Agosto de 1997

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N/A: Essa fic foi feita com todo o meu carinho. Ela é definitivamente a coisa mais especial que já escrevi. Espero que possam sentir todo o amor que coloquei dentro dela pra vocês. Por favor, a tratem com carinho (votem e comentem). É importante pra mim.

Meu twitter e curious cat:
@fanfunk_


Quando eu o conheci jamais pensei que perderia completamente o meu chão...

Mas também não esperava receber em troca todas as estrelas existentes no céu.

Agosto de 1997


Naquela época o tempo estava um tanto frio. Eu costumava me preocupar com tudo, desde o meu último fio de cabelo até o céu acinzentado que pairava sobre a minha cabeça e parecia que choraria a qualquer instante. Eu não ligava de ficar resfriado, de fato eu não ligava para muita coisa, tão contraditório quanto se podia ser. Eu me preocupava com tudo, mas não ligava para nada. Eu só queria chegar em casa e não dar motivos para encarar a face furiosa de meu pai. Eu pensava em tudo o que me afetaria, cada ato meu. Mas nunca os dos outros.

Porém quando eu estava com ele nada parecia fazer muito sentido, eu acabava me esquecendo completamente da minha maneira egoísta de enxergar o mundo e via o mesmo com os olhos dele.

Eu morava em um bairro pacato, era uma cidade grande, mas poucos ficavam por ali. Era um local tranquilo, as pessoas não se misturavam e cada um cuidava de sua vida. A maioria se conhecia, tinham a bela política da boa vizinhança "falsidade em prol da paz" – era o que minha mãe dizia. Cada morador conhecia cada pedacinho daquele local, inclusive eu.

Menos aquele parque.

Não havia muita gente que ia lá, não que fosse perigoso, como eu havia dito: ninguém metia os pés. Entretanto eu nunca entendi o motivo disso. Quando eu era pequeno minha mãe costumava dizer para que me mantivesse longe, mas parecia que algo sempre me atraía para o local. Quem sabe fossem as pichações engraçadas, ou as rampas grandes e onduladas. O barulho de poucas rodas. Mesmo tão deserto, havia gente lá.

Mas não era gente do bairro.

Minha mãe dizia que lá morava quem não tinha rumo, aqueles que não tinham vida, aqueles que definhavam os próprios dias em meio à preguiça e a tristeza. Confesso que tive muito medo naquela época, eu sentia que lá morava um monstro, ou quem sabe a família de um. Na minha mente viviam criaturas bizonhas, como ogros e humanos maus como "o homem do saco". Eu não tinha idade o suficiente para entender que mamãe falava sobre pessoas largadas no mundo e não sobre monstros em si.

Como os meninos perdidos do Peter Pan.

Mas os meninos perdidos não eram tristes, eles brincavam e corriam o dia inteiro. Se divertiam, riam e pulavam. Viviam machucados e cheios de coragem purgando de suas almas. Eram iluminados e alegres. Os meninos perdidos eram felizes. Então por que eu devia me manter afastado daquele parque?

Com o tempo fui crescendo, tomando novos gostos, conhecendo novas pessoas e dando adeus às velhas. Com o passar dos anos fui recebendo mais "não" ao invés de "sim", fui percebendo que nem todo sonho é real e que tudo o que eu queria na vida parecia tão estritamente proibido que eu sentia medo de chegar perto. Notando que a falsidade parecia ser mais certa que a sinceridade e que se eu quisesse viver, teria de montar um castelo de mentiras e sorrir todos os dias.

E minha mãe foi embora.

Ela não se despediu de mim na época, apenas fugiu em uma madrugada fria e me largou com meu pai. Eu não a culpo, a perdoei há muito tempo. Ela era como a jóia de um anel caro cuja pedra eu perdera e hoje eu já havia desistido de procurar. Coisas valiosas, quando se perdem, se mantêm escondidas para sempre. Triste, eu sei, mas ela merecia uma vida e não seria justo eu tomar isso dela, mesmo sendo novo.

Lost!boi • Jjk + Pjm / jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora