Boas vindas

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Dia: 09/03/1837

Os últimos dias não foram fáceis com a ausência de minha mãe, perdão, mais só consegui escrever estas primeiras páginas um mês após a morte do meu bem mais precioso.

Eu realmente não consegui se quer pensar em escrever este diário antes, mas é como minha mãe dizia, escrever é o verdadeiro prazer; ser lido é apenas um prazer superficial. Então deixarei meus livros de fantasia e romance de lado por um tempo e escreverei para sentir o prazer que minha mãe um dia sentiu escrevendo os seus livros, que guardo com todo amor.

É difícil pensar que todas aquelas histórias existiam apenas no papel, eram todas tão reais que era quase possível tocar os sentimentos ali presentes. Quando eu era pequena, pegava um de seus livros e me escondia para ler. Quando papai perguntava por mim, minha mãe respondia apenas que eu estava viajando em um reino distante, sendo atacada por trolls e bruxas.

Relembrar esses momentos é uma forma de manter seu rosto em minha memória, um modo de gravar sua voz eternamente, pois, agora, mais do que nunca, precisarei daqueles conselhos que apenas ela poderia me dar.

Amanhã cedo minha rotina mudará, começo a tomar conta da administração da casa, os empregados receberão novas ordens, alguns serão contratados e tudo voltara ao normal. O mais normal possível.

Tenho uma grande lista de afazeres, o dia será longo e cansativo. Refazer um modo de viver não me parece muito simples. Sair da leitura e passeios pelo campo para a liderança de uma casa é uma mudança um tanto quanto drástica mas sei que consigo.

Dia: 10/03/1837

Ao amanhecer a casa já estava começando a ficar movimentada. Me vesti rapidamente e pulei o café da manhã. Meu pai não estava em casa, por isso, os preparativos para sua chegada estavam sendo feitos.

Durante a manhã dediquei-me a parte interna da casa. Designei uma das criadas para arrumar os quartos, tirar o pó e abrir as janelas. Outras duas ficaram com as tarefas de limpeza do primeiro andar. Já a mais velha, ficou responsável pela cozinha.

Após um almoço rápido, juntei-me aos funcionários da área externa. Eram todos novos: uma mulher de meia idade, um cocheiro, um homem já de idade responsável pelos animais e o jardineiro.

Tudo estava correndo bem, as tarefas todas concluídas e o jantar quase pronto. Faltava apenas meu pai.

O sol já havia se posto e os pássaros já estavam em seus ninhos, estava aflita com a demora. Papai raramente se atrasava quando minha mãe ainda estava aqui, agora, acredito que por a casa não lhe trazer boas lembranças, ele evita ficar por muito tempo.

A aflição já estava me causando tonturas quando ouço o som de um cavalo. Na mesma hora saí correndo até a porta da frente onde o jardineiro e o cocheiro esperavam.

Na entrada de nossa propriedade estava papai, ele estava apenas com o cavalo e com um dos braços enfaixado. Ele desceu do animal e o entregou ao cocheiro, o mesmo foi até o estábulo.

Quando ele chegou perto eu pude ver o sangue nas bandagens. Como não havia comido quase nada o dia inteiro, aquilo me pareceu extremamente nojento.

Uma tontura repentina me abalou, podia apenas ouvir meu pai gritando "pegue-a! Leve-a para dentro, e rápido!". Junto à voz de papai ouvia outro homem: "Chame um médico sr.", não pude reconhece-la, mas aquela voz, de tão melodiosa, me embalou até a completa escuridão dos pesadelos.

Ernesto, meu pai, me contou que desmaiei por alguns minutos, em seguida, o Doutor examinou-me e alertou que não devia passar o dia me alimentando mal. Como esperado, papai surtou e me obrigou a tomar duas tigelas de sopa.

Foi a pior boas vindas que eu poderia ter dado, no entanto, aquela voz... Preciso lembrar quem era o dono dela!

O diário de NovakOnde histórias criam vida. Descubra agora