Cap 7- 17 velinhas

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  "Mããããe, manda o Felipe parar de implicar comigooo" Eu falei, pela milésima vez naquela manhã. A cada ano que passa meu irmão fica mais irritante. 

  "O que foi dessa vez, Sofia?" Meu pai perguntou, porque minha mãe estava ocupada demais decidindo entre pratos de plástico amarelos ou azuis.

  "Ele fica zoando todo penteado que eu faço." Reclamei.

  "Óbvio, ontem foram aqueles dois coques no meio da cabeça, hoje é essa tal trança de pônei." Felipe falou, apontando pro meu cabelo.

"Trança de unicórnio" Eu corrigi, e ele deu de ombros como se não fizesse a menor diferença.

  Estávamos na loja de artigos pra festa. Era aniversário do meu irmão, e mesmo que ele já estivesse fazendo 17 anos, minha mãe insistiu em fazer uma festinha. Como se ele tivesse 12 anos. Com balões coloridos. 

  É claro que Felipe aceitou, primeiro porque não queria magoar a mamãe. E segundo porque ele realmente queria ir na festa do hotel, e faria de tudo pra conseguir isso. Inclusive ter uma festa de aniversário com balões coloridos. Mamãe conversou com o gerente do hotel e eles liberaram uma salinha pra fazer a festa, o que eu achei muito generoso da parte deles. 

  "Sofia, vá com seu irmão no segundo andar da loja e procure esses itens que estão faltando da lista."

  Sim, segundo andar. Nunca imaginei que veria uma loja de artigos de festas com dois andares, mas lá estava eu, subindo as escadas rolantes. Dei uma olhada na lista e vi que só faltavam duas coisas: Velas de números 1 e 7, e um pacote de garfos plásticos. Assim que pisei no segundo andar, bati o olho em uma prateleira cheia de pacotes de garfos. Só faltavam as velas. 

  "Sofia, temos um problema." Felipe disse, no corredor ao lado.

  "O que foi?" Falei, me juntando a ele em frente à uma prateleira de velas de aniversário.

  "Só têm duas velas com os números 1 e 7. E são marrons."

  "E o que tem isso, Felipe?"

  "Você sabe que eu odeio marrom. Me recuso a levar isso."

  Soltei um suspiro. Olhei em volta e vi um pacotinho jogado no canto de outra prateleira. Eram velinhas brancas. Daquelas pequenas, sem números. Peguei o pacotinho e mostrei pro meu irmão.

  "Podemos usar 17 velinhas"

  "Cara, sua inteligência me impressiona às vezes."

  E descemos para o primeiro andar da loja.

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  Estava sentada na minha cama, procurando alguma coisa pra vestir na festa. Felipe tinha chamado seus novos amigos do hotel, então eu não poderia só colocar um short jeans, uma regata, cantar o parabéns com a minha família e depois devorar o bolo e os salgadinhos. Teriam outras pessoas lá. Pessoas com quem eu teria que socializar. Sem nenhum livro como escapatória.

  Finalmente, decidi colocar um vestido rodado verde e uma sapatilha. Me maquiei e fiz uma chapinha no meu cabelo (mesmo ele já sendo liso), pra dar uma ajeitadinha.

  Desci para encontrar meus pais no saguão, e nós entramos na salinha. Foi chegando gente, gente, e mais gente. Aparentemente, meu irmão fez mais amigos em menos de uma semana no hotel, do que eu já tinha feito nos meus 15 anos de vida. Sentei num canto e fiquei mexendo no celular pelo que pareceu uma eternidade, quando meu irmão sentou do meu lado e sussurrou: "Seu namoradinho chegou". Olhei pra ele e fiz a maior cara de "o que ta acontecendo?" da história. Ele riu e apontou em direção a porta. Era o Lucas. Olhei de novo pro meu irmão e disse que ele não era meu namorado, apenas um amigo. Felipe fez a famosa cara de "aham, sei" e voltou pra sua rodinha de amigos. Lucas foi até ele, conversou um pouco, e depois veio falar comigo.

  "Oi Sofia! Você tá linda!" 

  "Obrigada!" O que o Felipe disse não saía da minha cabeça. Será que era assim que as pessoas nos viam? Será que era assim que Lucas nos via?

  "Você vai no luau de amanhã? Por favor, diga que sim, vai ser muito divertido!"

  "Hã... Eu não sei..." 

  Foi quando, de repente, minha mãe brotou do chão ao nosso lado e animadamente disse:

  "Sim, ela vai sim! E ela está muito animada com isso, não é, filha?"

  Olhei pra minha mãe. Tive vontade de falar "Desculpa, mas eu não estou nem um pouco animada com isso!". Mas eu sabia que parte do meu acordo com a mamãe (ou melhor, parte do que a mamãe me impôs) era aproveitar as férias. Sem livros. Interagindo com outros adolescentes, por mais que eu achasse isso tremendamente chato e preferisse ficar no meu quarto. Eu não sou dramática, juro.

  "Claro" Foi o que eu fiz o esforço de responder. 

  E depois disso o Lucas ficou o resto da noite me dizendo como seria incrível, e que teria muita música, comida boa e jogos divertidos, como verdade ou desafio. Deus me livre. 


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Olá galerinha! Como vocês acham que vai ser esse luau, hein? Comentem aí!

Hoje postei o capítulo 6 e 7, espero que gostem <3

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Beijão!


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