Estava fresco no inicio da noite e uma brisa entrava pela janela do quarto do amplo apartamento localizado no último andar do templo divino, banhando com seu gélido beijo os dois corpos que se contorciam na cama em movimentos intensos que a ignoravam. Lou Ane sentia o calor subindo das suas pernas ao peito, o calor do outro corpo que se friccionava com o seu, o calor do prazer. Os pensamentos de incerteza que a preocupavam durante todo o último ano desapareciam durante aqueles minutos fazendo o tempo parar e restar apenas o êxtase. Como se estivesse momentaneamente entorpecida por uma droga. Contudo quando o efeito passava os pensamentos turvos sempre voltavam de forma mais arrebatadora como se durante aqueles instantes fossem comprimidos como ar em algum lugar de sua mente. Lutando para se expandir e explodir. Não importava se iriam voltar, Lou Ane queria os momentos de paz. Como um drogado, estava viciada.
Lou Ane arfou e gritou enquanto sua musculatura relaxava. Seu companheiro saiu de cima dela e levantou-se para ir até o lavabo do outro lado do quarto. O sentimento de culpa abraçou a inquisidora que começou a chorar baixinho agarrando-se ao travesseiro. Do lavabo seu parceiro a ouviu e disse:
— Lou, já faz um ano que Zalazar morreu. Pare de se sentir culpada por ter deixado sua vida seguir.
Lou Ane não respondeu, parando para pensar ela fazia muito isso, não gostava de falar em demasia, ainda mais quando ouvia algo que a desagradava. O que Angus não sabia era que por mais que o tempo passasse ele não apagaria o amor que ela sentia por Zalazar, talvez a incerteza acerca do desaparecimento não deixava-a apagar esse sentimento. No fundo ansiava encontra-lo de novo, mesmo com o Sumo Sacerdote alegando que ele estava morto já que Deus não mais encontrava seus dados. Ela ainda não acreditava. O que não era nada bom, não queria começar a duvidar do grande criador.
Levantou-se da cama e começou a vestir o uniforme da inquisição, só de olhar as vestes negras sentia-se cansada. A cada dia o trabalho estava ficando mais difícil e perigoso, levou a mão ao abdômen onde tinha levado dois tiros na semana anterior, não restava dor devido à cicatrização rápida de seu corpo modificado, mas a cicatriz permanecia como um mau agouro para lembra-la dos tempos violentos que afligiam Civitadei. Um novo tipo de crime tinha se tornado rotineiro, bandidos atacavam os cidadãos de mais alta classe e decepavam seus braços direitos a fim de obter os bit moneys que eram armazenado no chip neural obrigando as vitimas recorrerem a tecnologia do passado instalando braços cibernéticos e um novo chip neural na testa. Esse tipo de crime era um tanto misterioso, pois Deus em sua sabedoria suprema não se deixava ser ludibriado por infiéis. O grande juiz restaurava todos os bit moneys, identificação e direito de ir e vir da vitima, como cancelava todos os dados do chip roubado. Sua intuição dizia que esse crime tinha o envolvimento dos Sacros e hoje ela teria a resposta.
A inquisição recebeu uma dica anônima informando que o líder dos Sacros iria se reunir com seus comparsas na maior estação de gerenciamento de comportamento da cidade. Pela primeira vez em meses a inquisição estava um passo a frente dos hereges rebeldes e Lou Ane fora escolhida pelo alto comando da inquisição para liderar um destacamento de sete inquisidores. Estava acostumada a cumprir ordens e não liderar, essa geralmente era tarefa para Zalazar e por isso estava suando frio com a responsabilidade, a vida de sete pessoas dependeria de suas decisões. Apesar do nervosismo estava determinada a cumprir as expectativas, expurgaria de vez a praga dos Sacros e talvez conseguisse alguma informação sobre o desaparecimento de seu marido. Algo tinha mudado em Zalazar na beira do rio Tern no ano anterior fazendo-o sumir uma semana depois.
Caminhou para a porta e viu Angus de relance no lavabo se ataviando com as vestes brancas e douradas de Sumo sacerdote, despediu-se saindo do aposento deixando a porta entreaberta e se deteve alguns minutos ao lado de fora da porta para escutar , como se tornara um novo habito, Angus dissertando para o espelho as palavras abençoadas que falaria para a congregação logo mais.
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Ao Deus que odeio
Science FictionEm um mundo pós-apocalíptico uma entidade chamada Deus controla, segrega em classes e pune os atos da humanidade através de um chip que é obrigatoriamente instalado na mão de cada individuo. Para manter a ordem o templo divino usa os agentes da inq...