A carruagem balançava demais e acabou me despertando, o estofado era murcho e raso deixando evidente a madeira dura embaixo de mim que sustentava a carruagem.
Leoni tinha me dado um chá sonífero antes de passarmos pelo portal, afirmou que ela mais fácil transportar pessoas quando estavam inconscientes e eu não queria dificultar o nosso retorno então bebi o chá avidamente.
Pelos pulos que o carruagem dava devíamos estar passando por uma estrada de pedra, qual lugares que são ligados por estradas de pedras? Tentei lembrar dos minhas aulas de cartografia entretanto uma mente sem treino não era a melhor ferramenta.
Minha cabeça estava pesada, foi o que constatei ao tentar levantar apenas para desistir segundos depois, senti as pontas dos meus dedos formigarem enquanto eu recobrava meus movimentos, percebi um movimento do outro lado do transporte, deveria ser Leoni.
- Vejo que já está desperta. - comentou ele.
- Apenas de mente, meu corpo ainda está despertando. - ergo meu rosto em direção a janela, estava chovendo. - Estamos indo para Deys?
Houve mais movimento no recinto pois Leoni andava em minha direção, se equilibrando porque ainda estávamos em movimento, ele me ajudou a sentar apropriadamente e depois retornou para seu assento, entrelaçando seus dedos e os repousando em seu colo. Percebi que havia assumido sua postura séria então direcionei toda minha atenção para ele, evitando espiar pela janela.
- Sinto muito, princesa, sei o quanto adorava Deys mas com a guerra a região foi devastada.
Franzi minhas sobrancelhas com a informação.
- Como assim "devastada"?
- Reduzida a cinzas, onde ficava o rio agora é apenas uma cratera vazia. E certamente - ele olhou para o que estava através da janela - Deys não foi a única cidade a virar cinzas.
Lentamente e com esforço, virei minha cabeça em direção a janela, uma névoa amedrontadora aguardava lá fora junto às ruínas do que um dia foi uma vila. Paredes incompletas como se algum gigante as tivesse arrancado, talvez fosse exatamente isso que tinha acontecido.
Tudo muito cinza.
Cinza não era uma cor boa para um reino.
- A guerra destruiu tudo? - questionei tentando manter a minha postura.
- Temo que sim, princesa.
- Pode parar de me chamar assim, Leoni? Estamos vendo o que sobrou do nosso mundo, não são tempos de formalidade e, sim, união. - aquelas palavras saíram de minha boca como se tivessem vida própria, esse tipo de atitude me pegou de surpresa então depois de falar eu abaixei minha cabeça envergonhada.
Leoni mudou para meu assento e passou seus braços a minha volta, afundamos no estofamento.
- É estranho, sabe? Retornar e mal reconhecer o lugar onde cresceu, onde pertence. - admitiu ele. - Não sobrou muita coisa do mundo que conhecíamos, me pergunto se é a mesma coisa com as pessoas.
Entendi o seu questionamento, só porque retornamos não significa que encontramos um final feliz na ponta do arco-íris.
- Será que nossos familiares ainda estão vivos? - soltei, meu corpo estava pesado e minha mente estranhamente calma
- Eu sei que nossos pais não deixariam seus aliados irem para o campo de batalha sem eles. Possuem minha honra para isso.
Balancei a cabeça, concordando. Deixei meu olhar vagar pela janela, agradecendo por ter trazido aquelas sementes do primeiro mundo.
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A ascensão dos condenados
FantasíaO segundo mundo se encontra em um estado pós-guerra, a princesa Marillac mais nova retorna quanto a permissão lhe é dada, a guerra acabou mas o povo está desunido, sua irmã agora luta pelo carinho de seus súditos, seus pais tiveram um destino pior q...