Primeiro encontro

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15/03/1837

Pela manhã papai teve uma refeição reforçada e em seguida partiu para mais uma de suas viagens com destinos indefinidos. Assim que já não via mais a carruagem, corri para dentro de casa e subi as escadas o mais rápido possível em busca de algo mais confortável para vestir.

Peguei um vestido azul celeste florido com babados lilás e o vesti rapidamente junto com botas de caminhada. Novamente desci as escadas correndo e fui até a entrada do jardim.

Chegando no último degrau da escada que leva ao gramado escorreguei e caí sentada na terra úmida. Realmente, correr não era uma boa ideia. Levantei-me rapidamente sentindo um pouco de dor e segui andando disfarçadamente por entre os canteiros.

Reparei apenas que alguém me observava quando ouvi de longe aquela voz:

"Acho que os degraus estão molhados pela chuva, mas a senhorita já deve ter percebido."

Meu rosto esquentou e um arrepio passou por minha coluna, quando virei em direção à voz, eu o vi. Ele estava parado lá, apoiando o queixo no cabo de uma pá. As mãos cobertas de terra e as roupas sujas com barro e grama.

Completamente sem graça, aproximei-me dele e descaradamente mudei o assunto perguntando se eu poderia ajudá-lo a replantar as flores, já que antigamente essa era a tarefa de minha mãe. Ele concordou.

Durante a manhã enquanto ele preparava o terreno, adubava e afofava, eu cavava os buracos e plantava as flores. Começamos pelas rosas vermelhas, depois passamos para tulipas e então paramos para o almoço. Pedi para que as criadas servissem a comida na mesa externa e chamei todos para almoçar conosco.

Não vejo sentido em almoçar sozinha se posso ter companhia, além de que, é bom ter pessoas diferentes para ouvir. Histórias novas, pensamentos diferentes.

Voltando ao trabalho começamos a regar as plantas, decidi então começar a me divertir. Assim que ele virou as costas para mim, respinguei água gelada em seu pescoço. O rapaz se encolheu e soltou um riso espantado. Virando-se para mim ele começa a rir e joga algumas minhocas em minha direção.

Isso significa que ele já planejava algo contra mim, fiquei feliz em ter agido primeiro. Corri para perto do balde com água enquanto ele secava o pescoço com as mãos. Ele começou a afastar-se andando de costas até que se virou e saiu correndo em direção ao bosque.

Uma onda de curiosidade me levou a correr a seu alcance. Ninguém daria falta, e do mesmo, que diferença faria.

Ele chegou à entrada do bosque alguns segundos antes que eu e se escondeu por entre as árvores. Diminui a velocidade dos passos e comecei a observar com cautela. As sombras entre as árvores sempre me assustaram, é sempre como se alguém me observasse.

Entro e vou até a clareira que leva ao pequeno lago. No centro da clareira encontro-o sentado em um troco caído. Em suas mãos, um simples arranjo de rosas. Ele se levanta sorrindo e me entrega sem jeito.

Surpreendida, pego as flores e as levo ao rosto a fim de sentir o aroma, ele continua me encarando, com a boca semiaberta e então fala sereno:

"Thomas... Thomas Denk."

Ah... Sua voz... Se ele soubesse como me sinto com sua voz... 

O diário de NovakOnde histórias criam vida. Descubra agora