Reencontro

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Depois do beijo, um caminho que seria curto, pareceu não ter fim. Não conversaram durante o percurso e o clima era o mais estranho possível, cada um com seus pensamentos.

O sobrado onde os irmãos dele moravam, era alugado e ficava a dois quarteirões da casa dela. O portão da garagem estava aberto, Leonardo estranhou, Flavio não era tão descuidado e foi logo conferindo a porta, mas foi impedido por Cristina, que tocou a campainha. Não conseguiu esconder o olhar enviesado para ela, mas se arrependeu, não podia ser rígido assim e muito menos fazê-la pensar que estava com raiva por ter sido rejeitado.

— Até que enfim... – Icaro se calou e parou de abrir a porta, seu sorriso morreu.

— Vai nos deixar aqui fora? – Ela perguntou, com um sorriso debochado e forçando a passagem. — Nossa, o fedor do abate! – Reclamou.

— Isso se chama perfume...

— Não importa, é o cheiro que antecede o abate, o problema são os três cheiros diferentes no mesmo ambiente. – Retrucou, coçando o nariz para não espirrar.

Ao ouvir a voz da moça, Luan desceu a escada correndo e parou de frente para ela, atônito, mas quando reparou quem a acompanhava, compreendeu.

— Flavio, desce aqui. – Gritou, esperando aquele que considerava seu irmão mais velho.

— Calma, eu estava... Leo? – Estacou no meio da descida, não acreditando no que via e desviou o olhar para a garota. — Isso não é bom. – Resmungou, terminando de descer para ficar ao lado dos outros.

— Já que ninguém vai dizer nada... – Bufou. — Encontrei o irmão de vocês, na verdade, para a minha sorte e saúde mental, ele me encontrou. – Terminou a frase com sua voz alterada.

— Cris, nós não sabíamos...

— Não me chama de Cris! – Esse seria seu segundo ataque de fúria no dia. — Eu não estava tão louca assim, na verdade. – Deu alguns passos à frente para ficar próxima de Luan. — Louca sim, mas não sem memória e lembro bem do seu olhar de repulsa durante todas as noites em que te esperei passar pela praça. – Foi tão rápido que ninguém teve tempo de reagir.

Cristina enfiou um tapa na cara de Luan e o empurrou, derrubando-o no chão e só então Leonardo interviu, segurando a moça que estava perdendo o controle.

Ainda tentando bater mais em Luan, ela o observou, enfurecida, no chão e tentou se acalmar, era como se Leonardo passasse esse recado através de seu toque, mas sem tirar os olhos do outro, gritou: — Eu só estava tentando pedir ajuda!

Dito isso, todos ficaram em silêncio novamente, enquanto Leonardo a afastava do irmão caçula. Flavio estreitou os olhos, observando a cena dos dois, mas não disse nada.

— A gente não sabia o que fazer, Cristina. Luan ficou desacordado por dois dias e só aí ele falou que você ainda estava lá. – Ela encarou Icaro.

— É verdade, quando ouvimos o seu grito, imaginamos que você tivesse corrido. – Flavio confirmou. — Sinto muito pelo que aconteceu, mas só quem podia ajudar está ao seu lado agora.

Leonardo soltou a garota, mediante a promessa velada de que não tentaria mais nada e ela cumpriu, nem mesmo respondeu aos outros irmãos. Mas gostou de ver Luan atordoado, tentando se levantar.

— Precisamos conversar. – Leonardo se pronunciou pela primeira vez.

— Não temos nada...

— Luan! – Flavio o repreendeu.

— Fui enviado pela Ordem. – Explicou, tentando ignorar a cara feia de Luan.

— Vamos subir. – Flavio indicou a escada e seguiu atrás do irmão mais velho. — Vocês ficam! – Avisou, sentindo Icaro e Luan atrás dele.

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