Setembro de 1997

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Setembro de 1997

Dia primeiro de setembro era o meu aniversário e também era em um sábado. Meu pai costumava sair nos finais de semana, menos quando era uma data festiva. Antigamente ele apreciava passar o marco da minha idade comigo, mas quando minha mãe foi embora ele decidiu parar. Aquele dia em específico foi o que decidiu muita coisa na minha vida.

Como quando meu pai avisou que não voltaria pra casa no meu aniversário e voltou apenas na segunda cheirando a cerveja e amendoim estragado. Passei o dia inteiro em frente à TV no canal do Cartoon assistindo desenhos. Parecia uma criança, com a enorme vasilha de Sucrilhos e a sujeira que eu estava fazendo. Não evitei rir quando todos os desenhos que eu usara para apelidar os meninos perdidos passaram um atrás do outro. Primeiro: Meninas Super Poderosas, depois Scooby-Doo, então Coragem, o Cão Covarde e por fim me enterrei em pipoca assistindo a um filme bem estranho sobre ninjas.

Passei o dia inteiro de pijamas e entediado, me enchendo de porcaria. Mas quando eu vi um menino usando um gorro azul foi que a saudade bateu. E bateu forte. Meu coração acelerou e de repente eu me recordei da expressão curiosa do Fuck!boi no dia anterior, como se procurasse por mim. Talvez ele já tivesse me visto antes, era só eu quem não tinha percebido. Ou então foi só uma coincidência. Entretanto eu me senti mal, aquele dia vi apenas ele e parecia que o mesmo estava indo embora.

Não entendi muito bem o sentimento que estava me agonizando, mas foi forte o suficiente para me fazer levantar do sofá e tomar um banho rápido, então me vestir com um casaco grande e uma calça apertada e sair pela rua as onze em ponto da noite. O local era bem iluminado, pelo menos, e de alguma forma eu sentia que aquele meu ato iria ter uma enorme consequência. Mas que não era de todo tão ruim. Eu caminhei vacilante, parando nas grades ao lado do portão aberto. Daquela vez eu queria entrar e queria estar com eles.

Eu não queria estar sozinho de novo.

Entretanto não havia ninguém ali de novo. E eu me apavorei outra vez. Agora sim eles haviam ido embora. Tomando coragem, suguei o máximo de ar que eu podia e caminhei para dentro daquele parque, passando os olhos desesperado pelos cantos. E se houvessem outras pessoas que eu não conheço ali? Engoli em seco quando enfim cheguei perto das escadarias e não vi ninguém debaixo delas, apenas algumas penas minúsculas e umas caixinhas de leite. Meu coração acelerou um pouco, mas dessa vez triste.

Acho que não tenho sorte. Ou quem sabe eu a espante realmente. Eu deveria ter ido ali mais vezes, ter tido mais coragem e ao menos ter dito oi. Ter tentando me aproximar, pelo menos um contato amigável que não fosse sair correndo porque pensei que fossem me roubar. Céus, eles com certeza sabem que eu pensei que eles eram bandidos. Que vergonha! Sempre faço tudo errado.

Tampei meu rosto com as mãos e respirei fundo, pronto para soltar um longo suspiro entristecido. Todavia o mesmo engasgou quando eu senti uma quentura próxima demais e ergui o rosto, virando-me com uma rapidez incrível e batendo meu ombro no peitoral do Fuck!boi.

Eu havia encostado no Fuck!boi, o garoto do gorro azul.

Ele me olhou de forma curiosa, parecendo não muito surpreso em me ver ali. Carregava mais uma caixinha de leite, mas essa estava vazia. Observei-o curvar o corpo e jogá-la no montinho que estava no chão. Meu corpo estava travado, eu não respirava e minhas mãos ainda estavam coladas no meu rosto. Eu fiquei patético e tenho certeza de que ele riu por dentro. Meus olhos ardiam de tão arregalados e eu quase solucei quando ele endireitou a postura e ficou realmente próximo de mim, o bastante pra eu sentir sua respiração bater em meu rosto de leve.

Lost!boi • Jjk + Pjm / jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora