Quarto Ato

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Sem fala
Sem fala
Não fale
Não fale

Não é como se estivesse engasgado
Nem como se estivesse entalado
Muito menos enforcado
Ou talvez, crucificado?

Pode ser como perder as palavras
Perder a linguagem
Perder a vivacidade
Mas quem?
Quem nunca morreu e vagou?
Quem nunca se afogou?
Quem nunca se queimou?

Afogou em palavras
Queimou em palavras
Enforcou em palavras
Palavras não ditas
Palavras sofridas
Palavras doentes
Isso tudo é bem deprimente

Eu queria ser
Eu quero viver
Se eu falar, vou machucar
Não adianta mascarar

Eu devo morrer?
Eu devo viver?
Falar, falar
Quem disse que isso é remédio?
Eu rio, eu lago, eu oceno
Meu choro são palavras não ditas
Palavras não ditas
Que foram esquecidas
Que se afogaram
Em represas

Estou lá
No fundo
No frio
No mundo
Sentindo calafrio
Pacificamente rindo
Fingindo
Talvez progredindo
Progredindo para o meu entenrro

Eu gritei
Falhei
É difícil falar
Ou até mesmo gritar
Quando sente a corda te enforcar
Nem tudo é felicidade, prosperidade
Cantos fúnebres são tocados
Alarmados
Mas ninguém os ouve
Todos tem problemas
Pq me importaria com o vizinho?

Menos um pra lutar
Menos um pra falar
Menos um pra sofrer
Menos um pra viver

Eu odeio as palavras
Elas me revelam
Revelam dor, pavor
É um ato desesperador
Escrever por sentir
E sentir por escrever
Quando o que se sente é maldade
Infidelidade
Mortalidade

Do seu lado existe alguém morto
Morto em palavras que não disse
Rasgado por palavras que guardou em si
Saturado de tudo
Saturado do mundo

CRISESOnde histórias criam vida. Descubra agora