligou a música do celular e tirou os fones, seu aparelho precisava ser recarregado.
— Não tem problema, a gente reveza na direção e você vai pro banco de trás e descansa. – Flavio argumentava com Leonardo e tanto Icaro quanto Luan concordavam.
— Já disse que não! – Olhou para trás, exatamente para Cristina e seu olhar de repulsa a irritou.
— Flavio! – Ela o chamou, precisava encerrar aquilo. — Precisamos descansar decentemente e de qualquer forma, há essa hora não vou conseguir ver minha irmã.
— A gente pode parar num hotel. – Sugeriu Luan.
— Engraçado, quando eu falo isso, sou egoísta, mas quando ela fala vocês concordam sem questionar?
— Ai meu Deus! – Cristina resmungou com o drama de Leonardo e logo emendou, tentando ignorar aquilo. — Eu não tenho dinheiro para dormir num hotel.
— Isso não é problema. – Flavio assegurou.
— O problema é que não vai ter hotel. – Todos olharam para Icaro, que mexia no celular. — Nessa localização só tem motel. O único hotel que encontrei fica justamente na cidade que a gente vai, então daria no mesmo ir dirigindo até lá.
— Então vamos no motel mesmo. – Luan deu de ombros. — Só quero dormir um pouco e me livrar dessa discussão idiota!
— Tudo bem por você? – Flavio a encarou, constrangido.
— Dormi na rua nos últimos meses, se tiver um cobertor rua já fico satisfeita.
Bufando e mostrando a sua irritação ao volante, Leonardo arrancou com o carro e entrou na cidade. Icaro indicava o caminho do motel, fora isso, ninguém se atrevia a falar qualquer coisa.

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Sobrenaturais
AventuraFilha única e criada pelo pai, após a mãe morrer no parto, Cristina passou sua infância aprendendo a atirar facas, assim como seu pai fazia no circo, mas com a chegada de sua madrasta e uma meia irmã, tudo mudou. Tentou de todas as formas manter a h...